Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 63

Já faziam três meses que estava trabalhando no consultório. Rafaela sempre que podia, aparecia para conversarmos, ficamos amigas e começamos a sair nos fins de semana.

O doutor Tácio sempre tomava café na copa, e não voltou a ser ignorante ou falar algo que me deixasse desconcertada, na verdade, ele era bem-educado e sempre perguntava como eu estava.

Acabei alugando uma pequena casa, na verdade, eram 3 cômodos que ficavam aos fundos da casa de uma mulher, tia de Rafaela, que se chamava Telma.

Ela era uma mulher de 40 e poucos anos, vivia com o marido, que era motorista de ônibus, tinha uma filha de 13 anos, inteligente que só, sempre ficava conversando comigo a noite.

Todos da família da Rafa, eram pessoas boas, eu tive muita sorte de encontrá-los de primeira. Eu não havia comprado muitos móveis, pois estava poupando o máximo de dinheiro possível, comprei apenas uma cama de solteiro, um guarda-roupa, um fogão bem simples e uma pequena geladeira usada, a casa onde morava tinha uma sala que era cozinha ao mesmo tempo, em baixo da pia havia um armário, o que me adiantou muito, eu não tinha sofá nem mesa, apenas duas cadeiras que Telma gentilmente me deu.

Estava tentando seguir minha vida, às vezes, eu tinha pesadelos, outrora dormia bem, decidi não procurar o Oliver, por mais que me doesse a alma, eu havia feito a minha escolha, pelo bem dele e do Noah, eu ficaria longe. Espero que nesse tempo, ele tenha conseguido lidar com Liana e tenha mandado-a embora.

Me sentia mal também, por não falar com Denise, ela era uma pessoa maravilhosa, uma verdadeira amiga que encontrei, não deveria tê-la deixado sem notícias, mas o problema, era que eu sabia que tudo que eu falasse a ela, seria dito ao Saulo, que com certeza faria as coisas chegarem aos ouvidos do Oliver, o que podia comprometê-lo, caso ele ainda não tivesse lidado com a víbora.

Na quinta a noite, havia acabado de limpar a casa, o que não era nada trabalhoso por ser bem pequena, escutei baterem no portão.

— Quem é? — Perguntei preocupada, já que não estava esperando a visita de ninguém.

— Sou eu, o Tácio. — A voz masculina respondeu.

Me surpreendi ao ouvir sua voz, como ele sabia onde eu morava? Abri o portão, e me deparei com o doutor Tácio segurando um vaso de flores.

— Oi, boa noite doutor.

— Pelo amor de Deus, Aurora, estamos fora do ambiente de trabalho, sem formalidades, já disse.

— Tudo bem, mas, que surpresa você aqui. — Disse sem jeito, eu não ficava à vontade perto dele de modo algum.

— Rafaela me disse que você havia se mudado, não quis vir antes para não te causar transtornos, mas queria te visitar, toma. — Estendeu as flores para mim. — É um presente para sua casa nova.

— Obrigada. — Fiquei muito sem jeito, mas peguei. — Quer entrar?

— Claro.

Que droga, eu havia perguntado por educação, era para ele ter dito não.

Passamos pelo corredor, e ele entrou em casa, já havia dito que minha casa era simples e tal, ofereci a cadeira para ele se sentar.

— Quer tomar alguma coisa? Tenho água, e suco, mas avisando logo que é de pacotinho.

Aposto que ele não aceitaria.

— Eu aceito o suco.

Mais uma vez, ele respondia o que eu não esperava, tirei a água da geladeira e fiz o suco, logo o servi, com uns pãezinhos de queijo que eu havia comprado na vinda para casa.

— Não estão quentes, já faz umas horinhas que comprei, mas estão bem gostosos.

— Sem problemas, Aurora, eu sei que ainda está montando sua casa, não precisa ficar sem jeito.

— Bem, lentamente quero ir comprando algumas coisas, Rafa me disse que tem uma conhecida que está vendendo um micro-ondas, fiquei de ir dá uma olhada no sábado.

— Espero que dê certo para você Aurora, você é bem jovem, com um futuro brilhante pela frente. Me diz, onde estão os seus pais?

— Meu pai faleceu há alguns anos e minha mãe — Pensei no que poderia falar sobre ela — Bem, minha mãe vive a vida dela com a minha irmã mais nova.

— Por que saiu de casa tão nova?

Ah meu pai, de novo as mesmas interrogações que Oliver fez, parecia até um dejavú.

Seria mesmo necessário revelar minha vida para todas as pessoas para quem iria trabalhar? Eu podia mentir ou inventar algo, mas não era necessário, eu não devia ter vergonha de algo que não foi a minha culpa, então contei a história do meu padrasto para o Tácio.

— Sinto muito Aurora, se soubesse não teria perguntado, deve ter sido muito doloroso para você passar por isso sozinha.

— Eu não passei sozinha, o Oliver me ajudou.

— O Oliver Caetano?

— Sim... Bem — acho que o jeito que falei o nome de Oliver soou de uma forma carinhosa. — O Oliver foi muito bom comigo todo esse tempo que estive lá, ele que cuidou de tudo, se hoje o Sandro está preso, é graças a todo esforço que fez por mim.

— Vejo que vocês eram bem próximos.

— Como assim? — Perguntei sem jeito.

— Amigos, vocês além de serem patrão e funcionária eram amigos.

— Ah, sim, claro. — Fiquei um pouco desconcertada. — Éramos bons amigos.

— Quero que sejamos assim Aurora, quero ter com você, a mesma relação que tinha com o Oliver.

Era melhor parar essa conversa, ela estava ficando estranha, eu sei que ele quis dizer em relação à amizade, mas eu sabia que entre o Oliver e eu existia muito mais que isso.

[...]

Era sexta-feira e eu já estava na copa, colocando alguns biscoitos no pote, Rafaela chegou animada, era a hora do café dela.

— Bom dia Aurora.

— Bom dia Rafa.

— Olha o que eu trouxe para nós. — Retirou uma pequena caixa da sacola.

— O que é isso?

— São trufas recheadas, cada uma tem um recheio diferente, e uma delas tem licor dentro, vamos comer, quem achar a de licor, terá que pagar a conta hoje a noite. — Falou rindo.

— Não é certo, você já deve saber qual é. — Blefei.

— Juro que não sei, se quiser, pode misturar todas outra vez.

Misturei as trufas na caixa e peguei a primeira, que era recheio de amêndoas.

— Agora é a sua vez.

Rafa pegou uma trufa e pôs na boca.

— Beijinho. — Riu — Vai, pega outra, estou louca para comer hoje a noite a suas custas.

— Você não vai ter esse privilégio queridinha. — Peguei mais uma e mordi, só senti o líquido amargo na boca. — Ah que droga!

— Quero comer no D'egust — Riu de mim.

Mas antes de protestar, senti meu estômago revirando, saí da copa correndo e indo direto para o banheiro, foi o tempo exato para que chegasse ao vaso sanitário, e deixasse tudo no meu estômago sair pela boca, eu sempre fui fraca para bebidas, mas nunca havia vomitado assim.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Caminho Traçado - Uma babá na fazenda