Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 50

O casal de meia-idade foi embora, e naquela casa, Saulo e Denise ficaram refletindo sobre todos os acontecimentos, por mais que fosse dolorido o que passaram, não havia mais nada que pudessem fazer.

Antes da noite chegar, Denise pegou todos os pertences de seu armário e levou para o quarto de Saulo, estava disposta a se mudar para lá e tentar seguir a vida.

No outro dia, bem cedo, após Saulo ir para o trabalho, ela se arrumou para andar, mas dessa vez, iria até a casa de Aurora.

Havia se passado bastante tempo que não a via, e sua última conversa com ela não havia sido nada amistosa.

Chegando na mansão, logo avistou Aurora caminhando com Noah no jardim, que já andava sem nenhuma dificuldade, ao vê-la, Aurora a encarou surpresa por alguns segundos, mas logo um sorriso brotou de seus olhos.

— Denise, que bom vê-la por aqui. — Dizia, enquanto Noah corria para abraçá-la.

Seu coração se apertou, mesmo tendo tratado a amiga tão mal, Aurora ainda continuava doce. As lágrimas caíram de seu rosto, ela pegou Noah no colo e foi em direção a Aurora, abraçando os dois ao mesmo tempo.

— Eu sinto muito Aurora, sinto muito mesmo. — Pedia perdão, enquanto se embriagava com suas lágrimas.

— Ei, não fica assim. — Aurora enxugava as lágrimas da amiga. — Eu sei que não está sendo nada fácil para você, eu sempre vou te entender.

— Eu não devia ter dito aquilo para você. Eu sinto muito mesmo.

— Olha para mim, Dê. — Tocou o rosto da amiga — Eu nunca levei aquilo que disse para o coração, por favor, não se sinta mal por isso.

Enquanto Noah brincava, puxando um carrinho de brinquedo pelo jardim, Aurora e Denise se sentaram no chão, próximo a uma árvore, que fazia uma grande sombra. Observavam o menininho correr e gargalhar sozinho.

— Como estão as coisas por aqui? — Denise perguntou, ainda tímida.

— Estão indo bem, todo dia neste mesmo horário brinco sozinha com o Noah, os meninos ficam com as babás lá em cima. O Oliver acabou de sair para levar a Alice na aula de balé, pensa numa criança, que está empolgada em querer ficar perto de meninas. Ela disse que nesta casa tem homem demais.

— Imagino o quão movimentada está a sua casa, e realmente fico feliz por vocês. Depois de tudo que passaram, você e o Oliver merecem esta felicidade toda.

— Eu sei que errei em ter fugido da fazenda e não ter contatado ninguém, mas eu estava com muito medo na época e pensava que ninguém precisava ficar se envolvendo em meus assuntos, porque pensava que ninguém se importava comigo realmente. Hoje eu sei o quanto existem pessoas que querem o meu bem e me amam, quero que você saiba disso também, mesmo que não tenhamos o mesmo sangue, eu te considero como uma irmã e me preocupo com você.

— Estou tentando colocar isso em minha cabeça, mas ainda é bem difícil. — Denise assumiu.

— Você também merece ser feliz, Dê, eu sei que há um lindo futuro aguardando por você e o Saulo.

— Eu queria tanto ter filhos. — Disse triste. — Esperei tanto pelo momento certo, e olha só o que acabou acontecendo.

— Você sabe que há outros meios para conseguir isso, não é mesmo? Há muitas crianças que esperam por um lar, uma família.

— Eu sei disso, mas… — Ponderou — Me acharia egoísta em dizer que queria gerar meu próprio bebê? — Perguntou triste.

— Claro que não! — Aurora respondeu.

Ela analisava a expressão da amiga e media as palavras para não magoá-la, já que sabia que isso era um assunto muito delicado.

— Não é egoismo de sua parte, ainda mais sabendo que você nasceu podendo ter. Por mais que seja doloroso para uma mulher que deseja ter filhos, acho que é mais fácil aceitar isso quando já se nasce com um problema. O que aconteceu com você foi um crime terrível, é normal se sentir assim. Você não pode se sentir culpada por querer gerar em seu ventre um bebê, afinal, adotar uma criança só por querer ter o status de mãe, não faria bem nem a você, nem a qualquer criança que seja. E isso não significa que você não se importa com a adoção ou as crianças, porque sei que você o Saulo e o Oliver, tem auxiliado nos projetos do orfanato da capital há muitos anos.

— Sabe, eu tenho medo de dizer isso a alguém e ser chamada de egoísta. Porque quem ver de fora essa situação, acha fácil dizer, adota uma criança que tudo se resolve. Mas não é assim Aurora, eu sei a sensação que foi ter um serzinho dentro de mim, eu sei o que senti quando ele foi tirado bruscamente daqui de dentro, eu o vi, estava se formando tão perfeitamente, eu queria viver isso de novo, por mais que sinta que seja impossível.

— Para Deus nada é impossível. — Aurora disse, com a maior naturalidade possível.

Denise parou um pouco para olhar o menininho que brincava, que agora a chamava de titia. Noah vinha com uma florzinha branca na mão, a oferecendo. Ela pegou agradecendo e deu um beijo em sua bochecha.

— Sabe, eu tenho ouvido tanto falar de Deus por esses dias, não que eu seja uma pessoa religiosa, mas… Parece que ele tem me enviado alguns sinais, só que sou tão medrosa para acreditar nestas coisas, com medo de acabar me frustrando, que finjo não perceber.

— Se ele tem mandado sinais, não ignore, talvez o que falte para algo se realizar em sua vida, seja apenas a fé. — Aurora disse abraçando a amiga e fazendo carinho em suas costas. — Tem um casal de missionários na vila, você já foi lá os ver? Eu e o Oliver conversamos muito com eles ontem, me senti muito bem.

— Eu os conheci noutro dia. Eles são um casal muito educados e até o Saulo que não gosta destas coisas parou para ouvi-los.

— Às vezes as palavras de conforto vem de quem a gente menos espera. — Falou olhando para o céu. — Mudando de assunto, você quer almoçar aqui hoje? — Aurora a convidou.

— Não sei se deveria. Já que não avisei ninguém que vinha para cá.

— Eu aprendi a usar um negócio chamado celular. — Brincou — Vai por mim, depois desta invenção, minha vida mudou e metade dos meus problemas foram resolvidos.

Aurora se levantou e estendeu o braço para a amiga se levantar também, logo após, também chamou o Noah. Os três entraram na casa grande, parecia que as coisas gradualmente iam entrando em seu lugar.

[…]

Quatro dias após o almoço do casal em sua casa, Saulo estava saindo de seu escritório na vila quando se lembrou de ter que passar no supermercado. Adentrou no pequeno estabelecimento que tinha próximo a seu escritório, e comprou algumas guloseimas e besteiras, coisas que Denise gostava de comer. Saindo de lá, acabou se encontrando Francisco no caminho, o mesmo senhor que havia almoçado em sua casa há alguns dias.

— Senhor Chico, que bom vê-lo por aqui. — O saudou amistoso.

Já que ele Denise estavam indo todas as noites assistir as suas pregações.

— Olá Saulo, como está você?

— Estou bem, graças a Deus. — Levantou as mãos para cima.

Achava que por conversar com o religioso, devia sempre citar o nome de Deus.

— Que bom, espero vê-los hoje a noite, é o nosso último dia por aqui.

— Sério? Os dias passaram tão rápido, que não pude dar a vocês a atenção que realmente mereciam, serei eternamente grato pelo que fizeram por minha noiva, depois da chegada de vocês aqui, Denise está voltando a ser a mulher alegre que era antes.

— Nós só somos os instrumentos, o dono do milagre se chama Jesus.

— Aleluia. — Saulo outra vez levantou a mão para o céu. Quem via aquela cena, podia até rir da simplicidade dele. — Em breve, pedirei Denise em casamento outra vez, gostaria muito que vocês estivessem por aqui, quem sabe até poderiam fazer a nossa cerimônia.

— Teremos muito gosto em voltar, é só nos avisar com antecedência.

— Para onde irão agora? — Perguntou.

— A Dalva quer ir visitar uma irmã dela que mora no interior de Minas, então faremos a obra por lá mesmo.

— Há quanto tempo vocês vivem assim, viajando pelo país? — Perguntou curioso.

— Bem. Fará uns vinte anos, e só planejo parar quando Deus retirar um de nós dessa terra.

— Por que resolveram fazer este tipo de trabalho?

— É uma história triste. Morávamos no estado do Pará e congregávamos numa pequena igreja por lá, eu e a Dalva tínhamos nossos filhos, Samuel e Lucas, eles tinham um ano de diferença na idade. As coisas para nós era bem precária, mas um dia, ganhamos uma casa para morar, presente de um irmão da igreja, ficamos muito felizes, já que não precisaríamos mais pagar aluguel. Nos fundos da casa que nos mudamos, havia uma construção com uma piscina inacabada, nós fechamos o lugar para que os meninos não pudessem ir para aquele lado. Porém um dia, por um descuido, eu estava no trabalho e a Dalva estava preparando o almoço, enquanto os meninos estavam jogando bola no quintal. Um deles deixou a bola cair do outro lado da construção, e ela acabou caindo dentro da piscina, que estava cheia devido à época da chuva, eles foram para lá, tentar pegar a bola, um acabou caindo na água e começou a se afogar, o outro deve ter pulado por instinto e tentou salvar o irmão, o que acabou no afogamento dos dois, os meninos tinham 9 e 10 anos. A Dalva se sentiu culpada por muito tempo e ela não queria mais ficar na casa. Acabamos ganhando uma indenização e então decidi comprar a van. Tínhamos duas opções, reclamar ou adorar a Deus, então ficamos com a melhor parte. Hoje vamos pelo Brasil, falando de Deus e ajudando pessoas como você e sua noiva, a recomeçarem, depois de um grande baque da vida.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Caminho Traçado - Uma babá na fazenda