Stefanos
Fechei a porta devagar. O som do trinco soou como um corte.
Deixá-la ali, com o vestido justo no corpo, os olhos queimando sob a luz suave, a respiração descompassada... foi como abandonar o próprio controle.
E ainda assim, era o certo.
Tocar Nuria era uma escolha que não cabia a mim naquele momento.
Era o tipo de impulso que destruía mansões, alianças, títulos. Era o tipo de desejo que um Alfa, prestes a ser julgado pelo Supremo, simplesmente não podia ceder.
Mas meu lobo discordava.
Ele rosnava dentro de mim desde o segundo em que os dedos subiram o zíper. Desde o momento em que a vi naquele maldito espelho, tão... perfeita.
E pronta.
Pronta pra mim.
Encostei na parede fria do corredor, cerrei os punhos e tentei respirar.
“Controle-se”, murmurei. “Controle-se, porra.” Mas o cheiro dela ainda estava impregnado em mim. Espalhado por cada parte do meu corpo, como uma droga viciante.
Me afastei dali antes que minha vontade decidisse trair minha razão.
Segui em direção à ala principal, mas parei ao ver Rylan encostado na parede próxima às janelas, com os braços cruzados e aquele sorriso contido no canto da boca.
"Está tudo certo com as acomodações do Supremo?" perguntei, e Rylan se virou lentamente para mim, me analisando de cima a baixo antes de inclinar a cabeça com aquele sorriso malicioso nos lábios.
"Sim. Estão todos confortáveis com o que receberam... Mas parece que você é quem está desconfortável. Ou melhor, alguém está te tirando do eixo."
Soltei um riso seco, encostando o ombro na parede.
"Já te contaram o que aconteceu?"
"Alguma coisa fica escondida por muito tempo entre essas paredes?" ele rebateu, arqueando uma sobrancelha.
Neguei com a cabeça, exausto. “Veio atrás de mim ou está só buscando ar fresco?”
“Ar, razão, foco... o que tiver disponível,” respondi com um suspiro, quase irônico.
Ele soltou uma risada baixa. “Então definitivamente foi ela quem te tirou tudo isso.”
“Rylan…”
“Sem julgamentos,” ele interrompeu, levantando as mãos. “Só vim te lembrar que a noite ainda nem começou. E que o Supremo já percebeu o quanto ela te afeta.”
“Ele percebe tudo,” murmurei. “Mas isso não dá a ele o direito de interferir nas decisões da minha alcateia.”
“Talvez não,” ele concordou. “Mas dá a ele o poder de decidir se você é digno de sucedê-lo. E se ele sentir cheiro de envolvimento... pode te cortar sem pensar duas vezes.”
Fiquei em silêncio, os olhos seguindo o movimento dos lobos lá fora. Os guardas se alinhavam nos portões, luzes acesas, tudo em perfeita ordem.
Tudo... exceto o que estava acontecendo dentro de mim.
“Ela tem algo que me desarma,” confessei. “Mas não é fraqueza. É o contrário. Quando estou perto dela... sinto que posso ser mais do que sou.”
“E é exatamente isso que te assusta,” ele completou.
Não neguei.
“Se você não pode aceitar quem eu amo, então talvez eu não tenha lugar aqui.”
Aquilo me atingiu mais do que eu gostaria de admitir. Johan era mais do que meu sobrinho. Era minha responsabilidade. Meu futuro. O herdeiro do meu legado.
Eu o criei como se fosse meu filho. E ver aquela teia de manipulação se enrolando ao redor dele, apertando aos poucos, me fazia ferver por dentro, uma raiva silenciosa, densa, prestes a transbordar.
“Pense bem antes de me desafiar,” rosnei. “Se você sair com ela, não volta. Não será mais herdeiro da Boreal. Não será mais meu.”
Ele me olhou por um segundo. E vi ali, nos olhos dele, o dilema. O menino ainda estava lá, preso sob o peso da paixão e da lealdade.
“Por que está fazendo isso comigo?” ele sussurrou.
"Não estou fazendo nada. Assuma as consequências de suas decisões. Se é isso que quer, esse é o desfecho que terá. Você tem até o amanhecer para se decidir."
Ele se afastou em silêncio, com Teodora logo atrás. Rylan permaneceu ao meu lado, em silêncio.
Depois de um tempo, ele murmurou:
“Você acabou de dar a ele a escolha mais difícil da vida. E fez isso sem tremer.”
“Por dentro, estou aos pedaços,” respondi. “Mas se ele quer ser um alfa, precisa entender que nem sempre escolhemos o que queremos.”
Rylan sorriu de canto. “Você que o diga nesse momento.”
Não respondi.
Apenas olhei para o céu, onde a lua começava a subir no horizonte.
E soube, no fundo, que aquela noite ainda guardava mais do que qualquer um de nós podia prever.

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