Como odiar um CEO em 48 horas romance Capítulo 175

Meu peito se contraiu ainda mais numa dor que fodia minha mente tanto quanto meu corpo. Voltei para o vidro da maternidade, olhando aqueles dois quilos de carne com boca e nome, se remexendo, tão frágil, tão bela, tão dependente de mim. A pediatra me observou atentamente e chamou-me com o dedo. A enfermeira foi até a porta e autorizou minha entrada.

Sentei numa poltrona, enquanto via outro bebê ir para o quarto, pois a mãe já havia voltado da sala de parto. Maria Lua foi trazida até mim, colocada sobre meu peito. Encarei aqueles olhinhos claros que se abriram na minha direção, parecendo sem foco, a pele enrugadinha, descascando levemente.

Sim, ela valia qualquer coisa. Era um amor que eu não poderia explicar em mil anos.

Ah, Heitor, abro mão de você ao mesmo tempo que aceito sua filha como minha. Quanta ironia. Quero odiá-lo pelo que fez, mas não consigo ao ver os seus olhos nos dela.

Tirando os olhos verdes, claros, que certamente ainda poderiam mudar de cor, ela era totalmente parecida com Salma.

- Vamos mostrar a você como usar a mamadeira – disse a pediatra – Já fez isso antes?

- Não – confessei, amedrontada, enquanto Ben me assistia do outro lado do vidro – Achei que ela seguiria usando o copinho com a fórmula para se alimentar.

- Não. O copinho é usado somente no hospital. Em casa, você vai usar a fórmula, na mamadeira.

- Ok, estou preparada.

A mamadeira pequena, de vidro, com a chupeta emborrachada maior que a boca da minha neném foi dada na minha mão. Assim que coloquei em sua boquinha minúscula, ela começou a sorver o líquido veementemente, fechando os olhinhos logo em seguida.

- A fórmula inicialmente será dada de três em três horas – ela explicou – E as visitas ao pediatra faremos quinzenalmente.

- Me diga que você nos atenderá. – Olhei para a jovem médica, que parecia realmente se importar conosco.

- Se você quiser, sim – sorriu – Será um prazer.

Suspirei, aliviada:

- Obrigada. Acho que não sobreviveríamos sem você. – Sorri de volta.

- Precisam registrar Maria Lua. – Ela olhou para Ben e me avisou.

- Como fazemos isso? – arqueei a sobrancelha.

- Não vai ser tão fácil. Vou conversar com seu amigo.

Ela saiu e a vi gesticulando enquanto conversava com Ben do lado de fora, um bom tempo.

Tivemos sorte de encontrarmos tanto o obstetra que estava de plantão e fez o parto naquela noite quanto a pediatra que parecia nos entender perfeitamente. Não sabíamos nada sobre bebês, mas queríamos desesperadamente aprender.

Assim que Maria Lua voltou ao berço, fui novamente para a recepção. Ben voltou horas depois, me entregando o registro de nascimento, que li, confusa:

- Você... Colocou o nome de Sebastian como pai? Por que fez isso? Está louco? – quase gritei.

- Não consegui fazer isso sem ajuda – me encarou. – Precisei dele. Existem lei, Babi. Precisamos da certidão para tirar Maria Lua do Hospital.

- Precisou de ajuda? Vai dizer agora que chamou Heitor e ele não pôde comparecer? – fui sarcástica - Não! Não vamos mudar de ideia. Ela é nossa, só nossa. – Contrai meu corpo, apertando os braços em torno de mim mesma, parecendo sentir o corpo quentinho de Maria Lua contra o meu. Como foi capaz de envolver Sebastian nesta história? – fiquei furiosa.

- Vá para casa. Você precisa descansar, Babi. Não vai aguentar muito tempo. Não vou conversar nada enquanto você não for para casa e descansar.

Olhei para ele. O relógio de parede marcava dezessete horas. Meu corpo parecia doente, como se eu estivesse ficado no chão por horas e todo mundo tivesse passado por cima de mim, ignorando completamente minha existência.

Levantei, peguei meu celular e reli a mensagem enviada por Heitor. Eu merecia cada palavra do que estava escrito ali. Ele jamais entenderia meu ato de amor à filha dele. Nem mesmo eu entendia.

Agora Ben tinha envolvido meu irmão naquela história. Tudo ia ficando cada vez mais complicado.

- Eu... Vou dar uma saída. – falei, indo em direção à porta.

- Não volte. Vá para o apartamento, tome um banho e durma. Não se preocupe que não sairei daqui sem você.

Assenti, com a cabeça.

Quando meus olhos encontraram a luz do sol, minha fraqueza pareceu ainda mais exposta, como se o mundo inteiro pudesse ver o quão frágil eu estava.

E eu sabia do que precisava. Algo que usei pouquíssimas vezes, mas que me deixou ativa, acordada, resistente e forte como uma rocha.

Peguei um táxi e fui parar longe dali, num dos piores bairros da capital de Noriah Norte. Fazia tempo que eu não entrava naquele beco, que já era escuro mesmo durante o dia. No final de tarde então, como naquele momento, era ainda mais sombrio e decadente.

Os olhos das pessoas nas calçadas e conversando dentro dos pátios pequenos, gradeados, voltavam-se para mim. Eu era estranha naquele momento. Fazia anos que não pisava ali.

Mas eu sabia o caminho de cor. E era como se o tempo não tivesse passado. Quando dei por mim, estava subindo a rua estreita, batendo na porta do homem que vendia drogas para Jardel. O mesmo que volta e meia o ameaçava de morte e mandava bater nele até quase matar, para lembrar-lhe das dívidas.

A porta se abriu e o homem moreno, de ombros largos e cabelos escuros me encarou:

- Você? – enrugou a testa, tão surpreso quanto eu por ter parado ali.

- Lembra de mim?

- Como esquecer da mulher que nunca desistiu do seu homem? – falou, não demonstrando sentimentos.

- Eu... Preciso de algo que me deixe alerta e forte. Sem muitos efeitos colaterais.

Ele riu, saindo da porta, abrindo passagem para mim. A mesa grande, em madeira, estava cheia de drogas variadas. Uma enorme pilha com LSD estava quase caindo, envergada de tanta quantidade. Ele estava embalando algumas.

- Aqui tudo tem efeito colateral, docinho – ele riu, me olhando dos pés à cabeça – E você sabe bem disso. E não preciso explicar que os efeitos são bons, não é mesmo? Mas o que são estes pequenos detalhes frente a tudo que lhe é proporcionado?

Olhei nos olhos dele e lembranças vieram à minha mente. Eu já tinha estado ali várias vezes, em busca de Jardel, que muitas vezes estava no quarto escuro no fundo do terreno, deitado, com a seringa injetada sem ter conseguido sequer retirar. Mais de uma vez ele não estava sozinho, acompanhado de mulheres, deitados numa cama, todos juntos, sem saber sequer quem eram e onde estavam.

O que eu estava fazendo ali? Que loucura passou pela minha cabeça quando fui parar naquele lugar?

- Quero qualquer coisa. – Falei, sabendo que sair sem levar nada era impossível.

- Cristal. – ele me mostrou num saquinho. – É nova. Você vai curtir.

- Pode ser.

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