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A Redenção do Ogro romance Capítulo 64

Bernardo Thomson

Ela vira de costas para mim, mas não tenta largar a sua mão. Eu aproveito que ela está me esperando e continuo a segurando e falando ao mesmo tempo.

-Em nome de tudo que vivemos, me explique, por favor…

Ela suspira.

-Fernanda tinha um curso pra fazer, ia me deixar sozinha e eu não queria nenhum dos seus seguranças bisbilhotando minha intimidade. Você não tem mais esse direito, Bernardo! -Ela continua ainda de costas para mim. -O único que não ia contar para você coisas que eu não queria contar seria o Daniel, por causa da rixa que tinham um com o outro. Escolhi Daniel só por causa disso. -Ela se vira pra mim, com muita dor em seus olhos. Aquela dor que eu odeio ver ali. E sou eu o culpado pela dor. -O motivo dele está aqui hoje é que nos reaproximamos. Somos amigos, porra! Ele me faz companhia. Mas eu não tô nem aí se acredita ou não, sabe porque? Porque você não tem nada a ver com a minha vida mais! Eu terminei com você... Ser meu amigo, não te dá o direito de continuar me espionando. E me larga…

Ela tira o braço da minha mão e abraça a si próprio.

-OK!

Eu levanto as mãos a olhando. Ela não está bem.

-Se você não pode viver com as minhas escolhas, ok! Eu não quero ser sua amiga assim... Voltou de viagem e nem me disse. A primeira palavra que você dirigiu a mim quando voltou, foi pra fazer uma acusação injusta, Bernardo. Cresça! Para de ser imaturo! Você se importa a ponto de questionar minhas decisões, mas depois some porque não sabe lidar com seus sentimentos. Então se você não quer que eu seja sua amiga, desapareça de uma vez. Mas não confunda minha cabeça.

Eu fico assustado olhando para ela. Nunca vi Camila assim. E essa dor que está em seus olhos? Eles ficam glaciais e vazios.

Eu causei essa dor, eu não sabia que estava a magoando tanto. Em volta dos olhos está avermelhado e além disso, ela não para de se balançar.

Eu faço a única coisa que sinto vontade de fazer, me levanto da cadeira e a abraço. Ela continua rígida, abraçando a si mesmo.

-Me desculpe! Por tudo... Eu não sabia que estava te magoando…

-Como não sabe? Não confunda a minha cabeça. Se quer minha amizade, porque é isso que eu tenho a te oferecer... Mas se não quer, me deixe em paz!

Ela fala sussurrando.

-Não quero te ver assim Camila... Nunca mais... Isso eu tenho certeza! Você não merece passar por aquele tormento novamente.

-Do que você está falando? - ela se afasta para me olhar.

-Da dor que está nos seus olhos, neste momento. E se as coisas que eu ando fazendo andam te tirando do eixo, é melhor eu me afastar. Eu sei que ainda continuaremos nos esbarrando, porque você faz parte da minha família agora, mas você tem direito de ir em frente. -Ela continua em silêncio. Seus braços parecem estar colados em volta do seu próprio corpo.Eu sinto meu coração doer. Camila não merece isso.Eu disse que eu não era homem para ela, eu disse...Eu me afasto dela e digo.-Me desculpe mais uma vez, isso não vai se repetir. Não precisa me acompanhar, eu sei o caminho.

Viro as costas e saio pelo corredor meio baratinado. Quando chego à loja, vejo Daniel sentado no mesmo lugar em que deixamos ele. Ele me olha sério.

Eu me aproximo e digo.

-Estou deixando o caminho livre para você, mas se eu souber que a magoou, eu te mato.

Ele ri sarcasticamente.

-Camila não é uma mercadoria para você resolver as coisas por ela... Ainda não entendeu isso?

-Exatamente por entender isso, eu estou deixando o caminho livre… E isso que acabei de dizer : foi uma promessa, Daniel. Trabalhou tempo o bastante para mim, pra saber que eu cumpro minhas promessas.

Viro as costas e saio. Ainda ouço ele dizer.

-Sim Senhor!

A minha vontade é voltar e encher a cara dele de porrada. O Bernardo adolescente faria isso, mas o Bernardo de hoje costuma pensar bem antes de fazer qualquer merda.

Eu não sou tão imaturo assim!

Que saudade do Bernardo adolescente!

***********

Camila Coelho

Sinto dificuldade para respirar. Ainda bem que ele foi embora. Eu estava a ponto de ter um ataque de pânico na frente dele.

Vejo Fernanda entrando, porta a dentro, dez segundos depois que ele saiu. Como sei disso? Peguei o hábito de contar toda vez que tenho um ataque de pânico, além disso ainda belisco as minhas mãos no processo. Isso me ajuda a passar por eles sem me desesperar.

Vejo ela me empurrando para a cadeira onde ele estava sentado.

Ela abre a janela e liga o ventilador.

Se ajoelha na minha frente e diz.

-Estou aqui... Conta comigo... 1, 2, 3…

E assim vou indo... Aos poucos vou me acalmando e voltando ao normal. O ar volta a entrar nos meus pulmões novamente e o meu coração desacelera.

Não é culpa do Bernardo! Não é... Ele não tem culpa de eu não saber lidar com as minhas emoções. Elas me causam essa confusão mental.

Eu já tive que lidar com tanta dor quando criança, que causei feridas profundas. Agora qualquer coisinha, me desestabiliza…

Eu acusei Bernardo de não saber lidar com suas emoções, mas eu também não sei lidar com as minhas. Principalmente porque eu não posso usar a dor física para me estabilizar novamente.

-Melhorou?

Eu confirmo com a cabeça.

-Preciso ir falar com Daniel, mas não quero…

-Eu vou... Invento uma desculpa e depois você liga para ele.

-Obrigado Fernanda!

Ela sorri e sai do escritório. Tomo um gole de água e olho para o ventilador de teto.

Agora acabou de verdade.

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