Stefanos
A sala de estratégia ainda exalava tensão quando ergui a mão, encerrando oficialmente a reunião.
Todos os presentes começaram a se dispersar, cada um com suas ordens claras: proteger, reforçar, recrutar, preparar. A guerra tinha sido declarada, mesmo sem um confronto direto, sabíamos que os primeiros movimentos já estavam sendo planejados por quem estava do outro lado.
"Rylan," chamei, antes que ele cruzasse a porta.
Ele parou de imediato, olhos atentos, postura ereta como sempre. Meu braço direito não precisava de muitas palavras para entender quando a conversa precisava ser privada.
"Fique, preciso de mais uma coisa."
Caminhamos até o salão lateral. Fechei a porta e esperei que o silêncio se instalasse entre nós antes de falar. Não precisava de ninguém ouvindo essa parte.
"Você sabe que eles vão testar nossas defesas primeiro. Procurar pontos vulneráveis, tentar infiltrar rastreadores, levante aliados dentro das fronteiras e infiltrados nas alcateias vizinhas."
"Concordo. E vão usar aliados políticos antes de soldados," Rylan disse, os olhos já focados no raciocínio tático. "Se conseguirem nos desacreditar diante do Conselho, desestabilizam sua autoridade. Principalmente agora que você está publicamente em oposição ao Supremo."
Assenti, os dedos tamborilando levemente na lateral da mesa.
"Eles ainda acham que podem me vencer com leis. Com votos. Não perceberam que essa guerra não é sobre palavras e sim sobre ser um lobo de verdade. Território. Instinto."
Rylan se aproximou do mapa ainda aberto, estudando as marcações.
"Devemos reforçar o Norte e o Leste. São áreas onde os limites com as alcateias neutras são mais frágeis. Se o Supremo quiser entrar, não vai arriscar confronto direto. Vai tentar se infiltrar por onde parecer mais 'aceitável'." Ele apontou com precisão para duas rotas vulneráveis.
"Concordo. Mas não quero alarde. A população precisa sentir segurança, não caos. Reforce as patrulhas discretamente. E troque os chefes dos postos por homens de confiança. Sem avisar os anteriores."
Rylan arqueou uma sobrancelha. "Está esperando traição interna?"
"Estou esperando esperteza," rosnei. "Tem muito lobo que finge neutralidade enquanto vende informações por migalhas de poder."
"Quer que eu mande vigias secretos aos líderes de clã?"
"Não. Ainda não. Mas mantenha seus olhos atentos. Um erro, Rylan. Só um, e eu mesmo trato do traidor."
Ele assentiu, como sempre, com firmeza.
"Mais alguma coisa?"
"Sim." Cruzei os braços. "Quando eles vierem... quero que pareça que fomos pegos de surpresa. Mas, por dentro, cada lobo meu vai estar pronto. Entendido?"
"Entendido, Alfa."
A confiança entre nós era sólida. E na guerra, isso era ouro.
"Vou subir. Nuria está me esperando."
Rylan assentiu de novo. Mas antes que eu me afastasse, ele falou:
"Ela te faz bem."
Parei por um segundo. O lobo em mim rosnou em aprovação.
"Ela me faz inteiro."
E então deixei a sala.
Atravessei os corredores da mansão com os passos pesados, o sangue ainda fervendo das ordens que acabara de dar. A Boreal estava em guerra. Cada fronteira, cada abrigo, cada lobo sob meu comando sabia o que estava por vir.
Mas o meu lobo... ele só pensava nela.
Quando me aproximei do quarto, senti. Não só seu cheiro ... doce, marcante, impossível de ignorar, mas também algo mais… sutil.
Preocupação.
Dor contida.
Meu peito se apertou antes mesmo de girar a maçaneta.
Ela estava sentada na poltrona próxima à janela, com as pernas cruzadas, o vestido branco ainda sobre o corpo, agora amarrotado pelo peso da realidade que voltava a nos cercar. As mãos tremiam levemente, segurando um papel dobrado. O cabelo caía sobre os ombros, a pele ainda marcada pelos nossos votos. Mas os olhos… estavam distantes. Assustados.
"Ruína…" chamei, entrando devagar.
Ela ergueu os olhos. E ali estava. O medo. O receio. A tempestade que ela tentava conter só por me ver.
"Ele mandou isso..." sussurrou, estendendo o papel com os dedos trêmulos. "O conselheiro deixou com Jenna… antes da cerimônia. Disse que era de Solon. Ela só me entregou agora."
Tomei a carta das mãos dela, e meu maxilar travou no mesmo instante. O cheiro dele estava ali. A arrogância impregnada no papel. As palavras escritas com aquela maldita caligrafia rebuscada, tentando mascarar a podridão que sempre carregou na alma.
“Você pode achar que venceu, Nuria. Mas o que há entre vocês não passa de ilusão.
"Você não está mais sozinha. Não está mais vulnerável. Eu estou aqui. Com você. Por você. E ele? Ele só rosna alto porque está acuado. Porque perdeu. Porque viu com os próprios olhos que não tem como mexer mais com você."
Ela respirou contra meu peito, mas a tensão ainda ali. Então deslizei os dedos por seus cabelos, beijei o topo da cabeça e sussurrei:
"Promete que nunca mais vai dar espaço pra esse lixo. Que vai lembrar do que selamos, do que somos. De mim."
"Eu prometo…" murmurou, a voz baixa, mas firme.
"Boa menina." Sorri de lado e a puxei para o colo, fazendo-a soltar um riso fraco, mesmo entre lágrimas contidas.
"Agora chega de Solon, de Supremo ou de qualquer maldito que ache que tem direito sobre você." Segurei o queixo dela e ergui seu rosto até nossos olhares se encontrarem. "Vamos falar de coisas importantes."
"Tipo o quê?" ela perguntou, com aquele sorrisinho tentando voltar.
"Tipo o fato de que você ficou tão linda de branco que talvez eu te obrigue a usar esse vestido todo dia. Ou que a sua mordida ainda está ardendo no meu peito e eu estou adorando isso. Ou que a gente não come nada desde ontem, e se você desmaiar, eu vou ter que carregar você pela mansão como uma princesa dramática."
Ela riu de verdade agora. Os ombros relaxaram. O olhar clareou. Era isso que ela precisava. Um instante longe do medo.
"Eu não desmaio por pouca coisa, senhor Alfa. Deveria pensar em outras possibilidades."
"Uma guerreira então?" sua mão pousou em meu rosto e seus dedos correram por minha barba por fazer.
"Uma sobrevivente..." o sussurro de suas palavras diziam mais do que qualquer coisa. Sua boca desceu sobre a minha, delicada e deliciosa, e o beijo terno parecia acalmar nossos corações ansiosos.
Por dentro, meu lobo rugia. A carta ainda queimava em minha mente. Mas ali, naquele momento, ela precisava do homem. Do Alfa calmo. Do companheiro que faria qualquer coisa por ela.
E era isso que eu seria. Pelo tempo que ela precisasse.
Porque o caos…
Eu deixaria para depois.
Mas Solon?
Solon assinou sua sentença.
Com tinta, arrogância…
e sangue.

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