Stefanos
A quietude do quarto contrastava brutalmente com o caos que ainda queimava em minha mente.
Eu não estava acostumado a esse tipo de silêncio.
Meus olhos se abriram devagar, e o teto de madeira escura me recebeu como um lembrete de que eu estava de volta. Mas algo parecia… errado.
A última coisa que lembrava era a dor correndo por cada fibra do meu corpo. O veneno queimando em minhas veias, tornando cada respiração um esforço.
Mas agora...
Nada.
Pisquei algumas vezes, ajustando minha visão à penumbra. O fogo na lareira já havia se transformado em brasas, lançando sombras vacilantes pelo quarto. O ar estava morno, carregado com o cheiro da madeira queimando lentamente.
E então, um outro cheiro me atingiu.
Sutil, mas inconfundível.
Nuria.
Meus sentidos aguçaram no mesmo instante.
Minha mente se lembrou do toque dela, dos dedos pressionando meus ferimentos enquanto eu lutava contra o sono. Mas eu dormi?
Meu lobo rosnou, irritado com a própria vulnerabilidade. Me mexi bruscamente, esperando que a dor rasgasse meu corpo como antes.
Mas... nada.
Minhas mãos percorreram meus braços, meus ombros, minhas costas. Toquei onde antes havia ferimentos profundos.
Agora, eram apenas cicatrizes recentes.
Marcas escuras que não doíam, não queimavam, não incomodavam.
O quê?
Me sentei devagar, sentindo o tecido macio dos lençóis contra minha pele. Meu corpo deveria estar pesado, exausto, ainda drenado do veneno.
Mas eu estava inteiro.
Isso não fazia sentido.
A cura deveria levar pelo menos dois dias, mesmo para um lobo como eu.
Sempre foi assim das outras vezes que fui envenenado. O corpo demorava a se recuperar por completo. A força levava tempo para voltar.
Então... como?
Minhas narinas se dilataram levemente, captando outro rastro no ar.
Meu olhar seguiu o cheiro.
E foi então que a vi.
Sentada na sacada, envolta em uma manta simples, as pernas dobradas junto ao peito.
Ela não se movia.
Apenas olhava para o céu.
A lua a banhava, tingindo seus cabelos com reflexos prateados, e por um instante, ela parecia parte do cenário.
Tranquila.
Intocável.
Mas eu sabia que era mentira.
Aquela mulher nunca estava em paz.
E, de alguma forma, isso me incomodou.
Passei uma mão pelo rosto, tentando afastar qualquer resquício de sonolência.
"Gostou tanto de mim assim que não quis ir embora, Submissa?"
Ela não se virou.
"Eu acho que deveria colocar uma roupa antes de se dirigir a mim."
Meu sorriso foi lento.
Levantei-me sem pressa, sentindo o chão frio sob os pés. O vento da noite entrou pela sacada, roçando minha pele nua, mas não me incomodei.
"A menos que esteja tentada a me tocar, não há perigo."
Ela bufou, os ombros ficando mais rígidos.
"Você já parece ótimo. Acho que posso voltar para o meu quarto agora."
Dei dois passos à frente, bloqueando a saída antes que ela pudesse se levantar.
"Por que ficou?"
Dessa vez, ela hesitou.
O silêncio se prolongou, e eu vi o momento exato em que sua mandíbula se contraiu.
"Posso ir agora?"
Meus olhos permaneceram sobre ela por mais tempo do que deveriam.
"Não posso permitir que saia assim." ela engoliu em seco e me encarou. Seus olhos cansados, e a dor brilhando como um lembrete.
"O que eu fiz agora que o desagradou?" ela questionou ríspida.
"Na verdade, agora eu tenho uma dívida com você, mas prefiro que isso fique apenas entre nós." me aproximei um pouco mais e ela se agarrou ainda mais a coberta. "Eu não costumo distribuir favores por aí."
"Então não se sinta em dívida comigo. O que fiz foi apenas te manter vivo, até que pegue Solon..." ela tentou passar por mim, mas segurei o seu braço.
"O que quer com ele?" meu lobo rosnou com a menção daquele idiota.
"Ver o sangue dele jorrar, já seria um bom começo." soltei seu braço, passando meu dedo por seu queixo.
"Uma loba vingativa?" o interesse brilhou dentro de mim.
"Só vou ter paz quando o coração daquele desgraçado estiver em minhas mãos." em movimento rápido, parei minha mão em sua nuca, e alisei seu rosto com o meu polegar, avaliando suas reações.
"Eu posso te ajudar com isso..." minha voz estava baixa.
"Eu sei... mas quando chegar a hora, eu farei isso sozinha." ela me afastou e questionou novamente se podia sair.
Eu a olhei por mais alguns segundos e então, assenti uma única vez.
Ela passou por mim sem pressa, sem hesitação, sem olhar para trás.
Mas seu cheiro permaneceu no ar.
Assim que ela abriu a porta, outra loba estava acampada na entrada e não a reconheci de imediato.
Meus olhos deslizaram lentamente por sua figura. Seu sorriso era ensaiado, suas intenções óbvias.
"Quer alguma coisa?" questionei, seco, enquanto ela dava espaço para Nuria sair.
Diana inclinou a cabeça, mordendo o lábio em um gesto estudado.
"Sou eu quem pergunta, meu Alfa." Sua voz saiu aveludada. "Posso servi-lo de alguma forma?"
A forma como ela me olhou, sem um pingo de pudor, me irritou.
Meus olhos se estreitaram.
Péssima escolha de momento.
Eu ainda estava com o gosto da conversa com Nuria nos lábios.
E Diana acabara de me lembrar do que eu odiava em lobas como ela.

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