Nuria
A melodia flutuava pelo quarto, mas minha mente estava em outro lugar.
Stefanos estava na banheira, sua presença preenchendo o espaço como um trovão prestes a cair.
Meus dedos deslizavam sobre as cordas do violino, produzindo notas suaves, quase hesitantes. A música deveria acalmá-lo, mas eu duvidava que algo fosse capaz disso.
A água quente subia ao redor de seu corpo, mas não levava sua tensão. Seus ombros continuavam rígidos, seu maxilar trincado.
Mas não era só irritação.
Era dor.
Ele estava tentando esconder, se recusando a mostrar qualquer sinal de fraqueza, mas eu via.
Os músculos tensos.
A respiração curta.
Os punhos fechados sob a água.
Os cortes nas costas, ainda abertos.
Eu deveria apenas tocar e sair. Deveria manter distância. Deveria ignorar.
Mas algo dentro de mim se recusava a fazer isso.
Minha loba se remexeu inquieta, captando o cheiro metálico que persistia no ar.
Havia algo errado.
Olhei de relance para ele, tentando não encarar por muito tempo.
Mas foi o suficiente para notar.
Os ferimentos não estavam cicatrizando como deveriam.
Havia veneno neles.
Minha respiração ficou presa na garganta.
Lobos eram resistentes. Nossa cura era acelerada. Mas existiam certos tipos de feridas… certos tipos de ataques… que podiam incapacitar até o mais forte entre nós.
Stefanos estava envenenado.
E ele nem percebeu.
O último acorde da música se dissolveu no ar, e abaixei o violino lentamente.
Seus olhos se abriram.
Prateados. Afiados. Perigosos.
"Terminou?" Sua voz carregava impaciência.
Engoli em seco, hesitando.
"Eu… ao invés de tocar, posso preparar algo para os seus ferimentos?" prendi a respiração esperando a resposta.
Um canto de sua boca se ergueu em um sorriso debochado.
"Oh? Vai me fazer um chazinho também, Submissa?"
Bufei.
"Não seja ridículo."
Ele arqueou uma sobrancelha, me desafiando.
"E por que diabos eu confiaria em qualquer coisa que você me desse?"
Respirei fundo.
"Porque se você for atacado de novo nesse estado, não vai sobreviver."
A provocação sumiu de seu rosto.
Sua expressão mudou sutilmente, mas foi o suficiente para eu perceber que minha resposta o pegou de surpresa.
Ele ficou em silêncio por um segundo, e eu aproveitei para me aproximar.
"Olhe bem para os cortes," murmurei, apontando para os hematomas mais escuros ao redor dos ferimentos em seu braço. "Estão avermelhados nas bordas, certo? Isso significa que algo está impedindo a cicatrização."
Ele abaixou os olhos para o próprio corpo, analisando os machucados como se estivesse vendo-os pela primeira vez.
Minha loba se agitou dentro de mim.
Ela queria fazer algo. Queria cuidar dele.
Isso me deixou irritada.
Ele não merecia esse instinto de proteção.
Mas ainda assim…
Eu não conseguiria vê-lo definhar sem fazer nada.
"Se quiser continuar bancando o durão, fique à vontade. Só não reclame depois, quando seu corpo começar a falhar."
Me virei para sair.
Mas sua voz me fez parar.
"Faça a maldita pomada."
Não me virei para olhá-lo.
"Vou precisar de algumas ervas da cozinha."
"Pegue o que for necessário," disse ele, e então seu tom ficou mais frio. "Mas se isso for um truque, eu juro, Nuria…"
Virei o rosto para encará-lo.
Ele não estava brincando.
"Eu vou te matar antes de morrer."
Meu coração acelerou um pouco, mas mantive minha expressão firme.
"Você diz isso como se já não quisesse me matar de qualquer forma."
Ele sorriu. Um sorriso cruel, afiado.
"Talvez. Mas não antes de eu descobrir por que Solon quis você."
Engoli em seco.
A tensão entre nós era sufocante.
Dei um passo para trás, pronta para sair, mas então ele falou de novo.
"E Nuria…"
Fechei os olhos por um instante, como se já soubesse que algo ruim estava vindo.
"Acho fofo você fingir que se importa."
Meus dedos se apertaram ao redor do estojo do violino.
Idiota.
Sem dizer mais nada, girei nos calcanhares e saí.
Mas a sensação de seus olhos queimando em minhas costas permaneceu.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Capturada pelo Alfa Cruel