Nuria
A cozinha da mansão estava uma bagunça organizada, cheia de aromas, risadas abafadas e passos rápidos cruzando o piso polido. Panelas borbulhavam, assadeiras iam e vinham, e Teodora soltava ordens com a naturalidade de quem já fazia aquilo há séculos.
No meio de tudo isso… Jenna.
Sentada no canto da bancada com uma faca de legumes em uma mão e uma maçã na outra (que claramente era só desculpa pra ficar ali), ela falava mais do que cortava. Mas eu a conhecia o suficiente pra saber quando algo estava diferente.
Tinha um brilho nos olhos dela. Um sorriso escondido nos cantos da boca.
E o mais estranho?
Ela suspirava.
Não era cansaço.
Nem fome.
Era distração. Ou melhor… era alguém.
"Quer me contar alguma coisa?" perguntei, arqueando as sobrancelhas.
"Tipo o quê?" ela disse, puxando uma cesta de batatas para perto como se aquilo fosse o assunto mais urgente da manhã.
"Tipo esse olhar sonhador aí. Vai me dizer que estava pensando nas batatas?"
Ela corou. Corou.
"Você tá vendo coisa onde não tem," rebateu rápido, descascando as batatas com tanta pressa que parecia estar fugindo da própria consciência.
Peguei uma faca e fui até a bancada para ajudá-la.
"Nuria, não!" Ela me parou no ato. "Você sabe que o Stefanos não quer você se metendo nos afazeres da casa."
Revirei os olhos. "Eu sei lidar com o meu lobo, Jenna. Agora para de enrolar. Tem alguma coisa acontecendo… e não é com batatas." Me aproximei mais. "Isso tem nome?"
Ela desviou o olhar. Tensa. Mas depois soltou, quase num sussurro:
"Talvez... um sobrenome. E um maxilar."
Arregalei os olhos, contendo o riso, enquanto minha mente buscava quem, entre todos os lobos da Boreal, poderia ter deixado Jenna assim. Mas só um nome fez sentido.
"Você tá falando do Rylan?"
"Shhh!" Ela olhou em volta, como se as paredes tivessem ouvidos. "Não é nada. Ele só… salvou a sua vida e ficou meio... interessante desde então."
"Interessante?" provoquei. "O homem parece esculpido em pedra e você chama de interessante?"
"Tá vendo? É por isso que eu não te conto nada!" Ela me recriminou, rindo, mas o rubor não saía do rosto.
"Mas ele te falou alguma coisa?" eu estava tão curiosa.
Ela negou com a cabeça, e olhou em volta e mudou de assunto.
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