Nuria
O som das trancas ecoou como um trovão nos meus ouvidos.
Três. Quatro voltas da chave. Um estalo seco. Um fim.
E então, o silêncio.
O corredor escuro da prisão particular de Stefanos se fechou atrás dos guardas, e tudo o que restou foi o eco de seus passos se afastando… e a respiração descompassada presa na minha garganta.
O cheiro de pedra fria, ferrugem e musgo impregnava o ar da cela como um fantasma antigo. E com ele, vieram as memórias.
Memórias que eu lutei tanto para enterrar.
A umidade da parede atrás de mim. A sensação da corrente imaginária no tornozelo. O som abafado da dor. O medo.
As celas de Solon não eram muito diferentes. Talvez mais sujas. Talvez mais escuras.
Mas a pior semelhança entre elas… era o que me faziam sentir.
Sozinha.
Fraca.
Objeto.
Meu corpo ainda latejava da pressão das mãos de Stefanos em meu pescoço, e eu sentia a marca da dor não apenas na pele — mas no peito. Onde ele havia tocado o que restava da minha confiança.
Ele me olhou como os outros já olharam antes.
Como algo que precisa ser contido.
Algo que não se entende.
Algo que se teme.
"Aberração."
A palavra de Diana ainda ecoava, mordaz, venenosa, carregada de satisfação.
E o pior?
Foi isso que ele viu também.
Pelo menos por um segundo.
Pelo menos naquele instante.
Fechei os olhos com força, tentando apagar da mente o rosto de Stefanos olhando para o sangue em sua mão. Como se eu fosse algo profano. Como se eu não pertencesse nem àquele mundo, nem a qualquer outro.
As lembranças me afogaram.
As mãos de Solon me arrastando por esse mesmo tipo de corredor. A cela que rangia quando ele a trancava com força. O gosto amargo do medo na garganta. O som da minha própria voz implorando para ser esquecida.
"Você não é como as outras", ele sussurrava. "E isso significa que eu posso fazer o que quiser, quantas vezes eu quiser."
Eu tremi. Não de frio.
De raiva.
De vergonha.
De ódio de mim mesma por estar revivendo tudo aquilo… por ter me permitido acreditar, nem que fosse por um momento, que Stefanos era diferente.
Ele era como os outros. Talvez mais perigoso. Porque por um segundo, eu acreditei que ele me via.
Não como uma criada.
Não como uma prisioneira.
Mas como alguém.
Um som leve me tirou do transe.
Alguém se aproximava da cela. A luz fraca da tocha oscilou.
Meu coração disparou.
Mas não eram os passos pesados dos guardas.
Era leve. Cauteloso. Delicado.
"Sou eu," sussurrou uma voz baixinha do outro lado das grades. "Nuria, sou eu."
"Jenna…?" minha voz saiu fraca, rouca.
Ela surgiu com uma mantinha sobre os ombros e uma sacola improvisada nas mãos. Os olhos arregalados de medo e o rosto tenso pela urgência de estar ali.
"Trouxe isso," disse, empurrando pelas barras o que parecia ser bandagens, um pano limpo e uma garrafinha de água. "Você deve estar com dor, deve estar com sede."
"Jenna... não precisava."
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