Stefanos
Eu queria ir até ela.
Sentir o cheiro da sua pele curando, ver com meus próprios olhos se as marcas já tinham desaparecido... ou se ainda estavam ali, queimando como provas de que falhei em protegê-la.
Mas não podia. Fui eu quem disse que o melhor era manter distância.
E se quebrasse minha palavra agora, não conseguiria manter o foco. Não durante o jantar, não com o Alfa Supremo observando cada movimento.
Eu queria envolvê-la. Queria apagar cada ferida deixada por aquela loba maldita, uma por uma.
Queria mais do que devia.
“Ah, inferno...” sussurrei, frustrado.
Maldita hora para o Alfa Supremo decidir aparecer.
Além disso, naquele momento, Johan precisava mais de mim do que ela.
Não por causa do sangue derramado, nem da briga, nem sequer por ciúmes puros. O motivo era outro. Mais profundo. Mais mesquinho.
Era o violino.
O violino de Rayara.
O mesmo que ele nunca se importou em ver, nem ouvir, e que agora, por estar nas mãos da loba errada, se tornou o centro de sua raiva silenciosa.
Ele não estava com medo de perdê-lo.
Estava com medo de perder a minha atenção.
Medo de que as memórias da minha irmã tocando para mim se apagassem... e fossem substituídas pela imagem de Nuria de pé com aquele instrumento mutilado nas mãos.
Suspirei, observando o garoto sentado no segundo degrau da escada. O maxilar travado, o olhar fixo em nada. Estava sufocando por dentro, e achava que eu não sabia.
Desci os degraus e parei ao lado dele.
“Quer falar sobre isso?”
Ele não respondeu de imediato. Depois, balançou a cabeça.
“Não,” murmurou. “Só não esperava aquilo da Diana.”
Cruzei os braços, encarando-o de cima.
“Quantas vezes você já dormiu com ela?”
Os olhos dele se arregalaram, e foi quase engraçado ver o desespero tentando mascarar a surpresa.
“Do que está falando?”
“Não finja comigo, garoto.” A voz saiu baixa, firme. “Eu sei.”
Ele desviou o olhar, envergonhado. A raiva sob a vergonha deixava sua pele quente. Típico.
“Olha, Johan... você precisa entender que tipo de mulher é a Diana. Por mais bonita que seja, ela não é uma companheira para um Alfa.”
“Você não sabe—”
“Sei, sim. Ela pula de galho em galho. Sempre à procura de quem a mantenha. Não é sobre amor, é sobre status.” Me aproximei. “No mesmo momento em que se jogou para você, tentou o mesmo comigo. E antes de tudo isso... tentou com o Beta. Ela não escolhia... esperava quem caía primeiro.”
Era Rayara.
Quantos anos fazia desde que entrei naquele quarto?
Talvez uma década. Talvez mais.
Tudo estava como ela deixou. As cortinas fechadas, os livros empilhados, o espelho coberto. Como se o tempo tivesse parado.
Abri o guarda-roupa, o cheiro leve de madeira envelhecida e saudade me atingiu. Toquei as roupas que ainda guardavam o perfume suave dela. Cada tecido parecia contar uma lembrança.
Comecei a vasculhar as gavetas, até encontrar o que procurava.
Cordas, cuidadosamente guardadas em envelopes envelhecidos. Algumas novas, outras oxidadas pelo tempo. Ao lado delas, uma caixa com fotos: eu e ela. Crianças. Crescendo. Trocando olhares cúmplices em tempos que pareciam pertencer a outra vida.
Fechei a caixa com força e a joguei de volta.
“Não agora,” murmurei para mim mesmo. “Você não pode se dar esse luxo.”
Quando ergui os olhos, um movimento de tecido chamou minha atenção. Um vestido. Lindo.
Pendurado ali como se tivesse sido deixado à espera do momento certo.
Era longo, delicado, mas forte. Como Rayara. Como... Nuria.
Um sorriso brotou no canto dos meus lábios. Lento. Silencioso.
“Talvez isso seja obra sua, irmã.”
E pela primeira vez em muitos anos...

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