Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 54

Era manhã de sexta-feira, quando o casal saía do hotel rumo a penitenciaria feminina de Londres. Saulo não estava nada animado com a visita à mãe, de certa forma, estava magoado, não tinha intenção nenhuma de rever àquela mulher novamente, queria seguir a vida no Brasil e riscar Londres do mapa. Mesmo que esta fosse a sua cidade natal e tivesse lindas memórias de infância. Sentia que nunca mais teria o mesmo sentimento por aquele lugar, não importava quanto tempo passasse.

Após preencher toda a papelada, Denise foi a primeira a entrar para visitar Betty, ela pediu cinco minutos a sós com a mulher, antes de Saulo entrar também.

Ela sentou-se numa cadeira, onde do outro lado, esperava Betty chegar e se sentar também, o que as separava era apenas uma bancada de vidro, onde se comunicariam por meio de um interfone, não teriam nenhum contato físico.

Não demorou muito, Betty apareceu acompanhada de uma policial feminina, ela estava algemada.

— Você? — Ao ver quem a visitava, a mulher se surpreendeu, havia jurado que era o filho que estaria ali.

— Olá Betty. — Saudou a mulher com cinismo.

Era doloroso ver aquele rosto outra vez, ainda mais percebendo que quando a viu, Betty fez a mesma cara de desprezo que fazia com antes.

— O que faz aqui? — Perguntou de modo ríspido.

— Estou trabalhando como voluntária, visitando velhos criminosos. — Caçoou.

Não iria deixar aquela mulher lhe humilhar.

— Oras, sua… — Parou antes de continuar. — O que veio fazer aqui? Por acaso gostou do penteado que te fiz e veio aparar as pontas. — Zombou. — Ou não se sente ainda satisfeita e quer que eu raspe de uma vez sua cabeça. — A mulher provocava, demonstrando que não havia mudado nem um pouco.

— Vejo que não mudou nada, continua a mesma de sempre. Desse jeito, não sairá tão cedo deste lugar, que triste fim será o seu, hein?

— Não finja ser forte em minha frente, eu sei que você ficou um bom tempo no hospital, e sei também que perdeu o bastardo que carregava na barriga. — Sorria. — Também sei que não pode mais ter filhos. Minha consciência está tranquila, independente de onde estou hoje, consegui o que queria, o sonho do Saulo é ser pai e mesmo que ainda esteja com você por pena, logo ele se cansará de tudo e te dará um chute na bunda.

Mesmo naquela prisão, sofrendo e comendo o pão que o diabo amassou, Betty não se mostrava abatida na frente da pessoa que ela odiava, por mais que estivesse se corroendo por dentro, ao ver a aparência de Denise bem plena, sabia que poderia destabilizá-la a qualquer momento.

Realmente as palavras de Betty eram como uma faca afiada e Denise sentia que seu coração iria sair pela boca a qualquer momento, mesmo assim, continuou com o seu semblante calmo, era para isso que ela estava ali, para mostrar àquela mulher que não estava derrotada.

— Como está desatualizada. — Denise sorriu, seria forte, não iria nunca mais deixar aquela mulher colocá-la para baixo. — Quando voltarmos para o Brasil, iremos nos casar numa cerimônia linda e luxuosa, meu sogrinho que irá pagar por tudo, já que ele está muito feliz e mão aberta. Dizem que pessoas quando ficam apaixonadas ficam bobas.

Não era verdade que o sogro iria pagar pelo casamento, mas ela queria chegar num ponto onde doesse em Betty. Já que ela era uma mulher narcisista, só haveria uma coisa que poderia lhe destabilizar.

— O que está insinuando? — Perguntou nervosa.

— Ué, não é você quem fica sabendo de todas as coisas? Pobre coitada. — Gargalhou. — Vou deixar você descobrir por si mesma, assim fica mais emocionante, apesar de querer muito ver a sua cara de desgosto quando souber quem será a nova senhora Taylor.

— Do que você está falando? — Perguntava indignada.

— Olhando para você agora, trancada numa jaula como se fosse um animal selvagem, até sinto uma peninha de você… — Parou um pouco. — Agora você é ElisaBetty de quê mesmo? Além de uma delinquente senhora de meia-idade?

— Como ousa? — Se não fosse pela algema, Betty já havia tentado quebrar aquele vidro que as separava.

— Que vergonha, uma mulher na sua idade estar atrás das grades, sempre soube que você era uma sem classe, baixa e ignorante. Você não é nada sem o dinheiro e sobrenome de seu marido, ops, quero dizer, ex marido. Estou tão feliz que está pagando por todo o mal que um dia me causou.

Betty estava sem palavras, não conseguia entender o que Denise queria insinuar com aquelas palavras. Seria mesmo verdade que George Taylor já havia arrumado outra mulher? Por isso que o marido havia entrado com o pedido de divórcio, e não entrava mais em contato com ela? Era por isso que não havia conseguido um advogado influente para tirá-la da prisão? Todas as dúvidas pairavam por sua mente naquele momento, queria sair dali e procurar por todas as respostas que a estavam agora lhe deixando quase louca. Nenhuma pessoa a respeitava mais, até mesmo Arya, que sempre disse que a considerava tanto como uma tia, nunca veio visitá-la, e todas as tentativas de se comunicar com ela, eram em vão. Todos viraram as costas, todos! Em sua cabeça, só havia raiva por ser rejeitada por todos, e sentia mais ódio, em saber que George estava com outra mulher.

— Bem. — Betty saiu dos devaneios com a voz de Denise. — Eu já vou indo, esse não é o tipo de lugar que uma mulher como eu deva frequentar. Mas antes, quero que saiba de uma coisa Betty. Não sinto nada por você, nem ódio, nem mágoa, nada! Eu te perdoo pelo que me fez, e espero do fundo do meu coração, que um dia se arrependa. E quer saber de uma coisa? — Denise se levantou, ainda com o interfone nas mãos. — Você não teve sucesso em nenhum dos seus feitos. — Falou acariciando a barriga.

Betty entendeu a insinuação de Denise ao pôr a mão na barriga. Então ficou de boca aberta, não podia acreditar, estava se sentindo mal, uma dor enorme veio em seu peito, sua frustração estava escancarada em sua cara. Antes de fazer qualquer movimento ou tentar voltar para seu estado normal, Saulo entrou pela porta, onde Denise havia saído há pouco tempo.

Os olhos da mulher se enchiam de lágrimas, ela sabia que o filho seria sua última esperança de poder sair daquele lugar.

— Saulo, filho querido! — Tocou a mão no vidro. — Estou sofrendo tanto aqui, por favor, tenha compaixão de mim, eu sou sua mãe, me tira desse lugar, eu te imploro por tudo que é mais sagrado. — Chorava como um bebê.

— Olá Betty. — Saulo cumprimentou a mulher sem nenhuma emoção, estava alheio a todo sentimentalismo que ela expressava. — Vejo que está colhendo as consequências das suas atitudes passadas.

— Por favor, filho, me tire daqui, deixe pelo menos que eu cumpra prisão domiciliar, esse lugar é um inferno e sou maltratada diariamente, as pessoas me menosprezam e se acham melhores do que eu.

— Por que eu seria tão bonzinho com você? Você pensou em mim ou na Denise antes de fazer o que fez? Se está num lugar como esse hoje, é por consequência dos seus atos. Tudo poderia ser diferente, poderia estar em casa com seu marido, celebrando e esperando a chegada de seu futuro neto, feliz por ver a família crescer.

— Estou arrependida filho. — Chorava amargamente. — Muito arrependida do que fiz, me perdoa, me tira daqui.

— Não consigo sentir arrependimento em sua voz, muito menos em seu olhar.

— Não me julgue pelo resto da vida, aprendi a lição, eu sou uma mulher de idade, não posso ficar aqui, não é bom para a minha saúde, eu não tenho forças para sobreviver num lugar desses.

— Mas teve forças para arrastar e empurrar a Denise do alto da escada, não foi? O quão seletiva você é?

A mulher parou de chorar imediatamente, via que se humilhar na frente do filho não a levaria a nada.

— Me diz — Se recompôs. — Por que seu pai não veio com você, ele está melhor? — Queria ouvir da boca do filho, que as insinuações de Denise em relação ao homem arrumar outra mulher, era apenas especulação para lhe deixar nervosa.

— Ah, ele está ótimo, nem parece que passou por mal bocados, o clima do Brasil lhe caiu bem, e a Cora está cuidando dele como ninguém.

— A Cora? — A mulher parou um pouco para assimilar. Não podia ser verdade. — O que está acontecendo entre ele e a Cora, me diz? — Perguntou nervosa, todo seu semblante de mulher arrependida havia sumido num piscar de olhos.

— Eles estão dando uns amassos por aí. — Respondeu sem se importar com a reação da mãe.

— Como? — Arregalou os olhos.

— Papai e Cora com certeza são o novo casal do momento. — Riu zombando.

— Como pode achar graça numa coisa dessas? — Perguntava indignada.

— O que queria que sentisse? Ele já entrou com o pedido de divórcio, além do mais, o papai é jovem, está com toda a sua vitalidade, é normal que queira ter alguém, e eu gosto da Cora, ela, sim, agiu como uma mãe e uma sogra para a minha morena.

— Você vai se arrepender de dizer uma coisa dessas, Saulo. — Havia ódio na voz da mulher.

— Quem precisa se arrepender aqui é você. Eu não sinto pena de te ver aqui, porque foi você mesma que procurou por isso. Quer saber de uma cosia? Eu te perdoo por tudo que fez conosco mãe, mas espero que aprenda com seus erros. E para falar verdade, não estou te perdoando por você merecer, e sim porque eu e a morena merecemos ser felizes, sem um fantasma como você nos assombrando.

— Eu só fiz tudo isso, pois estava pensando no seu bem.

— Não, você fez tudo isso porque você é uma pessoa de coração ruim, se pensasse em mim, teria respeitado a minha escolha e meus sentimentos. Colha agora os frutos que plantou com tanta arrogância, pois você terá muitos anos ainda pela frente nesse lugar. Espero que cuide de sua saúde, porque quando sair daqui irá precisar muito dela. Pois uma pessoa na sua idade ter que recomeçar a vida sozinha, não será nada fácil.

— Que tipo de vida terei daqui para frente? — Perguntou desesperançosa.

Ao perceber que passaria anos naquele lugar e quando saísse dali, teria uma vida completamente diferente da que tinha.

— Não sei, não é mais um problema meu. Adeus Elisabetty.

Saulo se levantou e saiu dali, deixando a mulher sozinha com seus pensamentos.

O fato de perdoar uma pessoa, não significa que a quer de volta em sua vida, o perdão, na verdade, serve para tirar uma sobrecarga de cima de nós mesmo. Se Betty um dia se arrependesse do que fez, sentiria no perdão dos dois, uma chance de recomeçar a vida, sem o sentimento da culpa sendo arrastado por ela.

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