Três dias depois, o silêncio no quarto que havia virado um cativeiro era cortante. A madrugada tinha sido longa, pesada, marcada por um frio úmido que entrava pelas frestas das paredes. O corpo de Isabela, encolhido no canto, doía inteiro. Seus pulsos estavam marcados pelo aperto das cordas e o cheiro de sangue seco impregnava a pele. Ela não sabia se tremia mais pelo frio ou pela mistura de medo e ódio que queimava por dentro.
O barulho de passos ecoou no corredor estreito. Pesados, firmes. O dono do morro se aproximava. Ela fechou os olhos por um instante, tentando se preparar para o que viria.
A porta se abriu com um rangido metálico. Sem uma palavra, ele entrou. Na mão, um balde. Antes que ela pudesse reagir, a água gelada caiu sobre seu corpo, arrancando dela um grito agudo.
— Acorda, granfina. — a voz dele cortou o ar como uma lâmina, carregada de autoridade. — Dorme demais, tu.
Isabela arfava, os dentes batendo.
— Pelo amor de Deus… — murmurou, tentando se afastar.
Ele deu um sorriso de canto, mas sem humor.
— Trouxe um rango pra tu. — largou sobre uma caixa velha um pão amanhecido e um copo de água. — Come aí. É o que tem.
Ela olhou para o “banquete” com nojo, mas a fome doía no estômago. Mesmo assim, a garganta apertou.
— Eu não aguento mais… me deixa ir embora… — a voz dela se quebrou. — Me mata logo.
Ele se agachou diante dela, com os olhos frios como pedra.
— E cadê a mulher marrenta, cheia de pose, que eu vi bater no peito e fazer ameaça? Cadê? Sumiu? — a provocação vinha carregada de desprezo.
— Me mata… — repetiu ela, com um fio de voz, mas o olhar ainda desafiador.
O bandido soltou um riso curto.
— Te matar? Não, granfina… teu corpo ainda me interessa. E tu acha que vou te dar essa moleza? Eu sou ruim, mas não sou burro.
Ele se levantou, o semblante endurecido.
— Tu é tão ruim que nem o diabo te quer no inferno. Gente como tu tem que sofrer, e sofrer muito.
Isabela fechou os olhos, tentando conter as lágrimas.
— Eu já estou sofrendo…
— Sofrendo? — ele se aproximou de novo, a voz baixa, carregada de veneno. — Tu acha que vai passar batido tudo que tu fez? Não, minha filha… Aqui no meu morro tem lei. E sabe qual é? A mulher grávida é sagrada. Igual Maria, mãe de Jesus. Por isso que ela virou santa. E tu… tu mexeu com mulher grávida. Isso é inaceitável.
Ela engoliu seco, o rosto pálido.
— Tu é ruim, Isabela. Ruim num nível que não tem nem comparação… mas vou tentar: tu é pior que rato de esgoto doente, que espalha peste e mata sem ninguém ver. Pelo menos o rato é bicho, segue o instinto. Tu não… tu é ruim por escolha.
O silêncio ficou pesado. O som distante de tiros no morro ecoou, mas ali, naquele quarto, a tensão tinha outro calibre.
— Depois tu vai tomar um banho. — ele disse, olhando o rosto machucado dela. — Pra tirar esse sangue todo. Não é por pena, não… é porque aqui não quero ver carcaça suja.
Isabela, num impulso desesperado, puxou as cordas que prendiam seus pulsos.
Ela manteve os olhos baixos. Respirar já era esforço suficiente.
— Não adianta não… — continuou, o tom frio. — Aqui no meu morro, quem deve, paga. E a tua conta tá no vermelho, entendeu?
Silêncio.
Ele deu tapa com toda força na cara dela.
— Sabe o que é perder um carregamento? Sabe? É perder respeito. É perder dinheiro. É ver nego que devia me temer começando a achar que pode me testar.
Ele respirou fundo, tentando conter a raiva.
— E aí eu olho pra tu, toda acabada, e lembro que tu mexeu com quem não devia. E veio se esconder no meu morro. Minha raiva só aumenta vadia.
Isabela fechou os olhos, permitindo que as lágrimas escorressem. Em silêncio, pensou:
“Eu te odeio, Celina. Me proíbo de morrer antes de acabar com você e com as suas monstrinhas.”
— Tá chorando por quê? — ele se levantou, andando de um lado pro outro. — Tu não chorou quando fez maldade com a velha, né? Não chorou quando foi atrás de mulher grávida
Ele parou diante dela outra vez, a sombra dele cobrindo o corpo pequeno e abatido.
— Tu é ruim, Isabela. Sabe o que tu me lembra? — fez uma pausa, buscando a comparação. — Aquelas pragas que comem por dentro da casa, escondidas… cupim. Vai destruindo tudo, até cair. E tu vai cair. Mas hoje você vai desejar nunca ter nascido.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
depois que começou a cobrar ficou ruim seguir com a leitura...
Desde quando esse site cobra? Já li inúmeros livros e é a primeira vez que vejo cobrar....
Pq não abre os capítulos? Mesmo pagando?...
Eu comprei os capítulos, mas eles não abrem. Continuam bloqueados, mesmo depois de pago...
Comprei os capítulos, mas não consigo ler. Só abrem depois de 23:00 horas. Não entendi...