Era manhã de domingo, dia dos pais. Noah acabava de dormir outra vez, olhei no relógio e vi que ainda eram quatro e meia da manhã. Me lembrei do presente que havia comprado para Oliver e não o entregaria pessoalmente, então colocaria a sacola na maçaneta da porta de seu quarto. Sei que ele acordava cedo, mas acho que hoje ele ainda não havia acordado, então o fiz. Quando saísse do quarto, Oliver avistaria a sacola lá, espero que goste de receber uma foto com o filho, para comemorar seu primeiro dia dos pais.
Voltei para o quarto e dormi outra vez. Havia pedido a Denise que levasse para mim os lacinhos encomendados e entregasse para Poliana, a moça da barraca ao lado da minha, para oferecer às clientes quando fossem me procurar. Saulo também havia pago os que havia comprado em minha mão, ele daria de presente às meninas da escola de balé que ajudava financeiramente.
Mais tarde, quando fui tomar café, encontrei Oliver na cozinha, ele preparava alguns bolinhos, como sabia que ele nunca respondia meu bom dia, resolvi passar direto sem falar nada e fui passear com o Noah.
O dia estava lindo, o sol radiante, as flores se abriam, os pássaros cantavam como nunca, senti uma paz tão grande, parecia que não tinha nenhum problema no mundo. Na próxima semana, iria comprar um notebook para mim, assim, me inscreveria numa faculdade à distância. Como não daria para fazer medicina, tentaria fazer pedagogia, continuaria a fazer o que amo, que era cuidar e lidar com crianças.
Minha barriga já roncava, mas não iria para a cozinha enquanto Oliver estivesse por lá, nisso, passeei com Noah por um lado da fazenda que ainda não conhecia. Havia um grande lago daquele lado, árvores bem altas que o cercavam e de longe via uma casinha. Quando caminhei para mais perto, notei ser uma cabana e parecia abandonada há muito tempo.
Resolvi não ficar muito por ali, pois aquela cabana parecia um pouco sombria. Nela havia uma cama velha, um fogão daqueles bem antigos que se acendia com lenha, estantes com livros empoeirados, uma cadeira de madeira quebrada e vários pedaços de papéis e livros jogados ao chão, como se alguém fizesse daquele lugar uma biblioteca.
Ao retornar para casa, Oliver não estava mais na cozinha, mas havia deixado alguns bolinhos na mesa. Pensei que poderia ser para que ele os comesse depois, mas, ao me lembrar de que ele havia comido minha sopa em outro dia, resolvi descontar e comer todos os bolinhos, que, para minha surpresa, estavam deliciosos. Comi também dois pães com presunto e um pacote de bolachas, estava faminta e precisava comer o máximo que podia.
Mais tarde, me sentei no sofá, liguei a televisão e assisti a um programa de comédia. Noah estava deitado ao meu lado, fazia tempo que não via TV.
Já estava perto do horário do almoço quando Oliver apareceu. Achei que ele havia saído, mas estava apenas no escritório. Ele foi até a cozinha e não viu seus bolinhos na mesa, me deu uma fuzilada fatal com os olhos, mas ignorei, fingindo estar entretida na televisão.
Então ele começou a mexer e bater panelas, parecia que iria preparar o almoço. Não sabia o que faria, mas torci que deixasse um pouco a mais para mim, assim não precisaria esperar que ele saísse para ter que começar a fazer algo para mim.
Já estava morrendo de fome outra vez, Oliver estava servindo a sua comida no prato e sentou-se para comer. O mal-educado, que nem ao menos me cumprimentou hoje, também não me ofereceu comida nem por educação. Ele comia virado para a sala, em simultâneo, parecia ficar me observando. Já não estava aguentando, minha barriga roncava tanto, que me levantei para ir comer, mesmo que ele não tivesse feito nada, iria preparar. Odiava estar no mesmo lugar que ele, mas não havia outra opção. Quando me levantei, senti uma tontura muito forte. Vi a sala rodando e tudo escurecer em segundos.
[…]
Quando acordei, percebi estar deitada numa cama de hospital, olhei para o lado e vi que meu braço estava recebendo soro. A enfermeira notou que acordei, então veio em minha direção.
— Boa tarde, senhorita, como está se sentindo?
— Onde estou? — Minha dúvida era maior do que minha educação naquele momento.
— Está no pronto-socorro da vila São Caetano, você desmaiou e o senhor Oliver te trouxe até aqui.
Lembrei-me da sala, Oliver sentado na cozinha, Noah no sofá deitado dormindo e as coisas girando.
— Onde ele está?
— O senhor Oliver foi até a casa dele encontrar seus documentos, ele te trouxe às pressas, que se esqueceu de trazer. Esperamos você acordar, mas, como demorou, ele mesmo foi procurar por conta própria. Precisamos fazer alguns registros antes de transferirmos você para o hospital.
— Por que irão me transferir? Foi apenas um desmaio, eu estou bem!
— Não foi apenas um desmaio, você está muito desnutrida e precisamos fazer outros exames, já que o médico suspeita que você esteja com uma anemia profunda.
— Por que não faremos os exames aqui? Preciso voltar para casa. Tenho que cuidar do Noah, ele é um bebezinho, Oliver não vai saber cuidar dele.
— Não precisa se preocupar com isso. — Oliver apareceu no quarto onde estava. — Pode nos dar um minuto, Solange?
— Sim, com licença.
A enfermeira se retirou da sala, nos deixando sozinhos.
— Senhor Oliver, cadê o Noah?
— Chamei Denise para ficar com ele, não se preocupe.
— Olha, foi só um desmaio, eu já estou me sentindo bem.
— Não foi isso que o médico me contou. — Disse sério. — Como nosso pronto-socorro é apenas para atendimentos de emergência, ele sugeriu transferir você para o hospital da capital.
— Só cuida da sua vida. — Ordena, nervoso. — Há uma ambulância te esperando lá fora e eu trouxe sua bolsa com seus documentos e algumas peças de roupa também, acho que coloquei todas, porque parece que você não tem mais de duas peças. — Zombou.
Resolvi ficar quieta, não teria o que falar naquela situação, já estava ruim, Oliver me deixaria pior.
— Quando tiver alta, você liga e o Joaquim vai te buscar.
Continuei no meu silêncio e resolvi ignorá-lo. Notando que não teria mais conversa, Oliver saiu do quarto. Logo a enfermeira chegou com uma cadeira de rodas.
— Vamos, Aurora, a ambulância está te esperando.
— Eu não vou nisso, consigo andar. — Após dar dois passos, me senti tonta outra vez. A enfermeira me amparou nos braços e me ajudou a sentar na cadeira.
— Você está fraca, deve ter descuidado muito do corpo ultimamente, mas logo irá ficar boa. O senhor Oliver mandou te transferir para um ótimo hospital particular, lá será muito bem acompanhada.
Ao chegar do lado de fora, me deitei na maca da ambulância e, antes que o motorista fechasse a porta, Oliver entrou.
— O que faz aqui? — Perguntei assustada.
— Terei que te acompanhar até a capital, como a Denise está na casa da tia com o Noah e você não tem nenhum parente próximo, serei o seu responsável. — Falou nervoso.
Eu não acreditava nisso, em que confusão me meti? O que iria fazer agora? O mal-humorado do Oliver devia estar um poço de nervos, e eu, por ser menor, precisaria de um acompanhante.
Nesta hora, bateu um desespero ao me lembrar de como era ruim ser sozinha no mundo. Lágrimas vieram em meus olhos, então resolvi deitar de lado, para que Oliver não visse meu rosto e minhas lágrimas.
— Não se preocupe, Aurora, isso tudo será descontado do seu salário.
Dizendo a última frase, Oliver se sentou no banco do acompanhante e o motorista deu partida para a capital. Eu só conseguia chorar escondida, e perguntar ao universo o que fiz para sofrer tanto na minha vida.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Caminho Traçado - Uma babá na fazenda
Os capítulos 73. 74 estão faltando ai ñ da para compreender e ficamos perdidas...
Alguém tem esse livro em PDF ?...
Do capítulo 70 em diante não se entende mais nada, pulou a história lá pra frente… um fiasco de edição!!!...
A partir do capítulo 10, vira uma bagunça, duplicaram a numeração dos capítulos, para entender é preciso ler apenas os lançados em outubro de 2023, capítulo 37 está faltando, a rolagem automática não funciona, então fica bem difícil a leitura! Uma revisão antes de publicar não faria mal viu!!!...
Nossa tudo em pe nem cabeça, tufo misturado, não acaba estórias e mistura com outro, meu Deus...
Lindo demais...