Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 30

Virando a esquina, Denise acabou dando de cara com a sua tia Lúcia, que vinha em sua direção.

— O que você estava fazendo dentro do carro do senhor Saulo? — A pergunta foi feita antes mesmo das duas estarem próximas.

— Tia. — Se assustou colocando a mão no peito. — Você estava me espionando?

— Claro que não, eu havia ido na praça ver os preparativos para a festa de amanhã, daí vi o carro parando e você descendo, onde você estava menina?

— Eu estava na capital. — Respondeu calmamente.

— Na capital a essa hora? O que diabos fazia lá e ainda mais com o senhor Saulo.

— Fui jantar com ele.

— E não tinha comida lá em casa? Por que foi comer tão longe?

— O Saulo me convidou. — Explicou.

— O Saulo… — Lúcia repetiu. — Desde quando vocês são tão próximos, Denise?

— Desde o primeiro dia que cheguei aqui. — Respondeu sorridente, sabia que a tia não pegaria em seu pé.

— Menina, não se meta com esse homem, ele não é como nós, nem desse país ele é, além disso, vocês são de dois mundos totalmente diferentes, não vá cair nas conversinhas dele.

— Calma tia, eu não sou nenhuma iludida não, eu sei o que estou fazendo, não se preocupe, tudo bem? E mais uma coisa, não comenta nada com o tio Joaquim por favor.

— Oxe, e por que devo esconder as coisas do seu tio? — A questionou.

— Porque sabemos como ele é chato às vezes, se ele souber disso, vai ficar me enchendo o saco a noite toda.

— Se você está fazendo algo para ficar escondido, está fazendo tudo errado, porque um monte de gente já deve ter te visto com ele, a Carla por exemplo, que mora lá perto de casa, disse que viu ele te deixando lá na porta de casa ontem.

— Oh, povo fofoqueiro esse da rua, hein?

— Sua sorte é que ela falou para mim, porque se tivesse falado com seu tio… — Desdenhou.

— Olha, tia, vamos deixar tudo isso para lá e vamos para casa, amanhã é meu primeiro dia de trabalho, e não quero chegar atrasada.

— Tudo bem, mas depois você terá que me explicar muita coisa, ouviu senhorita Denise. — Deu um leve tapinha testa de Denise, o que a fez cair na risada.

A noite, antes de dormir, Denise recebeu uma mensagem de boa noite de Saulo.

Independente do que estava realmente acontecendo entre os dois, ela gostava, afinal, já era uma mulher da cabeça formada, não seria iludida por ele, mas também não deixaria de viver um romance, por medo do que poderia acontecer futuramente.

[…]

Ainda era bem cedo quando Denise acordou e preparou o café da manhã, antes mesmo dos tios acordarem.

Ao chegar no refeitório, foi recebida por uma senhora que já a esperava. Após receber todas as instruções, Denise começou seu trabalho, auxiliaria na louça e na mesa de distribuição do almoço.

O dia passou voando, e a única hora de pressão, foi quando os peões chegavam, todos com fome, querendo ser servidos logo, mas nada que não pudesse dar conta.

O horário de saída da moça era quatro da tarde. Quando terminou tudo, resolveu sair pelos fundos do refeitório e acabou vendo uma cena um tanto estranha. Liana e Túlio estavam conversando num lugar discreto e pareciam ter uma certa intimidade, depressa, resolveu sair daquele local, torcendo para que nenhum dos dois a visse, mas na sua correria, acabou esbarrando de frente com um homem.

— Me desculpa senhor Caetano, eu não o vi.

Denise quase derrubou o velho Caetano, que estava andando pela calçada, do lado de fora do refeitório.

— Tudo bem, Denise, já está indo para casa? — Perguntou educadamente.

— Sim senhor.

— O que achou do seu primeiro dia de trabalho?

— Gostei muito, prometo que darei o meu melhor, senhor, para agradecer essa oportunidade que está me dando.

— É assim que gosto, pessoas bem dispostas a trabalharem. Filha! — Mudou o assunto. — Por acaso você viu o Túlio por aí?

Denise considerou responder que não, mas lembrou que aquele safado poderia estar desrespeitando a namorada do filho do patrão, atrás do refeitório.

— Acabei de vê-lo agora, ele está atrás do refeitório, e não é querendo fazer fofoca nem nada, mas ele e a namorada do senhor Oliver, estão conversando de um jeito bem próximo.

O velho arqueou uma de suas sobrancelhas, parecendo desconfiado.

— Tudo bem filha, muito obrigado!

Caetano saiu em direção aos fundos do refeitório, ele andava bem devagar e não queria fazer nenhum tipo de barulho, se o que desconfiasse fosse realmente verdade, os olhos de Oliver seriam abertos e ele largaria daquela mulherzinha, e também daria um jeito no safado do Túlio, um homem daquela idade que queria flertar com moças jovens, não merecia trabalhar naquela fazenda.

Caetano viu uma cena que o chocou, Liana acabava de beijar Túlio, que passeava com a mão entre as coxas e bunda da mulher.

— Mas o que é isso aqui mesmo? — O homem gritou indignado.

— Caetano, o que faz aqui? — Túlio perguntou assustado, afastando-se da moça.

— Eu que devo perguntar, o que vocês dois fazem aqui?

— Eu estava conversando sobre as coisas da farmácia, que precisam ser compradas no próximo semestre, senhor. — Liana tentava explicar, mas havia cinismo naquela sem-vergonha.

— Eu a encontrei aqui por coincidência, e acabamos conversando sobre isso.

— Não me façam de idiotas, acham que estou cego? Túlio, você é meu amigo de longas datas e temos quase a mesma idade, acha que é certo mexer com moças da idade dela? E Liana, você nunca me enganou, desde o primeiro dia que meu filho inventou de querer namorar você, eu reconheci o tipo de vigarista que você é, eu conheço interesseiras de longe, só o idiota do meu filho que não quer ver. — Apontava o dedo na cara da mulher. — Mas isso acaba aqui hoje, Túlio você está demitido e você! — Se referiu a Liana. — Trate de sair das minhas terras imediatamente!

Caetano saiu dali indignado, não podia acreditar na total falta de vergonha daqueles dois, não via a hora de encontrar o filho e jogar na cara dele o que tanto havia alertado, desde o primeiro dia que inventou de colocar aquela mulher em casa.

O carro de Caetano Hoff parou de frente a fazenda, e dele, desceu um homem furioso. Entrou na cozinha, encontrando com Lúcia.

— Onde está meu filho Lúcia? — Perguntou alterado.

— O senhor Oliver saiu com o senhor Saulo, foram até a capital resolver alguns assuntos sobre a festa de hoje a noite.

— Festa, festa! — Gritava. — Aquele imbecil só pensa em festa agora, está tão ocupado que não enxerga o que está acima do nariz. — Dizia raivoso. — Vou para meu quarto, quando o Oliver chegar, mande-o vir imediatamente até a mim.

— Sim senhor! — Ela respondeu preocupada.

Caetano subiu as escadas da casa e foi para o quarto, tinha vontade de contar a todos o que estava acontecendo, mas sabia que o primeiro a ter de ouvir a história toda era Oliver, afinal, não queria que o filho se sentisse mal ou humilhado pelas pessoas.

Contaria ao Oliver, e depois deixaria o filho resolver o que quisesse, afinal, ele não perdoaria uma traição daquelas, ou perdoaria?

Passando alguns minutos, a porta do seu quarto foi aberta por Túlio.

— O que faz aqui? — Gritou.

— Caetano, houve um mal-entendido, não foi nada do que está pensando.

— Eu não pensei, eu vi, como pôde fazer isso Túlio, ainda mais com aquela mulher? Eu nunca gostei e nem aprovei o namoro dela com o Oliver, mas você sabe que ele gosta tanto dela, e ele te considera como um segundo pai. Como acha que será a sua reação ao ficar ciente disso?

— Por favor, se acalme! Mandei Lúcia preparar um chá para você, assim conversarmos com calma. — Túlio o ofereceu uma xícara de chá, que estava em suas mãos. — Não queremos magoar o Oliver não é mesmo? Como você disse, ele gosta muito da Liana, e ela gosta dele também.

Mesmo desconfiado, Caetano aceitou o chá, ele estava realmente nervoso. um pouco de chá poderia lhe fazer bem, afinal, Túlio tinha razão, o Oliver ficaria muito magoado.

— Nós só estávamos conversando e ela acabou me contando algo sobre sua vida, eu me solidarizei e dei um abraço nela.

— Não minta para mim. — Deu mais uma golada no chá, bebendo toda a xícara de vez. — Eu vi você passando a mão no corpo dela, de um jeito totalmente desrespeitoso.

— Foi o ângulo com certeza, jamais faria isso.

— Ângulo? Como pode tentar me fazer de trouxa? Olha só. — Se sentou da cama. — Quero que você vá embora imediatamente e leve aquela mulherzinha, não contarei nada ao Oliver sobre isso, mas fique claro que… — O velho parou de falar, sentindo uma pontada no coração.

— O que quer deixar claro? — Túlio perguntou sorrindo.

— Meu peito, ele… — Balbuciava.

Antes de terminar a frase, o homem caiu desmaiado no chão, com a mão peito.

Túlio observou a respiração do homem ficando pesada e escassa. Após contastar que Caetano parou de respirar, abriu a porta do quarto, convidando Liana a entrar.

— Bom trabalho, eu não aguentava mais esse velho tagarelando em meu ouvido.

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