Entrar Via

Capturada pelo Alfa Cruel romance Capítulo 69

Stefanos

O mundo passou em borrões enquanto o lobo corria.

Galhos se quebravam sob as patas. O vento rasgava o pelo. E, por dentro, tudo ardia.

Ele correu porque eu deixei. Porque não suportava mais sentir. Porque, naquele instante, ser fera era mais fácil do que ser homem.

Não havia pensamento. Só instinto.

Mas até o instinto cansa.

Quando as patas falharam, o corpo tombou no solo coberto de folhas úmidas, arfando. E foi então que a consciência humana voltou. Me arrastei pela mata até retomar a forma e, quando percebi, já estava cruzando os limites da mansão, completamente nu, coberto de sujeira e arranhões.

Nenhuma vergonha. Nenhuma palavra.

Apenas a urgência de esquecer.

Subi direto para o meu quarto. Atravessei os corredores ignorando os olhares, a movimentação incomum. Alguns guardas cochichavam entre si. Fingi não ver.

No banheiro, a água quente caiu como faca sobre a pele. Cada gota era uma punição — e eu aceitei todas. Deixei o vapor embaçar o vidro, tentando apagar o reflexo do idiota que eu estava me tornando.

Depois, vesti uma camisa escura e calça preta. Sequei o cabelo ainda úmido e respirei fundo. Era hora de colocar a máscara de volta. O Alfa voltou.

Mas, ao sair do quarto, algo me incomodou.

O cheiro dela.

Estava mais fraco.

Pensei que era coisa da minha cabeça. Reflexo do lobo ainda latente, querendo correr de volta para os braços dela. Eu o calei.

Desci os degraus com passos firmes, determinado a ignorar tudo. Mas no corredor vi Jenna.

Ela estava pálida. Os olhos vermelhos. A expressão abatida.

Me encarou por um instante. Não disse nada.

"Está tudo bem?" perguntei, com frieza.

Ela hesitou. "A senhorita Nuria..."

"Não me interessa."

Virei o rosto. Continuei andando até a entrada principal.

Foi quando Rylan surgiu na porta.

"Stefanos."

Ele não usou meu título. Meu corpo reagiu de imediato.

"O que foi agora?"

"É Nuria."

Meu maxilar travou, mas não demonstrei. "Se for mais um drama, manda ela ir embora. Não estou mais com saco para essas coisas."

"Ela desmaiou."

Parei.

"Como assim, desmaiou?" meu lobo entrou em alerta no mesmo instante.

"Desceu cambaleando as escadas, Jenna a segurou antes de cair. O médico já está com ela. Está com febre alta. O corpo... não está reagindo bem."

Soltei uma risada seca. "Ótimo. Agora ela virou mártir. Quer me fazer sentir culpado?"

"Você acha que ela está fingindo?"

"Eu acho que essa história está virando uma encenação ridícula."

Rylan deu um passo à frente. "O médico está tentando controlar a febre, mas não está cedendo. O médico pediu alguns exames de sangue, mas por ser diferente, não estão conseguindo entender os resultados. Ela parece estar definhando."

Cruzei os braços, irritado.

"Vai passar. Dá um antitérmico e um banho gelado."

"Você não vai vê-la?"

"Não."

Tudo deveria ser mais fácil.

Me sentei atrás da mesa, encarando documentos sem vê-los realmente. O silêncio pesava, cortado apenas pelo tique-taque irritante do relógio sobre a mesa. Minha mandíbula travada doía, mas era o preço da máscara.

Tudo em mim dizia para ir até lá. Cada fibra do meu corpo exigia que eu corresse para o quarto, que tirasse Nuria da cama, que exigisse explicações e a forçasse a parar com aquela maldita encenação. Mas não podia ceder. Não podia permitir que aquela mulher, aquela maldita mulher, quebrasse o que levei anos construindo.

Mas antes que eu pudesse reorganizar meus pensamentos, um barulho ensurdecedor cortou a casa.

Sirene.

Uma ambulância.

Franzi o cenho, levantando-me imediatamente. Abri a porta do escritório e saí ao corredor. Guardas passavam correndo, criados se amontoavam nas portas dos cômodos com os olhos arregalados.

Atravessei o corredor com passos firmes até chegar à escadaria principal, onde pude ver claramente a movimentação desesperada. Jenna chorava no canto, abraçada a Teodora, que estava tão branca quanto um fantasma.

Meu peito contraiu com força.

Os paramédicos surgiram carregando uma maca às pressas pelos corredores, conduzidos por Rylan e pelo médico que chamamos para Nuria. Sobre a maca estava ela, imóvel, quase sem cor, enquanto um dos paramédicos pressionava suas mãos no peito dela, realizando massagens cardíacas desesperadas.

Meu coração parou.

Cada compressão parecia atingir diretamente o meu peito, roubando-me o ar.

"Rápido, ela está parando!" a voz do médico ecoou.

Minha mente congelou. Meus pés ficaram presos ao chão, impossibilitando-me de avançar ou retroceder.

Não era teatro. Não podia ser.

Observei, impotente, enquanto eles a retiravam de minha casa, lutando para trazê-la de volta à vida diante dos meus olhos.

Meu lobo gritou dentro de mim, enfurecido, angustiado, dolorido. Eu o ignorei tantas vezes, e agora pagava por cada uma delas com sangue.

Senti o olhar acusador de Rylan sobre mim. Senti o ódio surdo e velado nos olhos de Jenna.

Mas nada disso importava.

Nada além da visão de Nuria sendo levada embora, quase sem vida.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Capturada pelo Alfa Cruel