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Chefe irresistível: sucumbindo ao seu toque romance Capítulo 976

“Leonel”

Eu já havia sido transferido para essa casa de repouso há dias e até agora ninguém havia me visitado. O Donaldo me acompanhou durante a transferência, mas não veio de novo e a Anabel, a última vez que a vi, foi no hospital. Mas eu não podia reclamar, eu realmente merecia que meus filhos não se importassem, principalmente a Anabel.

A que castigo eu fui submetido, meu deus! Eu estava preso em meu próprio corpo, em minha própria mente. Eu via, eu ouvia, eu compreendia tudo, eu sentia, mas eu não conseguia falar, não conseguia me mexer, não conseguia sequer comer sozinho. Eu precisava que alguém fizesse tudo por mim.

Como um homem como eu acabava assim? Eu era um homem importante, imponente, dono das minhas vontades. Agora eu vivo dependendo da boa vontade dos outros. Alguém precisa me vestir, me alimentar, me limpar. Agora eu uso fraldas e pijamas o tempo todo, nada de ternos caros e perfumes importados, nem relógios de marca e sapatos de couro italiano. Apenas fraldas, pijamas e cremes hidratantes a base de uréia e sem cheiro.

E o que eu como? Eu sou alimentado com um mingau esquisito com um gosto indefinido, porque aparentemente eu me engasgo com alimentos sólidos e não consigo mastigá-los corretamente.

Que situação horrível!

A minha mente funciona tão perfeitamente, mas o meu corpo não obedece mais aos comandos. Eu sentia como se estivesse morto, mas ainda observando a vida, sem poder me manifestar, apenas ali para ver. Mas ver o quê? Eu estava num lugar estranho, cercado por pessoas estranhas, sendo cuidado como se eu fosse um bebê. Deitado numa cama de hospital a maior parte do tempo ou sentado numa poltrona em frente a uma janela que dava para um jardim de grama verde e com árvores ao fundo. Esse era o meu único conforto, um jardim de grama verde e pássaros cantando.

Depois de muito tempo, décadas, eu me peguei chorando várias vezes, chorando pelo que eu era, pelo que eu me tornei, arrependido de todo o mal que eu fiz. Sim, o arrependimento chegou ao meu coração, mas chegou muito tarde. E agora eu tinha muito tempo para pensar na vida, pensar nas maldades que fiz, pensar no sofrimento e na dor que eu inflingi na Antônia, na Anabel e até no Donaldo com todas as minhas cobranças e exigências.

Sim, eu reconhecia que merecia o que me aconteceu, eu confiei naqueles dois demônios, Irina e Ilana, as coloquei na minha casa, na minha vida, e submeti a minha família há anos de tortura e desamor.E foi o ódio pela Irina, pela decepção que ela me causou que me colocou nessa cama. Tentando castigá-la, eu fui castigado. Mas eu merecia.

Todas as coisas más que eu fiz com a Antônia, os castigos físicos, as surras que eu dei nela, por causa de um ciúme doentia e de um bando de abutres que eu permiti que me envenenasse. Todo o sofrimento que eu impus a Anabel, às vezes que eu a chamei de vagabunda, as vezes em que eu marquei a minha mão em sua face, as dores que eu causei. Eu fui um homem perverso e agora eu estava recebendo o meu castigo, estava cumprindo a minha pena.

Eu fui condenado a uma pena perpétua, encarcerado em minha mente. Eu tinha todo o tempo do mundo para pensar, relembrar, me arrepender e sentir o remorso me corroer. Assim seria o resto dos meus dias, porque o AVC parou o meu corpo, mas não parou a minha mente e como eu desejava a morte agora.

Ela perguntou e eu fiz que sim. Ela puxou um banquinho para mais perto de mim e me olhou por um momento. Então começou a falar:

- Sabe, eu pensei muito antes de vir aqui e antes de tomar as decisões que eu tomei. Mas a verdade é que eu não quero viver o resto da minha vida sentindo mágoa ou raiva, isso não cabe em mim. Além do mais, não foi isso que a minha mãe me ensinou, ela me ensinou a ter o coração compassivo. E quando eu me tornei adolescente e ficava brava com as coisas que o senhor fazia e dizia, ela chamava a minha atenção e me dizia que eu não deveria ficar brava com o meu pai, que eu deveria amá-lo e que talvez, se eu o amasse muito, eu pudesse ensiná-lo a me amar.

Havia saudade e dor na voz dela. Seus olhos ficaram úmidos e ela fungou. A dor atravessou o meu coração. Ela continuou falando depois de um momento.

- Ela me ensinou a te amar, Leonel. E eu tentei muito te ensinar a me amar. Mas não deu. Só que ela também me ensinou a ter esperança e eu havia me esquecido disso. Até que eu encontrei o Ricardo e ele fez toda a diferença na minha vida. Ele é um homem bom! Ele me encheu de amor, ele mudou a minha vida e fez eu me lembrar de ter esperança. E foi por isso que eu desisti do processo de destituição de paternidade, porque eu me lembrei de ter esperança e eu tenho esperança de que agora você possa me amar, você possa me reconhecer como sua filha.

Eu levei um grande choque com o que a Anabel falou, pois para mim, ela estava mais do que decidida a ignorar o nosso vínculo, como eu fiz por tantos anos. Ela estar aqui e me dizer que tinha esperança que eu a reconhecesse como filha, só me mostrava o quão nobre e generosa ela era. Ela tinha todas as qualidades que me faltavam e ainda era capaz de ser gentil com um monstro como eu. Na minha tragédia, onde eu não me sentia merecedor de absolutamente nada, ela ainda foi capaz de um gesto de afeição.

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