Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 47

Uma semana após a visita de Alice naquela casa, Denise não parava de olhar para aquele desenho.

Seu coração estava pesaroso, como se fosse morrer a qualquer momento, com um sentimento que não conseguia explicar, sabia que não poderia ficar daquele jeito, mas não conseguia fazer nada para mudar os sentimentos e pensamentos em sua mente.

Olhando para a vista que tinha de sua janela, decidiu tomar um banho bem demorado. Colocou uma roupa fresca, calçou um chinelo e foi andar pela casa.

Tereza, a funcionária que Saulo havia contratado para cuidar da casa, ainda não havia chegado, então, por ser cedo demais, ela ainda estava sozinha, já que Saulo havia retornado a sua vida normal, tendo que sair mais no dia de hoje.

Ela saiu no quintal de casa e observava o lugar, em sua mente, se perguntava se conseguiria voltar a ter uma vida normal novamente.

Caminhou pelo vasto terreno e logo se viu na estrada que levava para uma das grandes plantações, lembrou-se que amava aquele caminho, foi ali que conheceu Saulo e mesmo que se negasse, sabia que o amava mais-que-tudo no mundo.

Se lembrou do rio e do pé de Carambola, que nessa época, devia estar carregado de frutas. Vendo que não havia muito o que fazer, resolveu caminhar até lá, a luz do sol a deixava com mais energia, e vendo a linda estrada e o grande canavial, chegou até a esquecer um pouco de seus problemas, mas ao olhar para o céu, que naquele momento não estava com nenhuma nuvem aparente, se lembrou do desenho de Alice.

— Será que meu bebê realmente virou um anjo e está no céu?

Seus devaneios foram interrompidos ao ver um carro estacionado na beira da estrada. Era uma Van branca. Ela se aproximou e viu uma senhora com um copo na mão, ela conversava com alguém, que estava abaixado perto do carro.

— Não acredito que o pneu veio furar logo aqui, achei que não precisaria fazer o almoço hoje, já que estávamos tão perto da vila. Estava sonhando com um belo frango frito no almoço.

— A troca de pneu não demora, se esqueceu? Não se preocupe, irei te pagar um belo almoço hoje. — A pessoa que provavelmente trocava o pneu respondeu.

Denise observava os dois, até ser notada.

— Oh! Olhe Chico, não estamos sozinhos. — A mulher que estava com o copo na mão viu Denise.

O homem que trocava o pneu se levantou, percebendo que Denise os olhava como se fossem bichos de outro mundo.

— Bom dia, moça. — O homem saudou.

— Bom dia! — Ela respondeu tímida.

— Sou Francisco, e esse é a minha esposa Dalva, tivemos um pequeno imprevisto, você mora aqui por perto?

— Sim… — Estava meio desconfiada.

O casal era de meia-idade. O homem vestia uma roupa social e a mulher vestia um vestido longo.

— Estamos indo para a vila São Caetano, fica aqui perto, não é mesmo? — A mulher perguntou vendo que Denise estava desconfiada.

— Sim, vocês estão bem perto.

— Você está indo para a sua casa? — Perguntou sorridente.

— Estou caminhando para esticar as pernas um pouco.

— Isso é bom. — A mulher respondeu — Como é seu nome?

— Denise. — Não devia dizer, mas acabou respondendo.

— Denise, que lindo nome. — A mulher elogiou, mas via a desconfiança nos olhos de Denise. — Somos missionários, andamos pelo país pregando a palavra de Deus, essa aqui é a nossa casa.

Denise logo notou que a van que eles estavam era, na verdade, um pequeno motor home.

— Estamos indo a Vila São Caetano, para evangelizar nesta semana.

— Ah, que bom para vocês. — disse com desdém.

— Ficamos sabendo que para fazer qualquer coisa na vila precisamos da autorização do dono do lugar, você poderia nos dizer quem é e como podemos encontrá-lo?

— Sim, é o Oliver Caetano, na estrada que vocês irão seguir em frente, vão encontrar um trevo, se virarem a direita, irão parar na vila, se seguirem direto, irão parar na casa do Oliver.

— E se virarmos para a esquerda, onde iremos chegar?

— Se virarem a esquerda, irão parar no lago, onde fica a minha casa.

— Obrigada pela informação filha, não gostamos de chegar nos lugares sem conhecermos direito, andamos por todo o país, mas por esta região ainda é tudo novo para nós.

— Vocês irão gostar do lugar, as pessoas da vila são ótimos ouvintes.

Denise percebeu que o casal era um pessoal muito simples, e acabou gostando deles e de como conversavam, eles pareciam ser pessoas de bom coração.

— Se o dono nos autorizar, iremos ficar uma semana aqui, eu prego a palavra e o Chico canta e toca violão.

Chico entrou na van e logo saiu com dois pequenos banquinhos, abriu os dois e deu um para a esposa se sentar, o outro ele ofereceu para Denise, ela não entendeu o porquê, mas simplesmente aceitou. Era bom conversar com quem não conhecia a sua história e não a olhava com o olhar de pena.

— Você acredita em Deus, filha? — Dalva perguntou.

O que fez Denise parar para refletir, ela era uma pessoa de muita fé antigamente, mas depois do que passou, não conseguia acreditar se Deus realmente existia, já que a deixou passar por tudo o que passou.

— Se existe um Deus, ele não deve se importar muito comigo. — Respondeu.

— Oh, como não querida, Ele com certeza se importa com você, tanto que entregou o próprio filho para morrer por você.

— Se a morte do filho dele bastasse, não precisava ter tirado o meu de mim. — A resposta de Denise saiu com certa mágoa.

Chico se sentou na porta da van que estava aberta, enquanto Dalva carinhosamente a olhava em silêncio por alguns minutos.

— Uma grande tristeza pesa sob seus ombros, mas quero que saiba, filha, Deus nunca te abandonou, ele esteve com você em todos os momentos, bons e ruins. Às vezes ele deixa que algumas coisas ruins aconteçam, para podermos confiar mais nele e entender seus propósitos, há coisas que só conseguimos entender, depois de todo o processo.

— Por que ele permite que as coisas ruins aconteçam com os inocentes?

— Porque ele é justo, ele deixa o sol nascer para todos, ele deixa a chuva cair para todos, o problema, é que às vezes estamos num lugar onde não está precisando de chuva ou vice-versa.

— Você não tem noção do que estou passando, é muito fácil falar de Deus, quando tudo está bem, eu perdi um filho da maneira mais bruta que poderia acontecer, eu tinha um bebê que estava crescendo saudável dentro de mim e um monstro veio e o tirou de mim.

Dalva e Chico se entreolharam, mas não disseram nada.

— Sinto muito por sua perda, querida, perder um filho não é nada fácil. Se você me permitir, eu posso orar por você?

Denise se sentia quebrada, ela sabia que não era certo descontar suas frustrações nos outros, mas não estava conseguindo controlar suas emoções, era difícil continuar a vida como se nada estivesse acontecendo.

— Não acredito que isso mudará alguma coisa.

— Isso foi um sim? — Dalva sorriu.

A moça ficou em silêncio. Então Dalva se aproximou dela e lhe tocou o ombro. Fechando os olhos, começou.

— Querido Deus, aqui está a sua filha Denise, eu não a conheço e nem sei pelo que passou, mas o senhor sabe e conhece todo seu interior, nesse momento, te peço que envie o teu espirito santo para consolar seu coração e curar toda a ferida, que a está impedindo de olhar para frente. Traz conforto a ela e a sua família, e que a alegria volte a reinar em sua vida. Que toda a lágrima que derramou de tristeza seja transformada em alegria, que seus propósitos, Senhor, sejam realizados em sua vida e que ela consiga se curar de tudo que lhe fez e faz mal, é isso que te peço, em nome de Jesus, amém!

A mulher abriu os olhos e continuou ao lado de Denise, e o homem que havia se levantado para orar também, se sentou novamente ao lado da porta.

— Minha filha, o Senhor me mostrou uma nuvem negra muito pesada em seus olhos, então sei que passou por uma grande tempestade recentemente, mas coloque algo em seu coração e lembre-se. Após uma negra e assustadora tempestade, sempre vem um lindo arco-iris. — Dito isso, ela colocou a mão na barriga de Denise. — Vá para casa filha, se reconcilie com seu marido, Deus tem um presente lindo em mãos esperando para dar para vocês.

A mente de Denise paralisou-se por um momento e logo se levantou de onde estava, se afastando um pouco do casal.

— Vocês não deviam sair por aí de falando o que não sabem!

Sentindo-se nervosa, começou a caminhar novamente.

— Jamais falaria nada por minha própria vontade, confie, e verá o milagre do médico dos médicos em sua vida.

Dalva disse, enquanto Denise se afastava dali.

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