- Maconha. É natural e você, mais do que ninguém, sabe dos efeitos. – Sorriu debochadamente.
- Os dois. – Falei nervosamente, pegando o dinheiro da bolsa com as mãos trêmulas.
Assim que paguei, me dirigi à porta e ele se pôs na minha frente:
- Quem diria que você apareceria aqui, depois de tantos anos... E tudo que houve?
- Também me impressionei de vir parar aqui. – Confessei para mim mesma, em voz alta.
Ele deu um sorriso trêmulo:
- Venha sempre que quiser. Recebo coisas novas antes dos demais em Noriah Norte.
- Ok.
Tentei abrir a porta, amedrontada. Só estávamos nós dois ali e aquilo não era nada seguro. Por sorte, ele me deixou sair.
- Pode chamar um táxi para mim? – perguntei.
- Não entra táxi aqui. Pode ir na boa. Ninguém vai mexer com você. - Garantiu.
- Obrigada. – Falei, saindo de cabeça baixa, com as pernas parecendo gelatina, de tão moles que estavam.
Levei alguns minutos para descer a ladeira e voltar ao limite do bairro. Assim que consegui sair na rua asfaltada e iluminada pelos postes, parece que uma nova vida foi me dada.
Chamei um táxi e quando percebi, estava pedindo para ir ao meu apartamento.
Subi as escadas sentindo um cansaço extremo. Abri a porta e deitei no sofá. Peguei o celular e olhei novamente a mensagem de Heitor. Tudo parecia um sonho, ou um pesadelo. Eu nem conseguia distinguir.
Doía a perda de Salma, doía abrir mão de Heitor, doía saber que ele dormiu com a minha melhor amiga e isso não importava que foi antes de me conhecer, porque o sentimento de raiva era o mesmo. Doía encontrar o amor da minha vida e jogar tudo para o alto, sabendo que talvez nunca mais pudesse ser feliz. Mas o que doía ainda mais era ter que ir ao lugar onde fui mais infeliz na minha vida buscar drogas a fim de curar a dor.
Abri a bolsa e olhei as coisas na minha bolsa. Retirei e meus olhos ficaram trêmulos e a visão turva. Não lembro quando dormi ou comi pela última vez. Fui com dificuldade até o banheiro e joguei tudo no vaso sanitário, dando a descarga e deixando ir embora pelo esgoto. Eu não precisava daquela porra. Eu era forte. Se não por mim, pela bebê que agora me pertencia e era minha responsabilidade.
Voltei para o sofá e deitei. Sabia que tinha que voltar ao hospital, mas não sabia de onde tirar forças para levantar.
De repente a porta se abriu e vi Daniel entrando. Ele me encarou, sem dizer nada.
- Você tem chave? – Perguntei.
- Sim, Salma de meu uma cópia – ele entrou e fechou. – Você... Não está bem.
- Acho que não – fechei os olhos – Minha cabeça dói e tudo gira.
- Está pálida. Precisa descansar.
- Acho que estou com fome. – Confessei.
Ele veio até mim e me ajudou a levantar. Levou-me até meu quarto e me pôs deitada, retirando meu calçado e cobrindo-me.
- Durma um pouco que vou fazer algo para você comer.
- Obrigada. – Fui incapaz de recusar.
Deitei a cabeça no travesseiro fofo e imaginei que não dormiria. Mas quando menos esperei, meus olhos se fecharam. E acabei adormecendo.
Despertei com Daniel me chamando. Ele havia feito uma sopa com alguns poucos legumes que tinham em casa. Me trouxe um prato na cama. E estava bom. Acho que comer algo leve me faria bem.
Me senti bem melhor depois da janta, conseguindo, inclusive, raciocinar.
No entanto, ainda de madrugada, depois de colocar o relógio para despertar, voltei ao hospital, acompanhada de Daniel.
Quando desci do carro, ele fez o mesmo.
- Você não está trabalhando hoje na Babilônia? – perguntei. – Não é segunda-feira para você estar aqui.
- Eu faltei. Não estou me sentindo muito bem.
- Ah, Daniel... – eu o abracei. – Me desculpe por ter sido tão fria com você nestes últimos tempos, quando tudo que fez foi ser legal com minha amiga.
- Tudo bem, Babi. – Ele alisou minhas costas.
- Eu sei que você também sofre, assim como eu e Ben. E sei que ela o amava, como nunca amou alguém na vida.
- Nunca duvidei dos sentimentos dela. Salma era uma excelente pessoa.
- Sim.
- Você vai ficar com a menina?
- Sim, ela me pediu isso.
- E... Sabe quem é o pai?
- Não – menti – Ela nunca quis contar.
- E se ele souber que ela estava grávida? Afinal, não temos muita certeza sobre esta história. Não tem medo de ele vir atrás e querer a criança?
- Eu creio que ele não sabia, Daniel. E caso saiba... Não sei o que fazer. Mas a última coisa que ela pediu foi que eu cuidasse da filha. E farei isso, não importa o que aconteça.
Entramos no hospital e nos dirigimos para a maternidade. Assim que chegamos na recepção do Berçário, vimos Ben deitado numa poltrona, quase dormindo.
- Babi? – ele levantou, quando me viu. – O que está fazendo aqui? Não ia descansar?
- Descansei e voltei. – Sorri. – Confesso que quase viajei e sumi, ficando fora por um bom tempo. Mas o que importa é que minha sanidade venceu. Sou uma vencedora, acredite.
- E eu não sei? – ele riu.
Fui até o vidro, ver Maria Lua. Ela estava dormindo.
- Só acordou uma vez depois que você saiu. – Ben disse. – E não chorou. É uma fofa.
- Ben, não fique longe de mim, por favor – o abracei, aconchegando meu minha cabeça no peito dele. – Eu não quero e não posso ficar sozinha.
Ele levantou meu queixo:
- O que houve?
- Eu quase fiz algo muito errado.
Ben me encarou, sem dizer nada. Não sei o que se passou na cabeça dele naquele momento, que ele não justificou, já que Daniel estava ali.
Daniel ficou conosco até amanhecer. Era nove horas quando a pediatra chegou e 11 horas quando finalmente Maria Lua foi dada nos meus braços, com a alta assinada, podendo ir para casa, com vária recomendações médicas.
Maria Lua foi o primeiro bebê que eu peguei no colo. Mas parecia que tinha feito aquilo a vida inteira, tamanha habilidade que eu parecia ter.
Daniel nos levou no carro dele e minutos depois me vi subindo as escadas do prédio, com um bebê no colo, cheia de bolsas e sacolas com fraldas e leite.
Ironicamente saí com uma camiseta do Bon Jovi e muitos sonhos na cabeça. Voltei com um bebê nos braços, sem a minha melhor amiga e cheia de bagagens.
Enquanto Ben abria a porta, olhei para aquele serzinho, que dormia feito um anjo no meu colo e me senti culpada por ter pensado em usar qualquer tipo de droga para acalentar minha dor.
- Ela está aqui conosco – ele sorriu tristemente – Eu sinto a presença da nossa amiga.
- Você não vai mais viajar para Itália, não é mesmo?
- Não... Não vou deixar vocês duas por nada... Nunca em toda a minha vida. Somos uma família... Para sempre.
Senti meus olhos embaralharem com as lágrimas:
- Deixei Heitor para ficar com a filha dele. Isso não é irônico?
- Eu duvido que ele teve culpa do que houve. Entende que ele sequer sabe? Ainda assim, você sabe o que eu temo: perder nossa Malu... Só isso.
- Ben, eu estou destruída de tê-lo deixado, mesmo sentindo raiva dele. Mas olho para esta criaturinha e meu coração simplesmente se renova. Que sentimento é este que me invade, tomando conta de mim completamente?
- Isso se chama amor materno. E você não precisa ter parido a criança para sentir-se mãe.
- Lembra que combinamos de ir beber no Hazard? – ri, olhando para ele.
Ben enfim abriu a porta do nosso apartamento e dei de cara com Sebastian, sentindo um frio na barriga.
- Que porra você fez, Babi? – ele levantou do sofá, me olhando de forma séria.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Como odiar um CEO em 48 horas
Por que pula do 237 para o 241 ?...