“Flávio”
Bati a porta, acabei de colocar as malas na viatura e saí dali rumo ao aeroporto. Bonfim ao meu lado achava graça de tudo. Eu estava a beira de colapso nervoso. Sabrina atrás bufava e resmungava.
- Flávio, isso é um ultraje. – Sabrina não parava de reclamar, se mexendo de um lado para o outro no banco, era irritante.
- Moça, não fica se esfregando muito nesse banco não. Ontem a noite essa viatura transportou um bandido que estava foragido escondido no mato e ainda não deu tempo de lavar. Ele estava numa situação desagradável. – Bonfim falou e eu o olhei sabendo que ele estava inventando história para provocar a Sabrina.
- Ah, foi nessa viatura que transportaram o Remela? – Perguntei inventando um nome qualquer e entrando na onda do Bonfim. Isso seria divertido.
- Foi sim. E ele estava sem tomar banho há um mês, se escondendo no mato, revirando lixeiras. Soube que tiveram que raspar a cabeça dele e obrigá-lo a raspas todos os pêlos do corpo. – Bonfim falou e eu vi pelo Retrovisor a Sabrina olhando assustada.
- Ué, mas por que isso? – Perguntei já sabendo o que o Bonfim inventaria.
- Piolhos! Ele estava cheio de piolhos! – Bonfim falou naturalmente e a Sabrina teve um chilique.
- Pelo, amor de deus, Flávio, me tira daqui, eu não quero pegar piolho, Flávio! Como você faz isso comigo? Para esse negócio e me tira daqui. – Sabrina entrou em desespero.
- Olha moça, desculpa eu tinha esquecido de avisar ao Moreno. Só me lembrei agora. Então não fica se mexendo, a senhora tem o cabelo comprido e dizem que piolhos adoram cabelos compridos. – Bonfim encontrou o caminho para a diversão e não pararia.
- Sabrina, fica calma, a gente já está chegando no aeroporto. Eu não sabia que a viatura tinha transportado alguém com piolhos. Me desculpe. – Eu estava fazendo um esforço enorme para não rir. Quem dera fosse verdade, a Sabrina aprenderia uma lição.
- Flávio, por favor. Me deixa descer, eu pego um taxi. – Sabrina estava apavorada.
- Calma, moça. Se você ficar quietinha vai ficar tudo bem. É só você não ficar se esfregando muito no banco. – Bonfim se mantinha sério e solícito. – Você precisava ter visto, Moreno. Ele tinha muitos piolhos e coçava tanto que tinha feridas pelo corpo. E me parece que ele está com sarna também, o que é esperado pela falta de higiene.
- Moço, pede pra ele parar e me tirar daqui, por favor. – Sabrina começou a chorar.
- Sabrina, calma, já estamos chegando. – Eu tentava não rir, mas o Bonfim não conhecia limites.
- É, calma, moça. Descer agora não vai fazer diferença, a senhora já pode ter sido contaminada. Se esfregou tanto nesse banco que acho que até limpou a viatura pra gente. – Bonfim comentou sem nenhum traço de humor, mas eu sabia que ele queria rir tanto quanto eu.
- Não fala isso, moço, por favor. O que eu vou fazer se eu pegar piolho? Eu nunca tive piolho! Que coisa horrível, moço.
- Calma, minha filha, se você pegar, e eu acho que vai, porque você não ficou quieta aí atrás, deve ter atiçado os bichinhos. Mas se você pegar, vai precisar ir ao hospital e tomar remédios e vai ter que raspar a cabeça. – Bonfim balançou a cabeça como se lamentasse. – Um cabelo tão bonito, dá até pena, vai demorar pra crescer de novo.
Eu queria parar a viatura e começar a rir, mas não podia. Mantive a mentira do Bonfim e o deixei fazer o número dele. Foi muito divertido. Quando chegamos ao aeroporto e eu abri a porta, a Sabrina pulou da viatura passando a mão pelo corpo todo como se fosse conseguir enxotar os piolhos que nem existiam. A cena era muito engraçada. Tirei as malas e coloquei num carrinho pra ela. Mas o Bonfim não estava contente.
- Moreno, o que foi isso? – Bonfim finalmente perguntou.
- Eu precisava ganhar tempo, Bonfim, para que a investigação andasse. Fiz um acordo com ela. Ela vai passar um mês com a família e quando voltar nós vamos conversar. Mas eu espero que ela não volte nunca mais. – Suspirei.
- Isso foi inteligente! Vamos torcer para que as coisas se resolvam nesse tempo. Mas por que você precisava de mim? E por que viemos na viatura?
- Porque eu conheço a Sabrina. Se ficasse sozinha comigo por todo esse tempo iria aprontar, eu só não queria ser feito de bobo. E viemos de viatura porque de jeito nenhum eu quero que ela entre no meu carro e deixe nem sequer um fio de cabelo lá para a minha baixinha encontrar.
- Você é realmente esperto. – Bonfim riu.
- Desculpe ter te tirado dos seus afazeres e te arrastado comigo.
- Não se desculpe, foi muito divertido. Essa aí vai ficar se coçando imaginando piolhos e pulgas por uma semana pelo menos. – Bonfim deu uma gargalhada e eu não aguentei e acompanhei.
- De onde você tirou essa estória de piolhos e pulgas? - Perguntei secando as lágrimas de tanto rir.
- Ah, isso foi um caso que aconteceu há uns anos atrás. Todos os policiais que andaram na viatura tiveram piolho e tiveram que raspar o cabelo, inclusive eu. Fiquei muito puto com aquele preso, minha mulher quase pediu o divórcio porque passei piolho para as crianças. – Bonfim ria. – Depois disso, mando higienizar as viaturas com frequência, mas essa aí não foi higienizada esses dias. Então, tudo pode acontecer. – Bonfim riu e saímos em direção a porta.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Chefe irresistível: sucumbindo ao seu toque
Está sempre a dar erro. Não desbloqueia os capitulos e ainda retira as moedas.😤...
Infelizmente são mais as vezes que dá erro, que outra coisa......