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A Redenção do Ogro romance Capítulo 84

Paulo Niko Sankyo

-Oi... Vim assim que pude.

Entro dentro do escritório do Arthur no hospital.

Cheguei de viagem ontem com Sabrina. Achei que só voltaria ao hospital na segunda, mas Arthur me surpreendeu com um telefonema me pedindo para vir aqui. Sem dar muitas explicações.

Encontro ele sentado numa das poltronas do escritório de cabeça baixa. Está sem o paletó e sem gravata. Com a camisa branca com os punhos enrolados e a calça negra do terno, seus cabelos estão desgrenhados demonstrando que está nervoso. Ele sempre fica descabelado quando está nervoso!

Só de olhar ele, já vejo que o assunto é sério. Será que brigou com Duda?

Depois do casamento eu e Sabrina fizemos uma viagem de quatro dias para o Rio de Janeiro mesmo. Seria uma semana, se Bernardo não tivesse sumido sem dar muitas explicações.

Estamos numa época difícil para viajar, por causa da gravidez dela e por causa da mudança para a casa nova, além do sumiço do Bernardo.

Não dava pra deixar Arthur sozinho, mesmo tio Armando estando por perto para ajudar.

-O quê há de errado? Problemas no paraíso?

-Neste momento eu queria dizer que sim, pra não te dizer o que realmente aconteceu .

Merda! Me sento de frente para ele e falo.

-Manda a bomba. Está tudo bem com o Bê? Ele deu notícia?

-Provavelmente está tudo bem. O que sei é o que você sabe. Uma mensagem todo dia de manhã nos desejando um belo dia de trabalho. Mas quando ele voltar as coisas não estarão muito boas. Então eu preciso que você seja o meu guia hoje.

Que merda é essa!

-O quê está acontecendo, Arthur. Você está me assustando.

Ele vai até a mesa e pega uma pasta e joga no meu colo.

Abro ela e vejo que são exames, precisamente do coração. Mas eu não entendo nada disso…

- Pode me dizer o que tem aqui?-faço uma pausa lendo no nome da Camila neles. - Peraí? São exames da Camila? -Ele confirma...-Ahhh não Arthur... O que... O que... -Prolapso da válvula mitral. As letras dançam à minha vista como se tivessem rindo da minha incompetência. O mesmo problema que a irmã do Arthur morreu. -Camila tem um sopro?-Falo com minha voz sumindo.

E pela cara dele não é um simples sopro.

Merda! Merda! Merda!

**********

-O quê eu faço Paulo?

-Primeiramente você tem que falar para o Sérgio que a conhece.

-Eu fiz isso antes de você chegar e foi um desastre! Ainda bem que meu pai estava aqui e falou com ele depois. Ele ficou muito chateado por eu não ter dito que conhecia a paciente, ou seja, a reunião no consultório dele não vai rolar se ela não quiser.

-Então vamos na casa dela.

-Eu não posso fazer isso Paulo, posso levar um processo. Ele já mandou a secretária vir buscar os exames e a essa hora ele já deve ter ligado para ela avisando que eu sei. Sérgio é ético demais para esconder isso dela.

-Foda-se Arthur. É Camila. Se você não for eu vou... -Começo a sair da sala.

-Paulo…

-Eu vou me intrometer! Eu não vou deixar essa menina passar por isso sozinha e ela ainda vai tomar um esporro quando eu contar pra ela que sei. É incrível! Eu nunca vi duas pessoas tão parecidas no mundo! Ela é igual ao Bernardo se igualar a teimosia.

-Paulo espera... Você é minha razão, lembra? Não é hora de virar um samurai em busca de justiça. Temos que fazer as coisas com calma.

Eu suspiro! Merda! O que essa menina está pensando da vida?

Automaticamente me lembro do dia que ela passou mal e recebi um telefonema do celular de Sabrina. Fernanda dizia que ela tinha desmaiado.

Não... Não pode ser…

-Kuzo! Porque eu não fui…

-O quê foi Paulo?

-Sabrina sabe…

-O quê... -Começo a andar pela sala sem acreditar que Sabrina voltou a esconder as coisas de mim e algo tão sério.

-Como sabe disso?

-Há um tempo atrás Fernanda me ligou do celular de Sabrina pedindo para eu ir ao ateliê ver Camila. Ela tinha desmaiado, logo depois Camila pegou o telefone e disse que eu não precisava ir , porque ela já tinha acordado. Era só uma queda de pressão.

-É você acha que Sabrina sabe?

-Sabe... Ela estava chorando no fundo... E naquele dia ela chegou tão triste em casa. Ficou assim por alguns dias. Eu tinha que ter desconfiado de algo. Eu acreditei na queda de pressão porque Bernardo havia nos dito que isso acontecia com ela.

-Foi... O que não entendo é como ele não descobriu isso no dia que ela passou mal. Um sopro é facilmente detectado por um estetoscópio.

-É usamos estetoscópio Arthur? Com os aparelhos de pressão de hoje em dia que só faltam falar, o estetoscópio foi praticamente aposentado por nossas especialidades, a minha e do Bernardo. Só usamos quando o exame é para exames específicos no tórax. Você não percebe isso porque é cardio. Se fosse assim eu tinha que ter ouvido, Camila faz preventivo comigo. Porra! Com Duda eu sempre uso o estetoscópio, porque não usei com Camila? - continuo a falar sem parar. Eu preciso por tudo pra fora. -Eu sei a resposta... Porque você fica em cima pra saber se eu estou fazendo o exame completo.

Eu começo a andar de um lado para o outro. Isso também é culpa minha. Afinal eu sou o médico que ela mais frequenta.

-Ei... Vai se culpar agora?

-Se tivéssemos feito um exame detalhado como fizemos com Duda quando ela chegou, isso não teria acontecido. Você foi muito cuidadoso com Duda, Arthur. Mas eu e Bernardo nunca nos preocupamos com problemas a mais do que os ginecológicos, por causa disso... por não haver queixas. Principalmente Camila, que não tinha um internato por trás dela. Erramos sim... Se fosse descoberto quando ela não tinha sintomas ainda, o desfecho da história seria outro.

- Não houve queixas Paulo... Nunca houve... Se não há queixas, porque vamos investigar? Ela seria monitorada se fosse descoberto antes, mas só isso. Não é hora da gente ficar se culpando, temos que fazer algo…

-Sim... Temos. Vamos até ela. Precisamos convencer que é importante que você assuma o tratamento dela a partir daqui. Vai dar certo!

Falo para ele.

-Não sei se é uma boa idéia. Não sei se ela vai nos receber.

-Levamos Sabrina, duvido ela não nos receber.

-E Bernardo?

Eu fecho os olhos, aquela mala vai pirar. Porque ele diz que não é apaixonado pela Camila, mas ele é…

Agora tudo faz sentido: a desculpa esfarrapada da Camila de acabar com o contrato. Na verdade ela se afastou porque não podia mais jogar, essa é a verdade.

-Se ela não quiser que contemos, não podemos contar.

-Paulo eu não posso contar se caso ela me aceitar como médico, mas você pode.

-Ao meu ver será antiético da mesma forma. Porque você já me contou, entende? E a doença é dela... Se ela escolher não contar, está no direito dela.

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