Parei ao lado dele, olhando para a escuridão do mar, mesclado ao céu estrelado.
- Quer se matar? – perguntei.
A cabeça dele virou na minha direção e não disse nada.
- Vai me ignorar? – Insisti.
- Vá embora, assombração.
- Assombração? – eu ri. – Tenho cara de assombração para você?
- Tem...
- Hum, eu sou uma droga, não é mesmo? – relembrei as palavras dele. – Mas eu acho que posso ser uma droga melhor que o seu uísque, desclassificado mor.
- Sai daqui, porra! Não posso nem sonhar em paz?
Peguei o braço dele e o fiz virar na minha direção:
- Isso não é um sonho, desclassificado. Vamos embora.
- Eu odeio você. – falou, com a voz baixa.
- Eu sei... Nem por isso vou deixá-lo morrer aqui.
Ele riu, ironicamente:
- Acha que eu me mataria... Por você? – quase caiu na minha direção quando veio uma onda mais forte.
Segurei o corpo dele e comecei a andar, com dificuldade.
- Vamos lá. Você precisa largar esta porra de bebida e ser responsável. Sua vida vai mudar, playboy.
- Bárbara... – ele falou, confuso.
- Eu mesma... Seu pior pesadelo – comecei a rir, nervosamente – E a pessoa que mais ama você no mundo todo.
- Eu... Quero ficar aqui.
- Não vai ficar.
Quando saímos da água, peguei meus tênis na outra mão e segui pela areia, agarrada a ele, colocando seu braço sobre meus ombros:
- Vamos embora, Anon.
- Sim, senhora Bongiove.
Anon se posicionou do outro lado dele e o levamos assim, até o carro.
- Para onde quer levá-lo, senhora Bongiove?
- Ele me levou para o Palace Noriah Norte – lembrei – Eu vou levá-lo para a casa dele. – disse firmemente.
- Vai ao apartamento dele? – Anon perguntou surpreso.
- Tem algo lá que eu não possa ver? – sondei.
- Não, senhora. Tudo certo por lá.
Suspirei, aliviada. Por um breve momento, temi que Cindy pudesse estar lá.
- Ele tem feito muito isso... De beber? – perguntei.
- Sim. – Ele respondeu.
Olhei para Heitor, praticamente morto no banco ao meu lado.
- Ele tem que parar com isso. – falei.
- Mas quem sou eu para dizer-lhe, senhora Bongiove? Ele não me ouve. Aliás, não ouve ninguém.
- E... Cindy? – perguntei, tentando não parecer curiosa e temerosa da resposta.
- Eu... Não gostaria de falar coisas das quais não tenho permissão, senhora Bongiove. Mal tenho certeza se estarei neste emprego amanhã, quando o senhor Casanova souber que liguei para a senhora.
- Entendo... Mas não se preocupe. Ele não vai fazer nada contra você.
Fizemos o restante do trajeto em silêncio. O carro entrou pelo portão automático do prédio mais caro de Noriah Norte. Jamais passou pela minha cabeça conhecer aquele lugar um dia.
Anon subiu três andares com o carro antes de estacioná-lo ao lado do Maserati, num espaço privativo.
Assim que ele desligou o carro, falei:
- Pode me ajudar com ele?
- Sim, senhora. Claro.
Ele acordou quando o retiramos do automóvel. O levamos até um elevador.
Anon apertou o botão e a porta se abriu. Entrei com Heitor, que se apoiava em mim com os braços sobre meus ombros:
- Qual andar? – perguntei.
- O elevador é privativo. A senhora aperta o botão e chegará diretamente no andar dele. É a cobertura. Todo o andar é do senhor Casanova.
Eu ri:
- Não poderia ser diferente, não é mesmo? Só falta me dizer que é duplex.
- É duplex. – Ele sorriu, tentando ficar sério.
Olhei para Heitor:
- E de que adianta o dinheiro, não é mesmo, desclassificado? O que o faz ficar deste estado? Consegue me dizer?
- Você. – Ele olhou nos meus olhos, fazendo um frio percorrer minha espinha.
- Eu... – Olhei para Anon, sem conseguir pronunciar uma palavra sequer.
Ele apertou o botão pelo lado de fora e a porta se fechou. O elevador era todo espelhado, inclusive no teto.
- Elevadores não lembram nada para você? – Heitor riu, enquanto tirava o braço dos meus ombros, escorando-se numa das extremidades espelhadas e me puxando de encontro a ele.
- Sim... Lembram - senti meu coração bater forte – Você foi um cavalheiro comigo naquela noite, no Palace North B. Mas eu... Não tenho certeza se vou conseguir ser uma dama. – Minha intimidade umedeceu ao toque das mãos dele nas minhas costas.
Nos encaramos, grudados. Os olhos dele estavam estranhos e sequer sei se ele sabia o que estava acontecendo:
- Eu amo você, desclassificado – senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. – Me perdoa pelo que eu fiz.
- Não... – ele disse seriamente.
Toquei o rosto dele, que não esboçou nenhuma reação. Estávamos encharcados. Eu sabia que de nada adiantava conversar com ele naquele estado. Mas era o único momento que eu me sentia a vontade para dizer tudo que sentia, na certeza de que ele não lembraria nada no dia seguinte. Eu era mesmo uma covarde.
- Sou louco por você – ele disse, me apertando contra sua ereção evidente, os lábios entreabertos, como se estivessem me chamando.
- Amo você, mesmo querendo odiá-lo. E vou amar para sempre.
- Amo você, porra.
- Como resistir a você, Heitor? Eu tremo só de sentir o quanto você me deseja. – Toquei seu membro sobre a calça, completamente duro.
Comecei a abrir os botões da camisa dele, grudada ao corpo. Três foram suficientes para ver seu peito. Beijei, passando a língua levemente pela pele salgada.
Ouvimos um som e a porta do elevador se abriu.
- Chegamos em casa. – Ele me olhou, tentando andar em direção à porta.
- Deus... – suspirei, olhando para o teto – Insisto, o que quer de mim?
- Eu quero você. – Heitor respondeu por Deus.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Como odiar um CEO em 48 horas
Por que pula do 237 para o 241 ?...