Aviso aos leitores!
Alguns capítulos deste livro contarão com uma trilha sonora especial para tornar sua experiência ainda mais intensa.
Este capítulo tem uma música: Boulevard of Broken Dreams – Duomo
Ouça enquanto lê e mergulhe ainda mais nas emoções da história!
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Aproveite a leitura e deixe a música guiar cada momento.
Nuria
O ar estava carregado de poeira e lembranças.
O cômodo parecia fechado há anos, mas, mesmo assim, havia algo sagrado ali dentro. O cheiro da madeira envelhecida, o brilho discreto dos metais, as curvas delicadas dos instrumentos. Um verdadeiro paraíso esquecido.
Meus olhos varreram o espaço, capturando cada detalhe.
Eu nunca tinha visto tantos instrumentos juntos desde a minha audição na Orquestra Nacional.
Engoli em seco ao me lembrar daquele dia. Das portas imponentes, do som celestial que ecoava pelos corredores, da adrenalina pulsando no meu sangue quando deslizei a vareta pelas cordas do meu violino e deixei minha alma transbordar pela música.
Eu pertencia àquele mundo.
Ou, pelo menos, um dia pertenci.
Meus dedos coçaram para tocar algo. Para sentir a vibração das notas me preenchendo, me arrancando dessa realidade maldita.
Caminhei lentamente pelo espaço, meus dedos deslizando pelos instrumentos esquecidos. Um piano de cauda com o verniz empoeirado, um violoncelo abandonado em um suporte de madeira, flautas e trompetes cuidadosamente guardados em suas caixas.
Toquei-os com a reverência de quem reencontrava velhos amigos.
E então, vi o estojo.
Meu coração parou por um segundo.
Ele era menor do que os outros, de couro preto com fechos prateados.
Eu já sabia o que tinha ali dentro.
Me ajoelhei diante dele, minha respiração acelerando de forma involuntária.
Lentamente, deslizei os dedos pelo fecho e o destravei. A tampa se abriu com um clique suave, revelando um violino Stradivarius em perfeito estado.
Minha garganta secou.
Eu nunca tinha tocado um Stradivarius.
Minha mão tremeu quando segurei a vareta, sentindo o peso perfeito entre os dedos. Eu conhecia o preço daquele instrumento, conhecia seu valor, sua história. Ele não era apenas um violino. Ele era um tesouro.
Um sorriso genuíno escapou dos meus lábios pela primeira vez em anos.
O desejo de tocá-lo queimou dentro de mim, urgente e desesperado. Eu queria ouvir seu som, queria sentir as cordas vibrarem sob meus dedos, queria me perder nele.
Mas então, a voz dele soou.
Baixa. Grave. Intensa.
"Toque para mim."
Meu corpo congelou.
Levantei os olhos e me deparei com Stefanos encostado na parede, os braços cruzados, o olhar fixo em mim.
Eu tinha me esquecido dele.
Tinha me esquecido completamente de onde estava.
Engoli em seco, sentindo meu rosto esquentar.
Abaixei o violino com cuidado e coloquei a vareta de volta no estojo, deslizando os dedos suavemente sobre a madeira polida antes de fechá-lo.
"Desculpe." Minha voz saiu baixa, quase relutante. "Me empolguei. Faz tempo que não vejo um violino como esse."
Os olhos de Stefanos brilharam com algo que não consegui decifrar.
Ele não se moveu. Não disse nada por alguns segundos. Apenas me observou.
Então, sua voz veio novamente, firme, inegociável:
"Eu não mandei você guardar. Eu mandei tocar."
Minha respiração ficou presa na garganta.
"Eu... não—"
"Não entenda isso como uma ordem, Nuria." Ele descruzou os braços e deu um passo para frente, seu olhar queimando contra minha pele. "Mas faça isso por você. Preciso saber se posso permitir que volte a essa sala ou não."
Filho da puta.
Ele sabia.
Sabia exatamente como me dobrar.
Jogar comigo sem precisar levantar um dedo.
Minha mandíbula travou. Mas meu corpo já tinha se rendido. E então me dei conta.
"Você sabe o meu nome?" ele riu.
"Já faz algumas horas. Eu disse que nada passa por mim, Castiel." meus olhos se arregalaram e me coloquei de pé. "Viu nem foi tão ruim assim. Agora toque para mim, ou podemos ir embora e você nunca mais pisará aqui."
Meus pés se moveram antes que minha mente processasse.
Voltei para o estojo e abri novamente, pegando o violino com cuidado.
Meu coração batia forte contra minhas costelas.
Era quase reverência.
Levantei o instrumento até meu ombro e deslizei os dedos pelas cordas, testando sua tensão.
Desafinado.
"Eu preciso..."
"O tempo que precisar," Stefanos murmurou.
E foi exatamente o que fiz.
Ajustei as cordas lentamente, sentindo o arrepio familiar se espalhar por mim conforme o som se tornava mais puro, mais perfeito.
Quando terminei, respirei fundo e ergui os olhos para ele.
Stefanos não desviou o olhar.
"Qual música você quer ouvir?" minha voz saiu hesitante.
Ele inclinou a cabeça, os lábios puxando um sorriso de canto. "Me surpreenda."
Minhas mãos apertaram o violino.
Minha mente se esvaziou.
Meus dedos encontraram as cordas com precisão automática.
E então, toquei.
Eu engoli em seco, segurando o violino com mais força do que o necessário.
"Nunca falei sobre isso com ninguém desde que fui arrastada para Invernal."
Ele soltou um riso baixo, balançando a cabeça.
"Engraçado," murmurou. "Ao menos eu e Solon temos uma coisa em comum."
Minha mandíbula travou.
"O quê?"
Ele ergueu os olhos para mim, o olhar carregado de uma provocação sutil.
"Ambos apreciamos uma boa música."
Meu estômago revirou.
Solon.
Aquele nome manchando este momento.
Minha pele se arrepiou em puro desconforto.
"Você não sabe do que está falando." Minha voz saiu tensa.
Stefanos se afastou da parede, caminhando até a porta.
"Não?" Ele arqueou a sobrancelha, sem pressa.
E então, fiz algo que não deveria ter feito.
Algo que saiu sem que eu pudesse controlar.
"Ele nunca me ouviu tocar."
Stefanos parou no mesmo instante.
Seu corpo ficou rígido.
Lentamente, ele se virou para me encarar, como se estivesse me vendo pela primeira vez.
Como se estivesse tentando desvendar cada uma das camadas que eu escondia.
O silêncio entre nós foi denso, carregado de algo que eu não conseguia definir.
Ele me estudou por mais um momento antes de dizer:
"Vou providenciar uma chave desta sala para você."
Minhas sobrancelhas franziram. "Pra mim?"
Seus olhos escuros brilharam com determinação.
"A partir de agora, você sempre tocará para mim."
O ar sumiu dos meus pulmões.
O violino em minhas mãos pesou.
Eu queria protestar.
Queria dizer que isso não era dele. Que isso era meu.
Mas o olhar dele me segurou no lugar.
E no fundo, tudo o que eu mais queria era tocar até a Deusa me levar.

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