Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 29

Era domingo bem cedo, Noah acabava de dormir outra vez, olhei no relógio e vi que ainda era quatro e meia da manhã. Hoje era dia dos pais, lembrei do presente que havia comprado para Oliver, eu não o entregaria pessoalmente, então colocaria a sacola na maçaneta da porta de seu quarto, eu sei que ele acordava cedo, mas acho que hoje ele ainda não havia acordado, então o fiz. Quando saísse, avistaria a sacola lá, espero que goste de receber uma foto com o filho, para comemorar seu primeiro dia dos pais.

Voltei para o quarto e dormi outra vez, havia pedido a Denise que levasse para mim os lacinhos que foram encomendados, e desse para Poliana, a moça da barraca ao lado da minha, para entregar as clientes quando fossem me procurar, Saulo também havia me pagado os que havia comprado na minha mão, ele daria de presente as meninas da escola de balé que ajudava financeiramente.

Mais tarde, quando fui tomar café, encontrei Oliver na cozinha, ele preparava alguns bolinhos, como sabia que ele nunca respondia meu bom dia, resolvi passar direto sem falar nada e fui passear com o Noah.

O dia estava lindo, o sol radiante, as flores se abriam, os pássaros cantavam como nunca, senti uma paz tão grande, parecia que não tinha nenhum problema no mundo. Na próxima semana iria comprar um notebook para mim, assim, me inscreveria numa faculdade a distância, como não daria para fazer medicina, tentaria fazer pedagogia, continuaria a fazer o que amo, que era cuidar e lidar com crianças.

Minha barriga já roncava, mas não iria para a cozinha enquanto Oliver estivesse por lá, nisso, passeei com Noah por um lado da fazenda que ainda não conhecia, havia um grande lago daquele lado, árvores bem altas que o cercavam e de longe via uma casinha. Quando caminhei para mais perto, notei ser uma cabana e parecia está abandonada há muito tempo.

Resolvi não ficar muito por ali, aquela cabana parecia ser um pouco sombria, havia uma cama velha e um fogão daqueles bem antigos que se acendia com lenha, estantes com livros empoeirados, uma cadeira de madeira quebrada, e vários pedaços de papéis e livros jogados ao chão, como se alguém fizesse uma biblioteca daquele lugar.

Ao voltar para a casa, Oliver não estava mais na cozinha, mas havia deixado alguns bolinhos na mesa, pensei que poderia ser para que ele comesse depois, mas como me lembrei que ele havia comido minha sopa noutro dia, resolvi descontar e comer todos os bolinhos, que para minha surpresa, estavam uma delícia. Comi também dois pães com presunto, e um pacote de bolachas salgadas, estava faminta, e precisava comer o máximo que podia.

Mais tarde, fui para o sofá, liguei a televisão e assistia a um programa engraçado, Noah estava deitado ao meu lado, fazia tempo que não via TV.

Já era perto do horário do almoço quando Oliver apareceu, achei que ele havia saído, mas estava apenas no escritório. Ele foi até a cozinha e não viu seus bolinhos na mesa, me deu uma fuzilada de olhos fatal, mas, fiz que não vi, fingi estar entretida na televisão.

Então ele começou mexer e bater panelas, parecia que ira preparar o almoço, menos mal, torci para ser lá o que fosse fazer, deixasse um pouco a mais para mim, assim não esperaria ele sair para ter que começar a fazer algo para comer depois.

Já estava morrendo de fome outra vez, Oliver acabara de colocar sua comida no prato e sentou-se para comer, o mal-educado que nem ao menos me cumprimentou hoje, também nem ofereceu comida por educação. Ele almoçava virado para a sala, comia e, em simultâneo, parecia ficar me observando, já não estava aguentando, minha barriga roncava tanto, que me levantei para ir comer, mesmo que ele não tivesse feito nada, iria preparar, odiava está no mesmo lugar que ele ao mesmo tempo, mas não tinha jeito. Só que ao me levantar, senti uma tontura muito forte, vi a sala rodando e tudo escurecer em segundos.

[...]

Acordei, e percebi estar deitada numa cama de hospital, olhei para o lado e vi que meu braço estava recebendo soro, uma enfermeira a me ver, veio em minha direção.

— Boa tarde, senhorita, como está se sentindo?

— Onde estou? — Minha dúvida era maior do que minha educação naquele momento.

— Está no pronto-socorro da vila São Caetano, você desmaiou, e o senhor Oliver te trouxe até aqui.

Lembrei-me da sala, Oliver sentado na cozinha, Noah no sofá deitado dormindo e as coisas girando.

— Onde ele está?

— O senhor Oliver foi até a casa dele encontrar seus documentos, ele te trouxe nas pressas, que se esqueceu de trazer, a gente esperou você acordar, mas como demorou, ele mesmo foi procurar por conta própria, precisamos fazer alguns registros antes de transferirmos você para o hospital.

— Transferir. Por quê? Foi apenas um desmaio, eu estou bem!

— Não foi apenas um desmaio, você está muito desnutrida, e precisamos fazer outros exames, já que o médico suspeita que você esteja com uma anemia profunda.

— Por que não faremos os exames aqui? Preciso voltar para casa, tenho que cuidar do Noah, ele é um bebezinho, Oliver não vai saber cuidar dele.

— Não precisa se preocupar com isso. — Oliver apareceu no quarto onde estava. — Pode nos dar um minuto, Solange?

— Sim senhor, com licença.

A enfermeira, que agora sabia o nome, se retirou da sala, nos deixando sozinhos.

— Senhor Oliver, cadê o Noah?

— Chamei Denise para ficar com ele, não se preocupe.

— Olha, foi só um desmaio, eu já estou me sentindo bem.

— Não foi isso que o médico disse. — Falou sério. — Como nosso pronto-socorro é só para casos de emergências, e alguns exames e medicamentos ainda são escassos, ele sugeriu transferir você para o hospital da capital.

— Eu não quero ir, estou bem!

— Você vai, não tem escolhas! Não pode cuidar do meu filho nesse estado, você ficará por lá e tomará as vitaminas necessárias, fará exames minuciosos para descobrir porque você desmaia com tanta frequência.

— Eu só desmaiei uma vez.

— Ah, é? Que eu me lembre, já é a segunda vez que tenho que te carregar no colo, isso em menos de dois meses.

Lembrei-me do dia que desmaiei e bati minha cabeça, acordei na cama, não acredito que tenha sido Oliver a me carregar no colo, que vergonha!

— Bem, eu... — Não sabia o que falar. — Só não havia comido ainda, foi só isso.

— Aurora, vamos deixar claro uma coisa, você irá para a capital, ficará internada lá até todos seus exames ficarem prontos, e depois que estiver bem e o médico te der alta, você volta para casa, tudo bem?

— Mas e o Noah, com quem ele vai ficar?

— A Denise ficará encarregada de cuidar dele.

— E a noite? — Perguntei desesperada.

— A noite ele ficará comigo!

Pronto, agora que eu ficaria mais preocupada ainda.

— Me perdoe, senhor, mas o senhor nunca encostou no menino, nem sabe o que ele precisa, como alimentá-lo e...

— Chega Aurora! — Cortou minha conversa — O Noah é meu filho, e eu sei muito bem o que fazer com ele, não me questione como um pai bom ou mau, devido ao primeiro dia que chegou aqui.

— Eu não queria me referir a isso. — Não queria me referir ao primeiro dia que o vi na casa.

Me referia ao dia a dia, por ele nunca está presente, e nem sabia se ele saberia cuidar de um bebê.

— Só cuida da sua vida, tem uma ambulância te esperando lá fora, e eu trouxe sua bolsa com seus documentos, coloquei suas peças de roupa também, acho que coloquei todas, porque parece que você não tem mais de duas peças. — Zombou.

Resolvi ficar quieta, não teria o que falar naquela situação, já estava ruim, Oliver me deixaria pior.

— Quando tiver alta, você liga, e o Joaquim vai te buscar.

Continuei no meu silêncio e resolvi ignorá-lo. Já que viu que não teria mais conversa, Oliver saiu do quarto, logo a enfermeira chegou com uma cadeira de rodas.

— Vamos Aurora, a ambulância está te esperando.

— Eu não vou nisso, consigo andar.

— Após dar dois passos, me senti tonta outra vez, a enfermeira me amparou nos braços, me ajudando a sentar na cadeira.

— Você está fraca, deve ter descuidado muito do corpo ultimamente, mas logo irá ficar boa, o senhor Oliver mandou te transferir para um ótimo hospital particular, lá será muito bem acompanhada.

Ao chegar do lado de fora, me deitei na maca da ambulância, e antes que o motorista fechasse a porta, Oliver entrou.

— O que faz aqui? — Perguntei assustada.

— Terei que te acompanhar até a capital, como a Denise está com o menino agora na casa da tia, e você não tem nenhum parente próximo, serei o seu responsável. — Falou nervoso.

Eu não acreditava nisso, em que confusão me meti, o que iria fazer agora? O mal-humorado do Oliver devia estar um poço de nervos, e eu por ser menor, precisaria de um acompanhante.

Nesta hora que me bateu um desespero, como era ruim ser sozinha no mundo. Lágrimas vieram em meus olhos, então resolvi deitar de costas, para que Oliver não visse meu rosto e minhas lágrimas.

— Não se preocupa Aurora, isso tudo será descontado do seu salário!

Dizendo esta última frase, Oliver se sentou no banco do acompanhante e o motorista deu partida para a capital, eu só conseguia chorar escondida, e perguntar ao universo o que fiz para sofrer tanto na minha vida.

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