Stefanos
O cheiro de suor, poeira e fúria impregnava o campo de treinamento.
Os lobos haviam se dispersado, deixando apenas rastros da luta nos sulcos profundos do solo. O eco dos golpes ainda parecia vibrar no ar, como um lembrete mudo da violência que havia acontecido ali.
Mas eu ainda não estava satisfeito.
Minhas mãos se fechavam em punhos enquanto caminhava para longe, tentando expulsar a inquietação que queimava sob minha pele. Meu lobo estava furioso, rosnando dentro de mim como um animal enjaulado.
Era irracional.
Era inaceitável.
E, acima de tudo, era por causa dela.
A visão daquele maldito guerreiro sobre Nuria ainda estava gravada em minha mente, cada detalhe corroído em minha memória como ferro em brasa. O modo como ele sorriu. O cheiro imundo que exalava quando a prendeu no chão.
A maneira como os olhos dela se arregalaram assustada.
E, acima de tudo...
O jeito que meu corpo reagiu antes que minha mente pudesse pensar.
Eu o arranquei de cima dela.
Não como um Alfa corrigindo um erro de hierarquia.
Não como um líder disciplinando um subordinado.
Eu fiz aquilo como um macho que não aceitou ver outro lobo tocando o que não era dele.
Rosnei baixinho, frustrado comigo mesmo.
Minha paciência estava no limite.
Continuei andando até o espaço mais isolado do campo, onde ficavam os sacos de pancada presos em troncos de madeira robustos. Meu corpo ainda pulsava, exigindo uma válvula de escape.
E eu sabia exatamente como acalmar a fera dentro de mim.
Me posicionei diante do saco de couro reforçado.
E então, bati.
Socos duros. Rápidos. Precisos.
Cada golpe fazia o couro ranger. O impacto reverberava pelos meus braços, subindo até meus ombros, espalhando uma dor familiar e reconfortante.
Mas não era o suficiente.
Eu batia mais forte.
Mais rápido.
Cada golpe carregava algo que eu não conseguia nomear. Algo que estava se acumulando dentro de mim desde o dia em que coloquei os olhos nela.
E isso me enfurecia ainda mais.
Porque não era apenas desejo.
Se fosse, seria fácil. Seria controlável.
Era algo mais profundo. Algo que se enraizava onde eu não queria que estivesse.
E a única maneira de lidar com isso era destruir.
"Está tentando matar o saco ou desenterrar algo nele?"
A voz de Rylan, meu Beta, interrompeu meu fluxo de socos.
Não respondi. Apenas continuei batendo.
O bastardo continuou se aproximando.
"Seus golpes estão mais pesados do que o normal." Ele analisou, cruzando os braços. "Quer conversar sobre isso, ou prefere quebrar o campo inteiro antes?"
Outro soco. O couro rangeu.
"Entendi. Vai destruir tudo primeiro."
Ele suspirou, mas não recuou.
"Bom, ouvi alguns boatos... dizem que teve guerra no campo hoje de manhã." Seu tom era leve, casual. Irritante.
A raiva cresceu dentro de mim antes mesmo de ele terminar a frase.
Rylan sorriu de lado.
"Um certo Alfa perdendo o controle por causa de uma loba que deveria ser apenas uma informante. Vai ver ela tem algo especial mesmo, não é? Ou..." Ele inclinou a cabeça, estudando minha reação. "...talvez esteja só mexendo com seus instintos."
Foi a última coisa que ele disse.
Porque, no instante seguinte, eu já estava sobre ele.
Meu rosnado ecoou pelo campo, minha velocidade superando até minha própria intenção.
Derrubei-o no chão com um único movimento, meu joelho pressionando seu peito, minhas garras contra sua garganta.
"Você ousa brincar com isso, Rylan?" Minha voz saiu baixa, afiada como lâmina. "Comigo?"
Os olhos dele brilharam com algo entre alerta e diversão.
"Era só uma piada..."
Meus dedos apertaram.
"Repita."
O sorriso de Rylan sumiu.
Seis esposas de Solon estavam vivas. Seis lobas marcadas pelo monstro. Se o Alfa Supremo quisesse respostas, ele as teria.
Minhas garras se alongaram instintivamente.
O cheiro de sangue e carne rasgada encheu minha memória.
O Alfa Supremo não era paciente.
Ele não acreditava em segundas chances.
Se uma palavra errada fosse dita…
Se algo parecesse suspeito…
Se ele não ficasse satisfeito com as respostas…
Ele destruiria tudo sem pestanejar.
E a única coisa pior do que um Alfa Supremo desconfiado…
Era um Alfa Supremo irritado.
"Ele quer um banquete para a recepção," Rylan continuou. "Algo digno de um Alfa Supremo."
Olhei em volta.
Minhas mãos ainda tremiam de raiva.
Minha respiração estava descompassada.
Mas então, meus olhos a encontraram.
Nuria.
Distante, sentada no chão, os braços ao redor das pernas dobradas. O rosto perdido em pensamentos que eu não podia acessar.
Havia algo nela que sempre me puxava.
Algo que me irritava.
Que me confundia.
Que me fazia querer destruir qualquer um que a tocasse.
Rylan percebeu para onde eu olhava.
Ele soltou um riso curto.
"Boa sorte com o banquete, Alfa. E com essa coisa que está queimando você por dentro."
Eu o ignorei.
Apenas continuei olhando para ela.

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