Bernardo Thomson
-Boa tarde Doutor
-Boa tarde Doutor.
Hoje resolvi depois de alguns dias marcar uma sessão de terapia. Eu ando meio arredio em relação a ela. Acho normal… Tem época que eu não tô a fim de me abrir com ninguém.
Mas por causa dessa dor constante no peito, como se tivesse algo pesado ali, e depois de um eletrocardiograma feito por um Arthur muito contrariado, eu resolvi pôr pra fora. Quem sabe ele não me dê uma solução?
Eu faço terapia desde a adolescência, às vezes paro por um tempo e depois retorno. Então o doutor Cesar me acompanha há bastante tempo. Ele está por dentro de tudo que rola comigo, e não fica me pressionando a tomar atitudes sensatas. Ele só me faz refletir… E tem dado certo. Eu sempre marco no meu consultório, porque é mais prático. Se eu tivesse que me deslocar até a ala da saúde mental do hospital, eu não iria.
Me sento no sofá do consultório e ele se senta na minha frente e diz:
-Faz tempo que não temos uma sessão. A última vez foi quando?
-Acho que foi por chamada de vídeo, eu estava na Suíça.
Ele olha suas anotações e diz:
-Isso, você dizia que estava sendo pressionado por seu tio a falar com seu irmão.
-Não diria pressionado, e sim manipulado.
-Entendi...E como vão as coisas desde então.
-Estamos bem... Não somos melhores amigos e nem nos abraçamos e cantamos na chuva, mas estamos bem. Conheci os gêmeos siameses e a minha cunhada de perna fina, está mais sociável comigo. Ele retornou da Irlanda há poucos dias, não tivemos mais contato, mas as coisas estão se encaminhando.
-Então você conversou com ele sobre o passado?
-Uma vez na Suíça.
-Que grande avanço, doutor. E entendeu o ponto de vista dele?
-Sim…
-E ele, entendeu seu ponto de vista?
-Acho que ele já havia me compreendido antes mesmo de voltar ao Brasil. Enfim, Willian não é mais uma ameaça para mim.
-Que notícia ótima! E a ligação com seu pai?
-Continua na mesma.
-Mas vocês voltaram a se falar?
-Eu nunca parei de falar com meu pai. Doutor, na verdade eu não quero falar sobre a minha família genética, hoje eu pedi uma sessão por outro motivo.
Ele anota no caderno.
-Então fale…
-Eu estou sentindo uma dor no peito, sabe? Ela fica constantemente ali... Como se tivesse um peso em cima. Claro que ela não me limita a respirar nem nada... Mas ela continua ali... Eu já fiz exame com Arthur. E ele não achou nada de anormal. Então eu tô achando que tem algo a ver com o meu psicológico.
-Tipo um ataque de pânico?
-Não... Não chega a tanto... É só algo que continua ali.
-O quê aconteceu por esses dias que te fez sentir esse incômodo?
-Não entendi.
-Parece ser angústia o que está sentindo, uma angústia profunda. Então me diz o que aconteceu para se sentir angustiado?
Eu olho para ele e suspiro. Claro que foi Camila que me deixou desse jeito. Com aqueles olhos gelados e vazios. Eu estou preocupado com ela.
E sou orgulhoso o bastante para não perguntar aos meus irmãos se ela está bem. Bom, ninguém me falou nada... Então ela deve está bem, não é?
-Eu tive uma discussão com uma amiga querida. E ela tem alguns traumas emocionais. Talvez seja isso... Preocupação…
-É talvez... Como está Camila?
Ele me pergunta olhando sério.
Será que eu sou tão transparente assim?
-Como sabe que é da Camila que eu estou falando?
-Eu não sabia, até você me confirmar agora. -Ele suspira. -Eu só deduzi... Você já tinha me dito que ela tem problemas com as síndromes da alma.
-Nós discutimos e eu percebi que estava fazendo mal a ela.
-Mas vocês voltaram?
-Não. Mas éramos amigos.
-Porque deixaram de ser?
-Por causa disso. Eu estava fazendo mal a ela.
Ele confirma com a cabeça.
-Imagino que seja por causa de todas as coisas que você vive enumerando. Possessivo, machuca as pessoas, não sabe amar, egoísta, invejoso, não sabe dividir, sarcástico demais...- e ele continua lendo.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Redenção do Ogro
A história desse livro é muito massa e uma Pena que está postado a história toda...