“Camilo”
A mulher que me interpelava tinha mais de quarenta anos, os modos muito simples e com os olhos banhados em lágrimas. Ela torcia nas mãos um pequeno lenço e ao seu lado um jovem rapaz a amparava.
- Desculpe a minha mãe, mas é que desde que o policial foi lá em casa ela está inquieta e nervosa. – O jovem falou.
Eu me aproximei dela e segurei as suas mãos com gentileza. Havia tanta dor naqueles olhos, parecia que eles já choravam há muito tempo, as marcas ao seu redor diziam isso. Minha avó dizia que o coração de uma mãe que perde o seu filho nunca poderia ser consolado.
- Eu lamento tanto! – Foi o que eu consegui dizer, antes de me emocionar também. Eu sabia que aquele bebê poderia ser a filha dela ou a minha irmã, havia uma dor nos unindo naquele momento. – Podemos conversar um pouco, vocês têm tempo? – Ela apenas fez que sim com a cabeça.
Saímos do cemitério e nos sentamos em uma lanchonete que tinha ali perto. Meu pai e ela se entenderam na dor que compartilhavam, nas tragédias que os abateram, mas aquela mulher era assombrada pela dúvida todos os dias há quase vinte anos. E eu entendi que pior do que a certeza de que a filha estava morta, era a dúvida de onde ela poderia estar.
- Sabe, quando eu tive meus filhos, ninguém acreditou em mim, ninguém acreditou que eram dois. – Ela começou a contar. – Meu marido achou que eu estava ficando louca, porque eu quase morri no parto. Mas eu não estava, eu tinha certeza do que eu tinha visto e ouvido.
- E o que a senhora viu e ouviu, dona Teresa? – Esse era o nome dela.
- O primeiro que nasceu foi esse aqui, o Jeferson. Ele nasceu chorando forte, alto. A mulher que fez o parto falou que era menino, colocou o bebê de lado na cama e falou comigo assim: “agora faz força de novo que o outro está vindo”. Eu não sabia que eram dois, eu não fiz esses exames pra ver o bebê, então fiquei surpresa, um pouco assustada, mas muito feliz, era uma bênção que deus me deu. A gente morava lá na grota, tinha uma rocinha de milho lá, a vida era apertada, mas a gente tinha amor de sobra para dois filhos e até mais. Mas depois de tudo o que aconteceu lá, o meu marido desiludiu, vendeu tudo e comprou uma casinha aqui na cidade. Ele trabalha na sua fazenda. – Dona Teresa deu um pequeno sorriso. – E foi melhor assim, a vida ficou melhor. Mas ninguém acreditou que eu tive dois filhos, nem meu marido. Ele só acreditou agora que o policial foi lá em casa.
- Olha, Sr. Orlando, não precisa se desculpar. Eu vim aqui agradecer vocês. Eu vim agradecer, porque esses anos todos eu vivi com a dúvida e com as pessoas me chamando de louca. De um jeito ou de outro, vocês estão me dando paz, a paz de saber onde a minha filhinha está. E eu pelo menos vou ter um túmulo pra chorar e trazer flores. – Dona Teresa tinha a resiliência que só uma mãe tem. – É isso, eu só queria agradecer e dizer que eu também sinto muito por tudo o que vocês passaram e estão passando e se eu puder ajudar com qualquer coisa podem contar comigo.
Nós ainda conversamos um pouco, descobrimos que ela não pôde ter mais filhos depois do que aconteceu. Mas o filho que tinha era um bom rapaz, ele estava estudando, trabalhava no comércio da cidade e fazia a faculdade na cidade vizinha. Era uma família amorosa, batalhadora e muito unida. Antes de nos despedirmos eu perguntei a dona Teresa o nome do marido dela, eu queria ver o que podia fazer por essa família.
Cheguei em casa com uma dolorosa sensação de que muito foi tirado da minha irmã, mais do que o que foi tirado de todos nós. Manu cresceu sendo maltratada, hostilizada, rejeitada, ao passo que se ela tivesse sido criada pela dona Teresa ou pela minha mãe, ela teria sido uma criança muito desejada e muito amada, ela teria sido infinitamente mais feliz. Nada poderia apagar o que a minha irmã sofreu nas garras da Rita, eu sabia, e pensar que a história dela poderia ser tão diferente me fez sentir uma tristeza muito grande.
Mas eu não tinha tempo de ficar lamentando, precisava manter a cabeça no lugar, resolver as coisas e ficar atento para proteger minha irmã, pois não demoraria para a Rita descobrir que estávamos atrás do passado, ela com certeza iria atrás da Manu e isso eu não permitiria mais.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Chefe irresistível: sucumbindo ao seu toque
Está sempre a dar erro. Não desbloqueia os capitulos e ainda retira as moedas.😤...
Infelizmente são mais as vezes que dá erro, que outra coisa......