Stefanos
A louça ainda estava sobre a mesa quando senti o primeiro arrepio.
Nuria estava prestes a falar, os lábios entreabertos, os olhos fixos nos meus, pronta para questionar o que eu e Rylan havíamos sentido. Mas as palavras morreram na garganta dela no mesmo instante em que a sirene rompeu o silêncio da mansão.
O som cortou o ar como uma lâmina.
Longo. Estridente. Urgente.
A mesa vibrou com o impacto do alerta.
Levantei no mesmo segundo, a cadeira arrastando com violência contra o chão. Rylan já estava de pé, os olhos escurecidos e atentos, refletindo a mesma certeza que queimava sob minha pele.
Ataque.
“Stefanos...?” Nuria sussurrou, a voz trêmula, os dedos ainda apertando o guardanapo no colo.
Me virei para ela. O rosto estava pálido, a respiração curta. Mas ela sabia. Mesmo sem que eu dissesse nada, ela sentia.
“Para o abrigo.” Minha voz saiu firme, grave, irrefutável.
“Mas eu posso...”
“Não.” Cruzei a sala em dois passos, segurando seu rosto entre as mãos. “Você vai com Teodora e os criados. Agora. Leve Jenna com você. E não saia de lá por nada. Me espere.”
Ela hesitou. Os olhos ardiam com desafio… e medo.
“É o que vocês sentiram antes, não é?” sussurrou, com a voz quase sumindo.
Assenti, colando minha testa à dela, como se isso pudesse nos manter conectados por mais um segundo. “Estamos sob ataque, Ruína. Lobos estrangeiros. Provavelmente aliados de Solon.”
O corpo dela tremeu.
“Isso não pode estar acontecendo de novo… Eu posso ajudar, Stef...”
Interrompi o protesto com um beijo firme, rápido. E me afastei, olhando fundo em seus olhos.
“Você não precisa me proteger agora, Nuria. Precisa proteger os nossos. Os civis. Os filhotes. As mulheres mais velhas. Eles vão olhar pra você como referência. Você consegue fazer isso por eles?”
Minha mão desceu pelo contorno de seu rosto, e um carinho sutil escapou da dureza da situação.
“Vá agora. Ajude Teodora a coordenar tudo. Você é a Luna deles.”
Ela assentiu, com relutância. Os olhos disseram o que a boca não conseguiu: que queria ficar, que queria lutar...
E quando ela saiu às pressas, com Jenna logo atrás, meu lobo uivou em protesto dentro do peito.
Queria acompanhá-la.
Queria ter certeza de que ela chegaria bem ao abrigo.
Mas não podia.
Porque alguém ousou cruzar a minha fronteira.
E agora... eu ia mostrar o preço desse erro.
Rylan rosnou baixinho ao meu lado. “Quer ir por cima ou direto pela trilha norte?”
“Direto.” O calor da transformação já queimava sob minha pele. “Quero que eles saibam que eu vou recepcioná-los.”
Minhas roupas se rasgaram conforme meu corpo assumia a forma Lycan. Ossos estalando, músculos expandindo, pelagem brotando com violência, minha fúria tomando forma real.
Rylan seguiu o mesmo caminho. Dois Lycans. Dois líderes.
E então saímos as pressas da casa, saltando os degraus da entrada da mansão.
O céu estava nublado. O ar, pesado. E lá na linha da floresta, um cheiro diferente nos aguardava.
Lobos que não pertenciam à Boreal.
Aliados de Solon.
Mercenários famintos por sangue.
E eles ousaram entrar no meu território.
O ar ficou mais denso.
As folhas da floresta começaram a se agitar, como se até a natureza tivesse sentido o erro que acabavam de cometer.
Então, o chão tremeu.
A Boreal já estava acordada. Os sons de guerra se espalhavam pelo território. Meus soldados surgiam das sombras. Os portões estavam fechados, as patrulhas ativadas.
Nós estávamos preparados.
E aqueles bastardos... estavam encurralados.
"ESTE É O TERRITÓRIO DA BOREAL!" urrei, a voz deformada pelo poder bruto do meu Lycan. "AQUI, NINGUÉM SOBREVIVE SEM A MINHA PERMISSÃO!"
Rylan arrancou a perna de um lobo que tentava fugir pela lateral da trilha. Eu arrastei outro pelas costas e quebrei sua coluna com uma joelhada. O som seco do impacto ecoou pela clareira. Mais dois vieram por trás, mas girei no ar e, com um movimento só, arranquei o maxilar de um e cravei minhas garras no peito do outro.
Sangue.
Areia.
Gritos.
A floresta virou campo de carnificina.
Rylan jogou um dos corpos no chão com violência e se virou para mim, ofegante, os pelos tingidos de vermelho.
"Esses eram só os batedores," disse, cuspindo sangue. "Quer apostar quanto tempo até os verdadeiros bastardos aparecerem?"
Eu sorri, selvagem.
"Espero que não demorem."
Meus olhos brilharam em prata, refletindo a lua que começava a rasgar as nuvens no céu.
"Que sirva de aviso..."
Avancei até o último, meus passos pesados sobre a terra ensanguentada.
Segurei sua garganta.
"Ninguém..."
Estalei seu pescoço com um movimento limpo.
"...invade a Boreal e vive pra contar."

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