Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 49

O dia do julgamento havia chegado, eu estava bem melhor, e os roxos já estavam mais claros em minha pele, mas não haviam desaparecido ainda, estava feliz que Oliver e Saulo cuidaram tanto desse caso, que fez o julgamento acontecer tão rápido.

— Que tal uma maquiagem no rosto?

— Nem pensar, Denise, quero que todos vejam o que aquele sem escrúpulos fez comigo.

— Sua mãe te procurou de novo?

— Não, não tive mais notícias dela.

— Você está tensa?

— Um pouco, mas estou confiante que Sandro pegue uma boa pena, estou apenas preocupada com o destino de minha irmã.

— Se sua mãe não quiser a responsabilidade de cuidar dela, você pede a guarda.

— Como eu queria isso Denise, mas aonde vou criá-la, se moro no meu emprego e cuido de Noah em tempo integral.

— O senhor Oliver não faria questão disso, tenho absoluta certeza.

— Já chega das suas ideias absurdas, Denise, eu já causei problemas demais, não colocaria mais um para a conta do Oliver.

— Não estou te dando ideias de problemas, estou dando a solução!

Denise saiu rindo do quarto, achando que o que ela falara tinha total sentido, mas as coisas eram mais difíceis do que parecia, eu não podia depender do Oliver para resolver todos os meus problemas.

— Está pronta?

A voz grossa e imponente de Oliver ecoou pelo quatro, ele estava impecavelmente perfeito num terno preto, eu não havia visto-o pelos restos dos últimos dias, ele andava numa correria entre reuniões, sobre a feira agropecuária e também estava com Saulo ajudando-o a colher depoimentos para o julgamento.

— Estou sim!

Se aproximou de mim, ficando tão perto que me envolveu com aquele perfume delicioso.

— Está nervosa?

— Um pouco.

— Não se preocupa, vou está lá com você, e você não precisará se preocupar com nada, apenas contar a verdade.

— Farei isso. — Oliver passou a mão pelos meus cabelos, que estavam soltos.

— Você fica linda com o cabelo assim, me faz lembrar aquele dia que estava correndo na praia. — Fiquei toda sem graça e não sabia o que responder. — Quando o julgamento acabar, quero te levar num lugar legal para comer, que tal?

— Você está sendo tão bom para mim, que te negar algo seria ingratidão.

A feição de Oliver logo mudou, ele tirou a mão dos meus cabelos e se afastou.

— Com licença, o Saulo está esperando vocês no carro.

Denise apareceu com Noah no colo, Oliver deu um beijo nele e saiu do quarto, não falou mais nada.

— Aconteceu alguma coisa? — Denise perguntou.

— Não por quê?

— Ele saiu daqui sério.

— Deve ser apenas a ocasião, eu vou indo também Denise.

— Por favor, me mantenha informada.

— Pode deixar.

Entrei no carro com os dois homens a minha frente, Saulo ia me auxiliando no que deveria falar e sobre não dar muita brecha para o advogado de defesa do Sandro, que viria para cima de mim com acusações absurdas, eu particularmente, acho que estuprador ter advogado é o cúmulo de todos os absurdos.

Chegamos ao tribunal, e logo vi minha mãe, ela me olhava desacreditada, como se eu fosse a filha ingrata que ela tanto falava, Alice não estava com ela, o que me preocupou em saber onde minha irmã estava, logo tentei falar com ela, mas Oliver me chamou para entrarmos e ficarmos numa sala reservada, esperando ser chamados para depor, estávamos nós dois sozinhos, e ele estava com a mesma cara séria de antes, no carro não havia me dirigido sequer uma palavra, resolvi me sentar perto dele e perguntar.

— Está tudo bem?

Minha voz era calma, mas estava nervosa perto dele, por mais que a gente já houvesse se beijado, nunca houve uma conversa íntima entre nós, nem nada do tipo, tudo era profissional.

— Está, por quê? — Respondeu ríspido como sempre foi.

— Sinto que sua expressão mudou lá no quarto, quando estávamos conversando.

— Ah, é porque percebi algo.

— O que houve? — Antes de terminar a conversa, um policial entrou e me chamou.

Entrei para dar a minha versão diante o juiz, foram mais de uma hora falando e respondendo perguntas, Saulo tinha razão sobre o advogado de defesa do Sandro, ele insinuou várias vezes que eu dava em cima do meu padrasto, e que eu era a culpada por toda a situação, me senti desvalorizada por um momento, em saber que sempre colocam a culpa na mulher, mesmo não tendo culpa de nada, mas Saulo sempre protestava contra as invertidas, e logo após depor, foi a vez de Oliver.

O julgamento teve uma pausa de uma hora, logo depois teve mais três longas horas, no final, antes da sentença, nós fomos convidados a entrar.

— Após analisarmos todo o processo e ouvirmos ambas as partes, com a decisão unânime do júri, declaro o réu culpado de todas as acusações, e o condeno a 75 anos de prisão, em regime fechado, por ser um risco para a sociedade, essa decisão é irrevogável.

Um sentimento de alívio se apossou de mim, Sandro nunca mais tentaria algo contra mim ou contra qualquer outra mulher, as meninas que ele havia molestado antes, passarão por apoios psicológicos e receberão uma indenização, que será paga com a venda de todos seus imóveis, divididos entre elas e uma pensão para minha irmã até completar 18 anos.

Após sairmos da sala, Oliver conversava com Saulo e alguns homens, eu estava sentada e vi minha mãe de longe, por mais que havia acontecido tudo aquilo, ainda sentia pena dela, agora ela estava sozinha com minha irmã, sem emprego, sem casa, seria muito difícil para ela recomeçar, então um sentimento se apossou de mim, eu queria ajudá-la a se encontrar de novo, então fui em direção a ela para conversarmos.

— Mãe! — Chamei sua atenção, seu semblante era pálido e perdido.

— Aurora. — Respondeu assustada. — Viu o que você fez?

— Mãe, ele que fez que isso acontecesse, o único culpado é ele por seguir este caminho.

— O que será de mim agora? Você não entende, que nem casa para morar eu tenho?

— Mãe, deixa eu te ajudar, eu posso tentar arrumar uma casa para você e Alice, também posso tentar te arrumar um emprego na fazenda.

— Você acha que vou ficar esfregando chão, ou trabalhando no sol para alguém? Acha mesmo que quero voltar para a vida miserável que eu tinha, igual quando seu pai morreu?

— Poderei ver com meu patrão, um serviço para a senhora.

— Patrão? Que patrão? Você não trabalha Aurora, você é prostituta de homem rico!

Dizem que, quando você estiver disposto a ajudar alguém, deverá estar preparado para receber a ingratidão.

Ouvir as palavras saírem da boca da minha mãe me doeram, então percebi, que tudo que eu podia e sonhava fazer por ela, já havia sido feito, nunca mais deixaria ela me machucar com suas palavras.

— Mãe, a partir de hoje, eu corto meu vínculo com a senhora, tudo que eu sempre quis, foi te dar uma vida digna, mas a senhora escolheu outro lado para viver, não permitirei que me insulte ou calunie outra vez, adeus mãe!

Virei as costas e sai em direção a porta do fórum, estava triste, não pela minha mãe, mas agora por saber que eu não veria mais a minha irmãzinha, infelizmente o destino estava sendo cruel comigo, desde o dia que meu pai foi embora.

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