Nuria
Andava de um lado para o outro, o violino mutilado nos braços como se, de alguma forma, isso pudesse me impedir de cair. A madeira estava arranhada, as cordas cortadas, o som... morto. Era como segurar um pedaço da minha alma desfeita.
Jenna falava, mostrava vestidos, sacudia cabides, fazia o possível para me distrair.
Mas eu não conseguia ouvir nada além da minha própria fúria.
Queria me acabar de chorar. Me deixar desabar no chão, soluçar até que nada mais restasse. Mas não.
Não daria esse gostinho a Diana.
Aquela loba maldita.
"Que o veneno das minhas garras faça o corpo dela urrar de dor a noite inteira." esbravejei.
Jenna me olhou assustada, provavelmente sentindo a vibração da minha loba, mas eu não disse nada. Não precisava explicar mais uma vez os detalhes da minha linhagem. O azul do meu sangue já era mistério suficiente. Os efeitos das minhas garras... não era hora de falar disso.
Respirei fundo e voltei a encarar o violino. Meus dedos percorreram o corpo dele com reverência, mesmo arruinado, ele ainda tinha valor. Ainda era um pedaço da minha alma.
"Vai ficar tudo bem, Nuria." Jenna falou, com a voz suave.
“Não sei o que vou fazer,” sussurrei, quase sem som. “Não tenho outro instrumento. Não sei se ele pode ser consertado a tempo.”
“Talvez o Alfa mande alguém buscar novas cordas,” ela disse, tentando soar esperançosa.
Assenti com um aceno curto, mas por dentro... estava oca. Como se tivessem arrancado não só meu centro, mas tudo que me fazia ser eu.
“E o vestido?” ela continuou. “Olha esse aqui! É rosa... forte,talvez fique bom na sua pele.”
Revirei os olhos, mas peguei o vestido. Entrei no banheiro e experimentei. Quando me olhei no espelho, minha expressão já dizia tudo.
Saí bufando, jogando o vestido de volta na cama. “Não. Parece um doce pintado. Isso é ridículo.”
Jenna riu, nervosa. “Tá, talvez não esse. Mas tem outros. E você precisa de algo até encontrarmos um substituto pro que... bom, pro que foi destruído.”
Vesti outro. Depois mais um. Nenhum parecia certo. Nenhum se encaixava como o azul que Diana rasgou. Era como se cada tecido me lembrasse do que foi tirado. Como se qualquer coisa nova fosse inferior, porque não era o que eu queria desde o início.
“Eu já estava tensa com essa apresentação,” murmurei. “Agora estou ainda pior.”
“Eu vou procurar mais,” ela disse, saindo do quarto com os olhos varrendo os corredores.
Fiquei ali, sozinha, sentada na beira da cama com o violino entre as mãos. O quarto parecia mais escuro, mais apertado. Eu não queria chorar. Mas queria gritar. Jogar tudo pela janela. Queria que ele aparecesse. Só uma vez. Só pra me lembrar que eu ainda existia.
Foi quando a porta se abriu.
E ele apareceu.
O Alfa em todo seu esplendor sombrio, parado na soleira com algo nas mãos.
“O que acha disso?” perguntou, sem rodeios.
Me levantei devagar, os olhos fixos no tecido que ele carregava. Caminhei até ele. Estendi a mão. E toquei.
Um vestido.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Capturada pelo Alfa Cruel