Nuria
A cozinha estava quase vazia àquela hora, exceto por Jenna, que mexia distraidamente em algumas ervas secas sobre a bancada. O cheiro de chá recém-preparado se misturava ao aroma amadeirado dos ingredientes espalhados na mesa.
Assim que entrei, ela ergueu os olhos e me analisou por um momento antes de sorrir.
"Ele já se acalmou?" ela questionou.
"Na verdade, não. Os ferimentos não estão cicatrizando."
"Pela sua cara, imagino que já tenha um plano." falou, sua voz carregada de curiosidade.
Soltei um suspiro, indo em direção ao ármario e pegando tudo que eu precisava e colocando os ingredientes à minha frente.
"Vou fazer uma pomada para o Alfa."
Jenna franziu a testa.
"Ele aceitou ajuda?"
"Aceitou, mas rosnando e me ameaçando. Então, não sei se isso conta."
Ela riu. "Bom, para ele, isso já é um grande avanço."
Puxei uma tigela de pedra e comecei a macerar as ervas. Os aromas se intensificaram quando esmaguei as folhas contra o fundo do recipiente, misturando-as com precisão. Meu pai me ensinou cada combinação e seus efeitos. Eu sabia exatamente o que estava fazendo.
Mas o tempo era essencial.
Se o veneno se espalhasse mais, Stefanos não se recuperaria tão rápido quanto imaginava.
A consistência da pomada começou a tomar forma. Um bálsamo espesso, escuro e ligeiramente pegajoso.
"Precisa que eu pegue mais alguma coisa?" Jenna questionou, mas senti uma segunda presença, logo em seguida.
A presença de alguém indesejado.
O cheiro enjoativo do perfume doce e o clique dos saltos contra o chão denunciaram sua chegada antes mesmo que ela falasse.
Diana.
"Mas que cena adorável." A voz dela veio carregada de falsa doçura. "A criada preparando um remédio milagroso para o grande Alfa."
Mantive meu foco na tigela, tentando ignorá-la. Se eu perdesse a textura, teria que fazer tudo de novo.
"Isso vai servir para quê, Nuria?" Diana continuou, caminhando devagar ao redor da mesa. "Você acha que ele vai confiar em você? Que vai olhar para você de um jeito diferente só porque está bancando a cuidadora?"
Jenna soltou um suspiro audível.
"Diana, não temos tempo para suas provocações."
Mas Diana apenas sorriu, completamente desinteressada no que Jenna tinha a dizer. Seus olhos estavam em mim.
"Assim que ele sair do banho, eu vou estar esperando por ele," ela disse, sua voz melosa. "Vou cuidar dele. Consolá-lo. Dar tudo o que ele quiser, se é que me entende."
Meus dedos apertaram o pilão contra as ervas com mais força do que o necessário.
Ela queria que eu reagisse. Queria me irritar.
Não daria esse gostinho a ela.
"Diana, saia daqui," Jenna avisou, já impaciente.
Diana apenas sorriu, inclinando-se levemente para observar o conteúdo da tigela.
"Tão ingênua," murmurou, balançando a cabeça. "Como se uma simples pomada fosse fazer alguma diferença."
Respirei fundo, ignorando a ardência que crescia no meu peito.
Não era o momento para me distrair com o veneno que saía da boca de Diana. O veneno que realmente importava estava se espalhando pelo sangue de Stefanos.
Eu precisava terminar isso.
Jenna, percebendo minha pressa, pegou um pequeno pote de barro e o segurou enquanto eu transferia a mistura. O cheiro forte das ervas preencheu o ar.
"Vamos, vá logo antes que ele mude de ideia."
Peguei o pote e me virei para sair.
Porém, tropecei assim que dei o primeiro passo.
Diana colocou o pé na minha frente.
O movimento foi sutil, calculado.
Mas eu fui mais rápida.
Meu corpo tombou para frente, mas minhas mãos se fecharam ao redor do pote com força. Instintivamente, girei o corpo para protegê-lo.
O impacto veio nos meus joelhos quando caí no chão frio.
O baque ecoou pela cozinha.
Por um momento, ninguém se moveu.
Então, Jenna se apressou até mim.
"Você está bem?!"
Respirei fundo, me apoiando para levantar.
Meus joelhos latejavam…
Mas a pomada estava intacta.
Diana riu baixinho, cobrindo a boca com as mãos.
"Nossa, que pena. Quase perdeu todo o seu esforço, não é?"
Minha loba rosnou.
Fuzilei Diana com os olhos, sentindo a raiva subir como uma chama prestes a consumir tudo.
Mas respirei fundo.
Não valia a pena.
Ainda não.
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