Nuria
A água ainda caía quando senti os braços dele me envolvendo.
O calor do seu corpo quebrou o gelo dentro do meu. Eu estava encolhida no chão do banheiro, coberta de vergonha, dor e pavor, mas os braços dele, firmes, me puxaram de volta.
Eu sabia que era ele antes mesmo de ouvir sua voz.
"Chega. Acabou," ele murmurou, com a boca próxima ao meu ouvido. "Ninguém mais vai tocar em você. Eu não vou permitir."
Minhas mãos se agarraram à camisa encharcada dele, tão molhada quanto eu, enquanto meu corpo começava a tremer. Mas já não era medo.
Era alívio.
Um alívio feroz, cortante, quase doloroso.
Porque, ao mesmo tempo em que presenciei a fúria dele contra meu agressor, vi um lado de Stefanos que eu nunca tinha conhecido.
Chorei sem fazer som. Os soluços saíam abafados, presos no fundo da garganta. E ele apenas ficou ali. Me segurando. Me mantendo inteira. Como se pudesse me costurar por dentro com a força do seu abraço.
"Não me solta," sussurrei. Foi um fio de voz, um pedido nu. Tão pequeno.
"Não vou", ele respondeu. "Nem que a alcateia toda pegue fogo."
E, estranhamente... me senti segura. Pela primeira vez desde que tudo começou.
Com cuidado, ele nos ergueu do chão e abriu a porta do banheiro, puxando uma toalha e me envolvendo. Suas mãos eram respeitosas, e seus olhos diziam tudo.
Jenna e Teodora apareceram logo em seguida, silenciosas, me ajudando a secar o corpo e trocar de roupa. Enquanto isso, Stefanos se afastou, voltando ao banheiro, talvez para se secar, talvez para me dar um pouco de espaço.
"O que aconteceu?" Jenna sussurrou, mas me mantive calada e Teodora a repreendeu. "Eu só estou preocupada." ela bufou ainda cuidando de mim.
Teodora foi até meu quarto e trouxe roupas limpas. Com mãos trêmulas, retirei o que restava do vestido deslumbrante que usara naquela noite, agora em frangalhos, assim como eu.
Tudo o que senti... tudo o que aquela noite prometia, foi arruinado por aquele maldito.
Uma lágrima solitária escapou, teimosa, deslizando pelo meu rosto como um lembrete de tudo o que eu havia acontecido.
"Não chore, menina. Agora está tudo bem. O alfa já resolveu tudo. Não precisa mais se afligir." Teodora alisava meus cabelos com a escova, enquanto Jenna terminava de me ajudar a me vestir.
Quando ele retornou, minha loba choramingo, como uma súplica para ele. Stefanos me estudou por um minuto. Ele não disse nada de imediato. Apenas lançou um olhar rápido para Jenna e Teodora.
"Preparem algo para comermos." Ordenou, firme, mas sem aspereza.
Assim que elas saíram, ele se aproximou e me pegou no colo novamente, como se eu fosse feita de vidro fino prestes a trincar. Me deitou no centro de sua cama, com cuidado, e cobriu meu corpo com seu cobertor. O cheiro dele me reconfortou imediatamente.
Ele se sentou ao meu lado, em silêncio, seus olhos vasculhando cada traço do meu rosto como se tentasse decifrar segredos escondidos na minha alma. Ele queria respostas. Queria saber como aquele maldito lobo me encontrara. Mesmo morto, aquilo não bastava para Stefanos, ele queria entender. Sentir. Vingar.
Mas eu ainda sentia o toque daquele monstro queimando minha pele. A respiração asquerosa em meu pescoço, como uma marca invisível que não saía.
Então, respirei fundo, me afundando ainda mais na maciez e no abrigo do cobertor
"Está com frio?" ele perguntou, a voz baixa, gentil.
Balancei a cabeça.
"Com fome?"
Neguei de novo.
"Quer que eu mate mais alguém por você?" ele provocou com um sorriso torto, e uma parte de mim... sorriu de volta.
"Você tem uma lista?" murmurei.
"Tenho uma gaveta só pra isso."
Ele ficou em silêncio por um instante, os olhos fixos em mim.
"Nuria... eu não vou sair daqui. Não até que me peça, então não precisa temer mais nada. Ninguém passa por aquela porta sem que eu autorize."
"Eu sei, ainda assim, minha mente foi levada para minha época com Solon. Parece que tudo voltou com ainda mais força." suspirei, fechando os olhos com força e fechando minha expressão tentando deletar tudo.
Senti o toque de seus dedos logo em seguida. Ele apertava a pequena ruga que existia entre meus olhos. Seus dedos eram gentis, quentes, e poderosos.
"O que posso fazer para trocar essa lembrança?" ele sussurrou e abri os olhos.
"Acho que ninguém pode fazer nada. É uma coisa que eu nunca vou conseguir apagar." suspirei, sentindo minha voz embargar. Eu não queria chorar na frente dele de novo, então escondi meu rosto na coberta.
"Não se esconda de mim, minha ruína."
Meu coração disparou, junto com um riso que brincou em meus lábios.
"Ruína?" deixei a coberta na altura dos olhos.
"É o que vão dizer depois dessa noite." ele parecia mais relaxado agora.
"Eu não tinha pensado sobre isso...me desculpe, eu..." me desfiz da coberta, querendo me levantar, mas ele foi mais rápido.
"Onde pensa que vai?" sua mão possessiva me puxou de volta, e colou meu corpo ao dele.
"Eu não posso ficar aqui, Stefanos. O alfa supremo, os cheiros. Ele vai..."
"Já me entendi com ele, não se preocupe. Agora trate de descansar." eu não queria admitir, mas estava com medo de ir para qualquer lugar onde ele não estivesse.
"Isso não vai acabar bem," murmurei e ele riu, voltando a me olhar, enquanto puxava minha mão e entrelaçava nossos dedos com uma intimidade inesperada.
"E quem disse que eu quero que acabe?"AA

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