Stefanos
A brisa fria ainda soprava pelo jardim, quando soltei a mão de Nuria.
Ela deu um passo para trás, constrangida pelo nosso toque. Do mesmo jeito que eu, ela sempre tentava camuflar sua vulnerabilidade. Seus olhos ainda estavam vermelhos, mas sua postura já havia mudado.
Melhor assim.
Ela estava começando a entender.
Cruzei os braços, avaliando-a por um momento antes de falar:
"Amanhã, ao amanhecer, você vem comigo para o treinamento."
A surpresa cruzou seu rosto antes que ela conseguisse escondê-la.
"Isso é o que as 5 da manhã?"
"Um pouco menos," Minha voz saiu fria, objetiva. "Você quer vingança? Então precisa ser mais forte." Inclinei a cabeça ligeiramente. "Mas não pense que isso muda sua posição aqui."
Ela apertou os lábios.
"Então eu treino e depois volto para esfregar chão?"
"Exatamente."
O jeito que sua mandíbula travou me divertiu.
Eu não podia tratá-la diferente.
Não podia dar a ela uma posição acima dos outros sem motivos claros.
Por mais que ela chamasse minha atenção e despertasse o meu lobo, Nuria ainda era uma incógnita. Ainda não era confiável.
Assim como Diana também não era.
Cada uma tinha um propósito.
Diana queria poder.
Nuria queria vingança.
E eu ainda não sabia o que as diferenciava além disso.
Se Diana era a favorita de Solon, por que ele se fixou tanto em Nuria?
O que ela tinha de especial?
"Agora, vá descansar," finalizei.
Ela me olhou como se quisesse me desafiar. Mas, no final, apenas soltou um suspiro curto.
"Me dê alguns minutos."
Assenti uma única vez antes de me virar e entrar na casa.
O cheiro da madeira e do fogo da lareira ainda pairava no ar. Mas havia outra coisa ali.
Tensão.
E eu sabia exatamente de onde vinha.
Johan estava parado próximo à escada, os ombros rígidos, os punhos cerrados.
Ele me olhava com algo entre indignação e frustração.
Ele estava irritado.
Não.
Ele estava ferido.
E eu sabia o motivo.
Diana.
Eu preciso alertá-lo sobre lobas como ela. Preciso dizer que ela o está manipulando, que cada palavra e olhar são ensaiados para fazê-lo se sentir especial. Mas tenho que dizer isso, sem ferir seus sentimentos e sua masculinidade.
Mas algumas lições precisam ser aprendidas da pior forma.
Cruzei o corredor, sentindo os olhos dele queimando em minhas costas.
Foi então que a porta se abriu novamente.
Nuria entrou.
E Johan explodiu.
"Até que enfim, apareceu, sua inútil. Até onde eu sei, você está aqui para trabalhar e não ficar dando passeios no jardim e flertando com o Alfa. Se está tão à vontade, poderia aproveitar para lavar minha roupa também."
A voz dele cortou o ar como uma lâmina afiada.
Nuria parou no meio do caminho.
Eu também.
Mas não disse nada.
Ainda não.
Ela piscou devagar, como se processasse a provocação.
"Ou será que agora se acha importante demais para fazer o trabalho sujo?" Johan continuou. "Até onde eu saiba, meu tio não te deu privilégio algum."
Havia algo perigoso no tom dele.
Johan nunca gostou de ser colocado de lado. Nunca gostou de perder.
E, para ele, Nuria estava tomando um espaço que não era dela.
Mas Nuria...
Ela era diferente.
Eu já sabia disso.
Se ela fosse reagir, não seria agora.
Não seria óbvio.
Ela respirou fundo.
Seus dedos se apertaram em punho.
Mas ela não rebateu.
Não mordeu a isca.
Apenas soltou um riso curto, seco.
"Engraçado… O poder e a influência de alguns são rapidamente absorvidos, enquanto o de outros é simplesmente ignorado. Cuidado com quem escolhe se alinhar, pequeno Alfa… Grandes guerras já foram travadas por muito menos."
Fiquei em silêncio.
Havia algo no tom dela… uma pontada de saudade, um vestígio de um passado que eu nunca entenderia.
Ela não via Johan apenas como um garoto mimado tentando se impor.
Ela via o irmão que nunca teve a chance de crescer.
"Johan não é seu irmão." Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia.
Ela pausou por um instante, os dedos ainda dentro da água ensaboada.
"Eu sei."
O silêncio se prolongou.
E então, ela soltou um suspiro, enxaguando um dos pratos.
"Mas você também não é meu Alfa."
Meus olhos se estreitaram.
O atrevimento era sutil, mas presente.
A diferença era que, dessa vez, não era uma provocação.
Era apenas a verdade.
E talvez, fosse exatamente isso que começava a me irritar mais do que qualquer outra coisa.
Porque, no final das contas, não importava quantas vezes ela me desafiasse.
Não importava quantas vezes ela mordesse a isca ou desviasse dela.
Nuria sempre andaria na linha tênue entre a obediência e a insubordinação.
E isso só me fazia querer entender ainda mais…
O que diabos Solon viu nela.
E o que diabos eu estava vendo agora.
Mas eu não teria minha resposta essa noite.
Então, apenas me afastei do batente e saí.
Sem aviso.
Sem despedida.
Mas com um pensamento persistente em minha mente:
Ela podia não me ver como seu Alfa.
Mas cedo ou tarde…
Isso mudaria.
Ela podia não me ver como seu Alfa.
Mas isso não significava que não era.
E quando ela finalmente entendesse isso…
Não teria mais para onde correr.

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