Nuria
Caí de joelhos no exato instante em que ele saiu pela porta.
O chão gelado me recebeu como se quisesse me engolir. Minhas mãos foram direto ao peito, tentando conter a dor absurda que se espalhava por dentro, como uma fisgada aguda em cada costela, como se meu coração tivesse esquecido como bater.
Não era só raiva.
Não era só tristeza.
Era a perda de algo que eu sequer podia nomear.
Minha loba gritou.
Gritou como uma alma despedaçada.
E eu… eu não entendia.
Como é que alguém que não era o Escolhido da Deusa podia me quebrar dessa forma?
“Respira…” sussurrei pra mim mesma, mas minha voz saiu embargada. “Você não pode… você não pode…”
Mas eu já estava chorando.
Lágrimas quentes desceram pelo meu rosto enquanto eu dobrava o corpo pra frente, tentando conter a angústia. Era como se uma parte de mim tivesse sido arrancada à força. E não era só pelo que ele disse, era pelo que eu sentia e não podia ter.
Se eu pudesse escolher…
Seria ele.
Seria Stefanos.
Mas eu não posso.
Se o Escolhido surgir… se a Deusa me apontar um outro caminho…
Eu vou ter que seguir.
Mesmo que meu coração já tenha escolhido por mim.
Meu corpo só gera o filho do escolhido.
O erro de Solon foi esse.
Ele não queria só um herdeiro. Ele queria ser o Escolhido.
E quando meu corpo não respondeu ao dele… ele enlouqueceu.
Ele me quebrou, me abusou, me mutilou, não só por prazer doentio, mas por frustração.
Porque ele queria ser digno da Deusa. E nunca foi.
E agora… agora Stefanos sangra por uma dor que não compreende.
E eu… sangro porque compreendo demais.
Me levantei do chão com esforço. As pernas bambas. A respiração curta.
"Eu vou embora," murmurei para mim mesma. "Com ou sem permissão. Não posso mais ficar."
Não suportava mais aquele cheiro. Aquela casa. Aquela voz dentro da minha cabeça.
Saí da sala como uma sombra, cambaleante, como se tivesse sido atropelada por algo invisível. Tudo em mim doía. Não o corpo — a alma.
Desci os primeiros degraus da escadaria e o mundo girou.
"Mas, Nuria… ele deveria saber. Ele vai querer saber."
"Não. Não agora. Não assim." sussurrei, com os olhos úmidos. "Eu preciso pensar. Preciso entender o que está acontecendo comigo antes de encará-lo de novo."
"Vocês brigaram?" Jenna sussurrou, enquanto colocava compressas frias em minha cabeça.
"Ele é complicado e eu não sou dona do meu destino. Nunca daria certo." mordi o lábio sentindo o frio se abater sobre mim. "Está frio aqui..."
"A febre está aumentando. Onde está o médico?" Teodora gritou e o corre, corre aumentou.
Para mim todos eram vultos. Todos estranhos, e minha loba só queria um cheiro, um olhar.
"Pare de pensar nele." a repreendi e ela ganiu desesperada.
"Como está se sentindo?"
"Mal, muito mal. Pareceu que meu corpo não pertence mais a mim."
Teodora assentiu, relutante.
"Tá bem, querida. Vai descansar. O médico já está vindo. E eu… eu fico com você."
Assenti com um leve movimento da cabeça, tentando parecer mais forte do que me sentia. Mas minha visão já começava a se embaralhar. O som ao redor se tornava distante, como se eu estivesse submersa em algo espesso e pesado.
"Teodora..." murmurei, mas minha voz se perdeu.
O quarto girou. Meus dedos perderam a força. O calor da febre tomou conta por completo.
E então…
Tudo escureceu.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Capturada pelo Alfa Cruel