Stefanos
Ela ainda estava contra a parede.
Os lábios úmidos.
A respiração descompassada.
O cheiro de desejo ainda no ar.
Mas então… aquele sorriso.
Aquele maldito sorriso triste.
“Eu não posso ser,” ela murmurou. “E menos ainda… a sua.”
A frase se cravou na minha mente como uma lâmina.
O silêncio entre nós foi ensurdecedor.
A raiva surgiu primeiro — como sempre.
Minha mão ainda estava em sua cintura.
Mas agora parecia queimar. Como se o toque dela me tivesse marcado com fogo.
Afastei os dedos, como quem acorda de um feitiço e percebe que foi enganado.
"Repete." pedi. A voz saiu baixa. Tensa.
"Eu não posso ser sua Luna."
Meu peito inflou, mas não de ar. De fúria.
Por dentro, meu lobo uivou.
Ele se remexeu, confuso. Furioso. Inconformado. Ele a havia escolhido. Tinha sentido. Tinha marcado.
E agora… estava sendo rejeitado.
"Não pode... ou não quer?" perguntei, a voz falhando entre sarcasmo e incredulidade.
"Não posso," ela respondeu, firme. "Não é sobre você."
“É sempre sobre mim, Nuria.” disparei, dando um passo à frente. “Porque fui eu quem te tirou do inferno. Fui eu quem ficou. Quem protegeu. Quem te ergueu. Então agora você vai me olhar nos olhos e me dizer que não é pessoal?”
"Eu não pedi que você fizesse nada disso." ela bufou.
"Não, mas o idiota aqui fez... E engraçado...eu achei...." me afastei mais uma passo tentando raciocinar sem o cheiro dela me impactando.
"Você não entende…"
"Você tá certa. Eu não entendo!" rosnei. “Não entendo como alguém que gemeu meu nome horas atrás agora me olha como se eu fosse um erro.”
Meu lobo rosnou baixo dentro de mim.
Sentia a dor, a rejeição, mas queria se aproximar. Queria segurá-la, entender.
Eu o calei. Ele já tinha feito merda demais.
Ela se afastou um pouco, buscando ar.
“Porque eu não posso te dar o que você quer.” disse ela. “Você quer uma Luna. Uma mulher que possa carregar seu herdeiro. E eu... eu não posso. Eu não fui feita pra isso. Eu te disse que a Deusa tem um escolhido para a Millenares... e”
A frase me atingiu como um soco.
Confusão.
Desprezo.
Autopreservação.
Meu lobo estremeceu. Aquilo doeu nele mais do que em mim. Como se ela tivesse dito: "Você nunca será o suficiente
"Ah, então agora você também lê o destino?" soltei, irônico. “É vidente? Profetisa? Quem te garante que não sou eu?”
“Stefanos…”
“Não, agora eu quero entender.” avancei. “Você é o quê? Maldição ambulante? Fêmea danificada? Qual é a desculpa da vez?”
Meu lobo deu um passo pra trás.
Ele estava sentindo. A dor dela. O medo dela.
Mas eu não podia ouvir.
Ela empalideceu.
O corpo dela oscilou por um segundo.
Como se o chão tivesse se partido.
Mas eu continuei. Precisava terminar.
Precisa encerrar aquilo antes de me implodir.
“E já que você não pode me dar o que eu quero, faz um favor,” falei, virando as costas. “Volta pro seu uniforme de criada e finge que nada aconteceu.”
Abri a porta.
E antes de sair, disparei a última faca:
“E da próxima vez que quiser se tocar pensando em mim… faz em silêncio.”
Saí.
Com o sangue fervendo nas veias.
Com o lobo se contorcendo em silêncio.
Caminhei pelos corredores tentando manter a respiração estável. Mas era inútil.
Eu o tinha ferido.
Eu a tinha destruído.
E mesmo assim… era eu quem sangrava.
Saí pela porta da frente, ignorando qualquer soldado, qualquer voz, qualquer saudação.
Corri.
Corri pela floresta como um louco. Como um bicho. Como um lobo desesperado tentando esquecer o nome que ecoava em cada célula. Me transformei no processo, deixando que o infeliz que tinha causado todo esse problema, tomasse as rédeas de nos tirar de perto dela.
E eu deixei ele correr. Porque, se eu continuasse sendo o homem…
Eu voltaria pra ela e terminaria o serviço.

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