Nuria
Eu o observei.
Stefanos.
O lobo que caminhava pelo salão como se carregasse o peso de todos os segredos do mundo nos ombros largos e tensos. O Alfa que, poucas horas atrás, tinha me arrancado do chão com promessas veladas e olhos em brasa.
E agora…
Ele me ignorava.
Depois de anunciar que eu tocaria na recepção, seguiu falando com a governanta, repassando ordens, apontando detalhes como se eu não estivesse ali. Como se nada tivesse acontecido. Como se eu não passasse de mais uma criada curvada sobre o chão sujo.
Ele sequer me olhou.
Meu olhar o acompanhava, insistente, faminto por um reconhecimento, uma troca rápida de olhares, um gesto mínimo.
Mas ele não me deu nem isso.
Nada.
E algo dentro de mim... doeu.
Eu odiava isso.
Odiava que aquela ausência me atingisse mais do que qualquer golpe no campo de treinamento.
Porque eu sabia. Sabia que não deveria esperar nada dele. Que não havia promessas, nem afeto, nem proteção verdadeira.
E mesmo assim... eu esperava.
Uma parte estúpida, frágil, humana, que eu achava ter enterrado junto com tudo o que me foi tirado, esperava.
E ao vê-lo tão distante, tão frio, tão... Stefanos, uma fúria silenciosa começou a crescer dentro de mim.
Contra ele.
Contra mim mesma.
Contra essa sensação insuportável de estar à margem de algo que eu não pedi para sentir.
“Desceu do pedestal, foi?” A risadinha venenosa de Diana cortou meu devaneio como uma lâmina afiada. Ela passou por mim com o brilho da malícia nos olhos, os lábios dobrando em zombaria. “Acho que nosso Alfa cansou da sua música.”
Não respondi.
Não valia a pena.
Eu precisava me concentrar. Esquecer esse orgulho ferido, engolir essa fraqueza ridícula, apagar qualquer coisa que ainda me fizesse olhar para Stefanos e esperar... o que mesmo?
Reconhecimento?
Proteção?
Carinho?
Idiota.
Eu não sou feita para isso. E ele não é feito para oferecer.
Virei o rosto, ignorando.
Jenna apareceu com dois baldes e panos nos ombros, ofegante. “Peguei tudo que precisamos. Acho que isso vai durar até o fim da tarde.”
Peguei um pano e o balde, respirando fundo.
“É melhor começarmos logo. Esse salão parece ter acumulado cada maldito século nas paredes.”
Jenna me lançou um olhar curioso. “Você parece nervosa.”
“E não deveria estar? Vamos ter que limpar isso tudo e ainda serei obrigada a tocar.”
"Deveria ficar feliz com isso. Não será apenas uma criada limpando a bagunça dos outros."
"Aceito trocar de lugar se quiser." ela me olhou com um sorriso nos lábios, mas não falou mais nada.
Enquanto esfregávamos juntas as paredes do salão, o assunto inevitável finalmente veio.
“O que você acha que o Alfa Supremo quer?” ela perguntou, mantendo o tom baixo.
“Não sei ao certo,” murmurei, ainda evitando seus olhos. “Mas Stefanos disse que ele quer informações. Sobre como vivíamos... sobre os outros alfas envolvidos. Solon, principalmente.”
“Você acha que ele vai interrogar todas as esposas?”
“Sim, se ele achar que estamos mentindo.”
Jenna ficou em silêncio por alguns segundos, depois completou:
“Se tem alguém que vai ter o que contar... é a Diana, não é?”
Assenti, pois essa era a única conclusão que eu tinha.. “Ela passava mais tempo tramando com Solon do que deitada com ele. Ouvia tudo. Sabia de tudo.”
E por isso me dava calafrios.
Ela era perigosa.
Ela sabia coisas.
Coisas demais.
Já estávamos de joelhos, esfregando o chão, quando a presença dele voltou.
Pesada.
Quente.
Imponente.
Meu coração se apertou no peito.
Stefanos entrou no salão sem dizer palavra, seus olhos passando por tudo — pelas janelas já limpas, pelos lustres reorganizados, pelas tapeçarias recolocadas — e então... por mim.
Mas só por um segundo.
Depois, ele olhou para Jenna.
“Saía.”
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