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O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR romance Capítulo 401

Três dias depois, o silêncio no quarto que havia virado um cativeiro era cortante. A madrugada tinha sido longa, pesada, marcada por um frio úmido que entrava pelas frestas das paredes. O corpo de Isabela, encolhido no canto, doía inteiro. Seus pulsos estavam marcados pelo aperto das cordas e o cheiro de sangue seco impregnava a pele. Ela não sabia se tremia mais pelo frio ou pela mistura de medo e ódio que queimava por dentro.

O barulho de passos ecoou no corredor estreito. Pesados, firmes. O dono do morro se aproximava. Ela fechou os olhos por um instante, tentando se preparar para o que viria.

A porta se abriu com um rangido metálico. Sem uma palavra, ele entrou. Na mão, um balde. Antes que ela pudesse reagir, a água gelada caiu sobre seu corpo, arrancando dela um grito agudo.

— Acorda, granfina. — a voz dele cortou o ar como uma lâmina, carregada de autoridade. — Dorme demais, tu.

Isabela arfava, os dentes batendo.

— Pelo amor de Deus… — murmurou, tentando se afastar.

Ele deu um sorriso de canto, mas sem humor.

— Trouxe um rango pra tu. — largou sobre uma caixa velha um pão amanhecido e um copo de água. — Come aí. É o que tem.

Ela olhou para o “banquete” com nojo, mas a fome doía no estômago. Mesmo assim, a garganta apertou.

— Eu não aguento mais… me deixa ir embora… — a voz dela se quebrou. — Me mata logo.

Ele se agachou diante dela, com os olhos frios como pedra.

— E cadê a mulher marrenta, cheia de pose, que eu vi bater no peito e fazer ameaça? Cadê? Sumiu? — a provocação vinha carregada de desprezo.

— Me mata… — repetiu ela, com um fio de voz, mas o olhar ainda desafiador.

O bandido soltou um riso curto.

— Te matar? Não, granfina… teu corpo ainda me interessa. E tu acha que vou te dar essa moleza? Eu sou ruim, mas não sou burro.

Ele se levantou, o semblante endurecido.

— Tu é tão ruim que nem o diabo te quer no inferno. Gente como tu tem que sofrer, e sofrer muito.

Isabela fechou os olhos, tentando conter as lágrimas.

— Eu já estou sofrendo…

— Sofrendo? — ele se aproximou de novo, a voz baixa, carregada de veneno. — Tu acha que vai passar batido tudo que tu fez? Não, minha filha… Aqui no meu morro tem lei. E sabe qual é? A mulher grávida é sagrada. Igual Maria, mãe de Jesus. Por isso que ela virou santa. E tu… tu mexeu com mulher grávida. Isso é inaceitável.

Ela engoliu seco, o rosto pálido.

— Tu é ruim, Isabela. Ruim num nível que não tem nem comparação… mas vou tentar: tu é pior que rato de esgoto doente, que espalha peste e mata sem ninguém ver. Pelo menos o rato é bicho, segue o instinto. Tu não… tu é ruim por escolha.

O silêncio ficou pesado. O som distante de tiros no morro ecoou, mas ali, naquele quarto, a tensão tinha outro calibre.

— Depois tu vai tomar um banho. — ele disse, olhando o rosto machucado dela. — Pra tirar esse sangue todo. Não é por pena, não… é porque aqui não quero ver carcaça suja.

Isabela, num impulso desesperado, puxou as cordas que prendiam seus pulsos.

Ela manteve os olhos baixos. Respirar já era esforço suficiente.

— Não adianta não… — continuou, o tom frio. — Aqui no meu morro, quem deve, paga. E a tua conta tá no vermelho, entendeu?

Silêncio.

Ele deu tapa com toda força na cara dela.

— Sabe o que é perder um carregamento? Sabe? É perder respeito. É perder dinheiro. É ver nego que devia me temer começando a achar que pode me testar.

Ele respirou fundo, tentando conter a raiva.

— E aí eu olho pra tu, toda acabada, e lembro que tu mexeu com quem não devia. E veio se esconder no meu morro. Minha raiva só aumenta vadia.

Isabela fechou os olhos, permitindo que as lágrimas escorressem. Em silêncio, pensou:

“Eu te odeio, Celina. Me proíbo de morrer antes de acabar com você e com as suas monstrinhas.”

— Tá chorando por quê? — ele se levantou, andando de um lado pro outro. — Tu não chorou quando fez maldade com a velha, né? Não chorou quando foi atrás de mulher grávida

Ele parou diante dela outra vez, a sombra dele cobrindo o corpo pequeno e abatido.

— Tu é ruim, Isabela. Sabe o que tu me lembra? — fez uma pausa, buscando a comparação. — Aquelas pragas que comem por dentro da casa, escondidas… cupim. Vai destruindo tudo, até cair. E tu vai cair. Mas hoje você vai desejar nunca ter nascido.

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