Stefanos
O silêncio depois da batalha foi curto.
O sangue ainda escorria pelas pedras do solo quando outro cheiro rasgou o ar.
Mais lobos.
Dessa vez… não errantes.
Mas também não nossos.
Rylan se ergueu ao meu lado, ainda em forma Lycan, os olhos fixos na linha da floresta, onde o vento já trazia a verdade.
"Cheiro conhecido..." ele rosnou. "Alcateia de Trevak."
Cerrei os dentes.
A Alcateia de Trevak estava em negociação com a Boreal há semanas. Queriam nossa proteção. Queriam acesso às nossas terras de caça no norte. Queriam aliança.
Mas ao que tudo indicava… mudaram de ideia.
"Solon deve ter feito uma oferta melhor," murmurei, sentindo minha fúria reacender com ainda mais força.
Eles surgiram da mata. Dez, talvez doze lobos transformados, todos em forma completa. Garras à mostra. Rosnados baixos. As caudas retas em sinal de ataque.
Na frente, dois machos que eu conhecia de nome:
Aren e Mirdal.
Lobos jovens. Ambiciosos. O tipo que quer subir rápido demais.
Aren deu um passo à frente e soltou um sorriso que me deu náusea.
"Alfa da Boreal…" ele debochou. "Chegamos a pensar que você estaria mais ocupado com sua nova fêmea. Mas que bom que está aqui. Vai facilitar as coisas."
"Vocês estavam sob minha proteção," rosnei, a voz saindo grossa, metálica, distorcida pela forma Lycan. "Vocês pediram abrigo, caçadas conjuntas, fronteiras seguras…"
"E você negou o que pedimos na verdade," Mirdal rosnou de volta. "Queríamos acesso ao leste. Às montanhas. Mas você achou que podia controlar tudo."
"Eu protegi vocês!" avancei um passo, a terra tremendo sob minhas garras. "E agora se vendem ao Solon por promessas podres?"
"Ele entende que sangue azul vale mais do que orgulho ferido."
Foi o que bastou.
Eu já estava correndo antes que ele terminasse a frase.
Aren tentou reagir, mas não teve tempo. Meu corpo colidiu com o dele como um raio cortando o céu. O impacto lançou ambos ao chão, e quando rolei sobre ele, minhas garras já estavam enterradas na carne.
Ele gritou.
Mas só uma vez.
Porque a segunda veio com o som de seu pescoço se partindo sob minha mandíbula.
Rylan não ficou atrás.
Avançou sobre Mirdal como um predador esfomeado, os dentes cravando na base do pescoço do traidor e puxando com força até que a carne se rasgasse em um jorro quente e rápido.
Os outros vieram.
Mas agora... era tarde.
Meu lobo tinha total controle e o comando dele era curto e direto.
O restante do meu exército surgiu pelas laterais da trilha, formando um cerco perfeito.
Meus soldados. Meus lobos.
Selvagens. Organizados. Leais.
O confronto foi rápido. Brutal. Garras contra garras. Dentes contra jugulares.
O inimigo não teve chance.
Um por um, foram tombando.
E nós não demos trégua.
"PELA DEUSA E PELA BOREAL!" gritei, ensanguentado, avançando sobre o último lobo que tentava fugir pelo flanco esquerdo.
Ele correu. Mas eu voei.
E quando caí sobre ele, o som do impacto silenciou a floresta por um segundo.
Fiquei ali, respirando pesado sobre o corpo inerte dele. As patas cravadas no solo. O sangue pingando da mandíbula.
Rylan veio até mim, os olhos estreitos.
"Esses idiotas foram usados como distrações. Nem sabiam o que estavam fazendo."
"Mas sabiam sobre a minha Luna," respondi.
Ele assentiu.
Foi quando o silvo cortou o ar.
Uma flecha.
O som foi rápido. Preciso.
Rylan girou o rosto. Mas tarde demais.
A flecha se cravou no ombro dele com um estalo seco, a ponta transpassando a carne e saindo do outro lado.
"Rylan!" rosnei, me jogando sobre ele enquanto ele cambaleava para trás.
O ataque foi neutralizado.
Mas a sensação de ameaça não se dissipava.
Solon testou nossas defesas.
E agora... sabia que falhou.
Retornei à mansão em passos largos, ainda em forma parcial, as garras manchadas, o pelo arrepiado pela adrenalina que ainda vibrava sob minha pele.
O posto médico improvisado funcionava atrás da estufa, num espaço reforçado que mantínhamos reservado para tempos de guerra.
Entrei sem bater, o cheiro de sangue fresco e verbena me atingindo de imediato.
Rylan estava deitado, o peito arfando, o ombro enfaixado com compressas prateadas. Um médico e mais dois curandeiros estavam ao seu redor, limpando a ferida.
"Como ele está?" perguntei, a voz mais baixa, mas ainda carregada de tensão.
"Flecha de prata não envenenada. Atravessou o músculo, mas não atingiu o osso," respondeu o médico sem desviar o olhar do que fazia. "Vai viver. Mas vai doer como o inferno por uns dias."
"Já estou sentindo, obrigado," rosnou Rylan, com aquele meio sorriso torto, mesmo suando de dor.
Me aproximei e me agachei ao lado da maca.
"Você lutou bem."
"Você também. Foi bonito ver aquele lobo implodir contra a árvore."
"Ele mereceu."
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
Até que Rylan murmurou:
"Sabe que eles não vão desistir, não é?"
Assenti, olhando para a faixa de tecido vermelho-escuro ao lado da maca.
"Eles estão desesperados. E desesperados tomam decisões burras."
"Ou mortais."
"Pra eles, sim."
Me levantei, olhei para o médico.
"Avise assim que ele estiver melhor. E não deixem ninguém entrar aqui sem autorização."
Ela assentiu com firmeza.
"Pra onde vai agora, Alfa?" Rylan perguntou.
"Ver minha Luna."

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