- Mas eu não acho que ele goste dela.
- Então qual o motivo de não a tirar de vez da sua vida? Ele disse que me amava. Eu consegui ver o sentimento nos olhos dele... Mas não em todas as suas ações.
- E você, Babi? Demonstrou seus sentimentos?
- Demorei a entender o que eu sentia de verdade por ele. Depois, teve a fase do luto: eu não queria aceitar o sentimento que crescia dentro de mim mais que as pernas de Maria Lua – ri – Eu fiz tudo errado, porque eu sou desastrada, egoísta, medrosa, covarde, imatura, idiota...
- Desclassificada? – ele enrugou a testa.
- Acho que sim. – Tapei os olhos com as mãos. - Mas de que adiantaria, entende? A loira do pau do meio sempre teve o lugar dela. E não vai ser eu que vou conseguir tirar.
- Não mesmo. Vai ser Maria Lua. Ela vai destronar a Barbie das trevas.
- Será? – meio que me perguntei em voz alta – Ou elas vão reinar lado a lado no futuro?
Ben levantou e pegou uma pilha de roupas, que caíram no chão:
- Eu vou procurar Tony. – Ele afirmou.
- Jura? – comecei a rir – Agora?
- Amanhã. Eu preciso ir atrás da minha felicidade – ele veio andando na minha direção, gesticulando, tropeçou na pilha e um caderno veio parar sobre meus pés, aberto. A caneta rolou de dentro dele, parando no rodapé.
Baixei a cabeça e consegui ler a seguinte frase: “Daniel é um terror na cama. Ele me fode com força, como se o mundo fosse acabar amanhã. O fato de ele tampar a minha boca pra que eu não emita nenhum tipo de som que possa acordar Ben e Babi, me deixa com ainda mais tesão.”
Fechei meus olhos, tentando não ler o restante.
- Isso é o que ela chamava de diário? – Ben pegou o caderno escrito com caneta da primeira linha, na página um, até a última, seguindo pela contracapa. – Ela tinha mencionado isso.
- Seria uma puta intromissão de privacidade.
- Ela está morta, caralho.
- Ben, quanta insensibilidade.
- Vai dizer que quem escreve um diário não faz para que seja lido após sua morte? Quem, em são consciência, escreve sobre sua vida para depois queimar ou jogar fora? É claro que ela queria que fosse lido, porra.
- Talvez você tenha razão.
Ele abriu numa página aleatória:
- Vamos ver o que ela escreveu aqui... “Às vezes ele pede para eu colocar uma peruca loura. Eu até comprei uma, não pegando mais emprestadas as da Babilônia. E quando eu gozo, ele me pede que o chame de “desclassificado”. Tenho medo que um dia ele me chame de Bárbara enquanto transamos.”
Senti meu coração batendo intensamente e o ar faltar nos meus pulmões.
- Ah, que porra é essa? – Ben me olhou.
- De quem estamos falando? – perguntei, quase sem voz.
Ele passou os olhos pelo escrito, lendo somente para si.
- Ben, fale, porra.
- Daniel.
- Desgraçado – bati na parede, com força, machucando a minha mão – Como ele foi capaz? Ela o amava... – senti as lágrimas escorrendo pelos meus olhos.
Ben fechou imediatamente o caderno. Pude ver os olhos dele lacrimejando:
- Talvez seja muito pessoal mesmo.
- Abre... Veja a data. – Pedi.
- Não sei se devemos.
- Não vai mudar de ideia agora. Temos que saber sobre o dinheiro que ela deixou para Maria Lua... E... O relacionamento dela com Heitor.
Ele abriu novamente na primeira página:
- Aqui é depois... Ela já estava grávida. Menciona a ecografia.
- Tem que ter mais destes cadernos por aqui – fui até o armário, jogando tudo no chão.
Cada pilha de roupas continha vários cadernos embaixo. Conforme eu ia achando, Ben ia pegando-os e organizando por data. Ao final, juntamos 15 cadernos brochura, pequenos, escritos por completo.
Havia anoitecido e não tínhamos sequer ligado as luzes dos outros cômodos da casa ou fechado as janelas. Estávamos completamente ansiosos e envolvidos naquilo.
- Vou pedir uma pizza – ele disse, olhando para os vários cadernos empilhados milimetricamente – Esta noite passaremos em claro.
- Não precisa, Ben. É só procurar por data o que precisamos.
Maria Lua começou a chorar. O quarto dela estava virado numa bagunça sem fim, com roupas, calçados e lingeries por todos os lados. Me embrenhei com os pés por cima de tudo, quase caindo, até chegar ao meu quarto, onde ela chorava na escuridão. Liguei as luzes, peguei-a no colo e vi lágrimas escorrendo:
- Acho que está com fome, não é mesmo? – um sorriso sem dentes apareceu entre as lágrimas – Esta mamãe precisa ser mais atenta – toquei seu nariz perfeito, tão pequeno quanto a ponta do meu dedo.
Preparei o leite e sentei numa poltrona confortável enquanto ela sorvia tudo de forma gulosa, deixando o restinho habitual ao final da mamada.
- Eu estou tão curiosa para saber como você foi concebida, meu amor! Ainda assim tenho medo de chegar nesta parte. Meu coração está batendo tão forte que temo ter um ataque. O que seu papai fez, hein? – ela começou a rir, os olhinhos brilhando, fixos nos meus – Eu amo aquele desclassificado. E quando você crescer, vai entender sobre homens como ele: completamente canalhas, mas que você não vive sem, daquele tipo que só de olhar, você se derrete... Explicando em poucas palavras: preciso quase de uma concha para juntar-me. E você, sendo a filha dele, também me deixa em maus lençóis, com estes olhos verdes que são como os dele, mas ao mesmo tempo o formato é igual aos dela. Eu preciso de colherinha pra você também, querida Maria Lua, luz da minha vida, nosso raio de sol.
- Ah, por meus sais. Você precisa vir aqui, Babi – Ben gritou – Agora! Traga água por favor. Ou melhor, preciso de algo mais forte... Bem forte.
Cheguei no quarto e olhei para ele, sentando no chão, com um dos cadernos abertos sobre os joelhos:
- Preciso de cachaça. – Ele me encarou.
- Não temos isso, Ben. Só tem leite para beber nesta casa... E você sabe disto.
- Deus, a que ponto chegamos! – ele olhou para o teto – Só tem leite para afogar as mágoas.
- Leia para mim, por favor. – Falei, temerosa.
- Eu não acho que Malu deva escutar não. Pode ficar traumatizada.
Suspirei:
- É tão grave assim?
Ele assentiu com a cabeça.
- Eu sempre imaginei que ele era um desclassificado... Sempre.
Os olhos de Ben não se desviaram do meu:
- Ele nunca foi. Você se enganou.
- Como assim?
- Salma ficou louca, literalmente louca. E só não acho que a pior coisa que ela fez na vida foi engravidar porque temos Maria Lua aqui conosco.
- Eu... Devo botá-la para dormir, mesmo ela tendo acordado agora?
- Pegue – ele me entregou o caderno fechado – Dobrei as páginas que lhe interessam, porque creio que você não vai querer ler mais nada depois disso.
Ele levantou e olhou pela janela, pensativo. Depois de um tempo, disse:
- Caralho, a gente nunca conhece as pessoas de verdade.
- Ben, não me assuste.
- Eu estou tão decepcionado.
Olhei Maria Lua, que se remexia parecendo querer deixar meu colo e sair andando. Ben veio até mim e pegou-a:
- Vou dormir com ela esta noite, Babi.
- Mas...
Ele tocou meus lábios, me impedindo de falar:
- Primeiramente, você precisará de um tempo sozinha para absorver tudo isso. Segundo: vou mesmo atrás de Tony, agora mais do que nunca. Eu preciso dele. Só vou desistir se ele disser que não me ama da forma como eu o amo.
- E... Vai me deixar sozinha?
- Segunda-feira estarei de volta, eu juro.
Deixei-o levar Maria Lua e peguei o tal diário que era dividido em tantos cadernos que mal ficavam numa pilha sem cair. Mas era só um que me importava... O que mencionava “ele” e a forma como transaram. Por mais que doesse em mim (e eu sabia que doeria de uma forma talvez nunca sentida antes), eu precisava saber a verdade. Se ela gostou; se ele falou palavras bonitas e ao mesmo tempo ordinárias ao pé do ouvido dela; se ela teve um orgasmo intenso como eu tinha quando ele me fazia gozar; se ela fez sexo oral nele... Ou ele nela.
Deitei na cama e abri na primeira página dobrada. Só eu mesma: fazer questão de ler o que eu sabia que acabaria comigo, talvez me destruindo por completo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Como odiar um CEO em 48 horas
Por que pula do 237 para o 241 ?...