Música do capítulo - Cheap Thrills - Vitamin String Quartet
Nuria
Me vesti devagar, não por capricho, mas porque a vontade simplesmente não existia.
Cada peça de roupa parecia um lembrete silencioso da obrigação que me aguardava. O jantar. O momento que Stefanos exigiu.
Passei a mão pelo violino, sentindo o peso familiar repousar na minha palma. A madeira lisa sob meus dedos era a única coisa capaz de tornar esse lugar menos sufocante, menos cruel.
Respirei fundo, endireitando os ombros antes de sair do quarto.
O corredor estava mergulhado em um silêncio frio, o ar carregando aquele cheiro amadeirado da fortaleza. Meus passos ecoaram suavemente enquanto me aproximava da sala de jantar, mas assim que atravessei a porta, algo pareceu... errado.
Ele não estava lá.
Franzi a testa, hesitante.
Um dos soldados me lançou um olhar rápido antes de voltar a encarar um ponto fixo à sua frente, como se esperasse que eu simplesmente aceitasse aquilo sem perguntas.
"Cadê o Alfa?" Minha voz saiu firme, controlada, mas a impaciência rastejava sob minha pele.
O homem hesitou, como se calculasse suas palavras antes de respondê-las.
"A serviço do Alfa Supremo."
Pisquei.
"Quando ele volta?"
Ele deu de ombros. "Sem previsão."
Por um instante, fiquei parada ali, processando a informação.
Eu não sabia exatamente o que sentir.
Parte de mim se aliviou, como se aquela ausência inesperada fosse um presente divino. Mas, ao mesmo tempo, uma irritação surda começou a crescer dentro de mim.
Ele simplesmente se ausentou e não me avisou.
O mesmo homem que exigiu que eu tocasse para ele. Que fez questão de afirmar que queria me ouvir no jantar.
E agora? Nada. Nem uma palavra.
Meu primeiro instinto foi a raiva, mas assim que ela veio, me odiei por senti-la.
Por que diabos isso me incomodava?
Ele não era meu amigo. Não era meu protetor. Não era nada meu.
Apertei os lábios e mordi a parte interna da bochecha, como se a dor pudesse me trazer de volta ao que realmente importava.
Sem dizer mais nada, girei nos calcanhares e voltei para a cozinha.
O ambiente ali era completamente diferente do resto da casa. O calor do forno, o cheiro de pão fresco, o vapor da panela borbulhando no fogão. O som abafado de risadas e conversas baixas.
Jenna, a governanta e alguns outros criados estavam reunidos, terminando os últimos afazeres do dia.
Assim que me viram entrar, Jenna sorriu. "Ei! Se arrumou toda para quem?"
Bufei, colocando o violino sobre a mesa. "Para ninguém, pelo visto."
A governanta ergueu uma sobrancelha. "O Alfa não está?"
Cruzei os braços. "Saiu em missão para o Alfa Supremo."
Jenna pareceu surpresa. "E você não sabia?"
"Obviamente, não."
Por alguma razão, aquilo a fez sorrir.
"Então toca pra gente."
Meus olhos se estreitaram.
"O quê?"
Ela apontou para o violino. "Você ia tocar pro Alfa, certo? Agora toca pra nós."
Fiz uma careta.
"Tem certeza disso?"
Jenna juntou as mãos, me encarando com olhos pidões. "Por favor, eu quero tanto te ouvir de novo."
A governanta riu. "Faça uma graça para a menina, aparentemente, ela é a única aqui que se importa."
Olhei ao redor. Os outros criados se entreolhavam, alguns claramente curiosos, outros indiferentes.
"E então?" questionei.
Um dos cozinheiros deu de ombros. "A gente não é tão refinado quanto o Alfa pra apreciar sua música."
Bufei.
Peguei o violino e o posicionei no ombro.
"Quem disse que música instrumental precisa de refinamento?"
Antes que pudessem responder, comecei a tocar.
Mas, dessa vez, não eram acordes clássicos.
Escolhi algo moderno, vibrante. Algo que todos reconheceriam.
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