“Patrício”
O resto do dia Lisandra e eu nos evitamos, mas eu pude ver as olheiras enormes que ela tinha pela noite conturbada que tivemos. Eu havia sido mesmo um idiota com ela, mas eu era um idiota com ela há muitos anos já.
À noite quando a vi chegar no jardim para a ceia de natal, eu senti como se meu coração errasse as batidas. Ela usava um vestido vermelho de um tecido leve que ia até os joelhos, a saia era esvoaçante e o seu colo se insinuava pelo decote em vê, as mangas eram compridas e soltas e ela usava nos pés uma sandalinha rasteira cheia de brilho dourado. Seus cabelos negros dançavam com a brisa da noite e o seu sorriso era como uma constelação cheinha de estrelas brilhantes.
Durante toda a noite eu a observei de longe, eu não ousei me aproximar. Pela primeira vez no dia ela estava sorrindo e eu não queria estragar isso. No fim da noite, já no meu quarto, eu olhava para a caixinha vermelha com um laço branco sobre a minha mesinha de cabeceira. Eu passei a noite com ela no bolso e não tive coragem de me aproximar da Lisandra para entregar o presente.
Eu peguei a caixinha e fui para a cozinha. Me sentei e pensei. Pensei em deixar na porta do quarto dela com um cartão. Mas o que eu escreveria no cartão? Eu estava encarando a caixinha quando ela apareceu na porta da cozinha. Ela suspirou e já estava pronta para sair, mas eu a chamei.
- Lisandra, não sai. – Pedi e soou como uma suplica. Ela me olhou e entrou, foi até a geladeira, a abriu e fechou, mas não tirou nada de lá. E já ia saindo novamente. – Lisandra, por favor. – Ela se aproximou de mim. Eu me levantei e lhe apresentei a caixinha. – É pra você! Meu presente de natal pra você, por favor, aceite.
Ela me olhou confusa, como se não esperasse aquilo. Mas como ela não esperava? Eu adorava dar presentes. Mesmo sendo um idiota com ela eu lhe enviava presentes no natal, no aniversário, na páscoa, no dia das crianças, e às vezes sem motivo nenhum, só porque tinha feito alguma viagem e me lembrei dela. Foi assim até ela completar quinze anos e eu beijá-la naquele quarto. Depois daquilo eu achei que o melhor seria cortar de vez qualquer contato e para a minha sorte ela voltou para o colégio interno.
Ela se sentou, colocou a caixinha sobre a mesa e a encarou. Eu fui até a geladeira, peguei o leite e despejei na leiteira, levei ao fogo e deixei amornar, depois coloquei no copo e salpiquei canela, do jeito que eu sabia que ela gostava. Durante esse tempo ela estava sentada encarando a caixinha, como se tivesse medo de abri-la. Coloquei o copo de leite na frente dela e saí da cozinha. Sem nenhuma outra palavra, eu tive medo de falar e ela recusar o meu presente. E eu fui me sentar no escuro da sala.
Quando voltei para o meu quarto a noite já estava esmaecendo. Encontrei sobre a cama uma caixinha preta. Não havia cartão, mas eu sabia exatamente de onde tinha vindo. Eu conhecia muito bem o perfume impregnado nela. Eu fechei os olhos e aspirei o perfume que exalava da caixinha, era o cheiro dela, o cheiro que estava marcado na minha memória desde o dia em que a beijei, o cheiro que estava se tornando um vício pra mim.
Abri a caixa e dentro havia um par de abotoaduras em ouro com as minhas iniciais. Eu observei aquele presente, as letras eram rebuscadas e elegantes. Foi um presente pensado, não foi aleatório e nem por acaso. Foi mandado fazer para mim. Ela se preocupou em mandar fazer um presente pra mim. Assim como eu havia mandado fazer o presente dela e tive o maior trabalho na joalheria para que ela não visse, pois o peguei junto com as alianças do Flávio.
Eu passei o resto da noite encarando aquelas abotoaduras e pensando no quanto eu odiava brigar com ela, no quanto eu me sentia mal por afastá-la, mas eu também me lembrei de porque eu deveria evitá-la.
No dia seguinte nós nos mantivemos distantes. Nenhum de nós tinha coragem de se aproximar do outro. Naquela noite ela entrou na cozinha mais uma vez de madrugada e simplesmente se sentou em minha frente. Nos olhamos, mas não falamos. Nenhum de nós dois teve coragem. Eu me levantei, preparei o copo de leite com canela e deixei em sua frente, e fui me sentar na sala escura mais uma vez.
Mas o nosso silêncio me incomodava mais do que as nossas brigas e eu já estava indócil com isso. Felizmente ele não durou muito, no dia seguinte nossas disputas recomeçaram e nós começamos a brigar por qualquer bobagem. Mas na quarta feira ninguém aguentava mais nos ver brigar.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Chefe irresistível: sucumbindo ao seu toque
Está sempre a dar erro. Não desbloqueia os capitulos e ainda retira as moedas.😤...
Infelizmente são mais as vezes que dá erro, que outra coisa......