Música do capítulo: Middle of the night (violin) Joel Sunny, Dramatic Violin
Nuria
Me afastei da sala de jantar assim que Stefanos me deu permissão.
Meu coração ainda martelava contra as costelas, cada batida reverberando a energia das notas que eu havia acabado de tocar.
Ah, como era bom me sentir eu novamente.
Mas as palavras de Johan ecoavam em minha mente como um alerta silencioso.
O garoto não estava feliz com as reações do tio.
E isso significava problemas.
Ignorei a inquietação que começava a rastejar sob minha pele e apressei o passo, subindo as escadas com pressa até o corredor silencioso do segundo andar.
Abri a porta da sala de música e entrei.
O ar ali dentro era diferente.
Mais puro.
Mais meu.
A poeira subia em redemoinhos suaves conforme eu deslizava o pano sobre o tampo do piano de cauda.
O silêncio daquele lugar era quase sagrado.
E, por um instante, eu pude respirar.
Não era um silêncio ruim, daqueles que esmagavam. Era um silêncio que respirava, que trazia uma sensação estranha de pertencimento.
Era um silêncio meu.
Ou pelo menos deveria ser.
Eu já estava ali há mais de uma hora, limpando cada peça com a paciência de um devoto. Meus dedos deslizavam pelas superfícies de madeira envelhecida, pelos metais polidos, pelos arcos de cordas que um dia vibraram em perfeita harmonia.
A sala estava esquecida. Mas eu não permitiria que continuasse assim.
Era a única coisa em toda essa maldita fortaleza que realmente me interessava.
A única coisa que me fazia sentir que ainda era eu.
Suspirei, passando os dedos pelo estojo do violino Stradivarius.
Minha vida inteira, eu sonhei em segurar um desses.
Agora, ele estava aqui.
Diante de mim.
E, ironicamente, eu estava presa.
Uma risada seca escapou dos meus lábios. O universo tinha um senso de humor cruel.
"Uau..."
O som da voz me fez sobressaltar.
Me virei bruscamente e vi Jenna parada na porta, os olhos arregalados, observando a sala com uma mistura de fascínio e hesitação.
"Como você entrou aqui?" perguntei, estreitando os olhos.
Ela riu, encolhendo os ombros. "Por algum milagre a porta estava aberta."
Franzi a testa.
Eu tinha certeza de que a fechei.
Ou Stefanos a deixou aberta propositalmente?
"Você quer alguma coisa?"
Jenna hesitou, mas então sorriu. "Na verdade, eu queria saber se posso ajudar. Fazia muito tempo que eu tinha curiosidade sobre o que tinha atrás dessa porta."
Meu primeiro instinto foi dizer não.
Esse lugar era meu.
Minha única distração. Meu único refúgio.
Mas então vi o brilho genuíno de curiosidade nos olhos dela.
Ela não era uma ameaça. Era só uma criança.
Soltei um suspiro e joguei um pano em sua direção. "Tudo bem. Mas cuidado com tudo. Estamos falando em milhares de dólares aqui dentro e se uma coleção inestimável para o Alfa."
Jenna pegou o pano no ar, o sorriso se alargando. "Pode deixar, chefe."
Revirei os olhos, mas deixei passar.
Ela começou a limpar um dos suportes de partitura, enquanto olhava ao redor, fascinada.
"Isso é incrível..." murmurou. "Eu nunca vi tantos instrumentos juntos."
"É realmente fascinante," admiti, antes de me dar conta de que estava falando mais do que deveria.
Ela ergueu os olhos para mim. "Então você não cresceu em uma família musical?"
Engoli em seco.
"Mais ou menos."
Jenna percebeu minha relutância e mudou de assunto.
"Você toca só violino?"
"Violino e piano," respondi, sem pensar.
Ela arregalou os olhos. "Sério? Nossa, o Alfa realmente deve estar obcecado por isso. Ele ama música clássica."
Meu corpo enrijeceu.
"Como assim?"
Ela riu. "Ele tem uma coleção gigantesca de discos e partituras. O Alfa sempre gostou de música, mas nunca teve tempo de realmente aprender a tocar algo. A governanta me disse que tem outro quarto com uma enorme coleção de coisas antigas."
Franzi a testa.
Isso era novo.
Nunca imaginei que Stefanos gostaria de coisas assim.
Jenna continuou, inconsciente da confusão em minha mente.
"Ele nunca deu atenção a ninguém como está dando a você."
Meu coração pulou uma batida.
"Pare de dizer bobagens."
Ela deu de ombros. "Todo mundo está comentando. O Alfa nunca se importou com criadas. Mas com você..."
Eu senti minha garganta secar.
"Ele não se importa comigo," cortei, ríspida.
Seus olhos não estavam frios.
Estavam intensos.
Quentes.
Famintos.
Um arrepio percorreu minha espinha, e eu engoli em seco.
Jenna abaixou a cabeça, saindo de fininho da sala.
Mas eu continuei ali, presa sob aquele olhar como um animal encurralado.
Stefanos finalmente se moveu.
Lento. Calculado.
Como um predador que sabia que sua presa não fugiria.
"Você devia ter me contado que tocava piano também," murmurou, sua voz como um rosnado baixo.
Minha garganta secou.
"Não tive tempo de contar."
Seus olhos brilharam.
"Eu acho que teve sim."
E então, sem aviso, ele se aproximou.
Meus músculos travaram quando ele parou bem à minha frente, grande demais, quente demais.
"Você aprendeu sozinha?"
Respirei fundo, tentando não demonstrar como minha cabeça estava girando com a proximidade dele.
"Meu irmão me ensinou."
Ele inclinou a cabeça. "Gael?"
Meus olhos se arregalaram.
"Como você sabe esse nome?"
Um sorriso perigoso puxou os lábios dele.
"Ninguém fica de baixo do meu teto sem uma averiguação, Castiel."
Eu abri a boca, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele continuou:
"A partir de agora, eu quero ver do que mais você é capaz."
Eu engoli em seco.
"Isso é uma ordem?"
Ele sorriu de lado.
"É uma sugestão."
Então, se afastou, me deixando ali, sozinha, com o peso do que quer que estivesse acontecendo entre nós.
Assim que a porta se fechou, eu entendi. Eu não estava apenas tocando para ele.
Eu estava caindo direto na sua maldita armadilha.

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