Magnus
O som das vozes ecoava pelos corredores da casa como trovões à distância. Mesmo sem ver a cena, eu sabia exatamente o que estava acontecendo. Leonardo e Amber estavam brigando de novo.
A intensidade dos gritos, o tom carregado de frustração… Era quase palpável.
Passei a mão livre pelo rosto, sentindo a exaustão pesar sobre mim. Minha perna ainda estava engessada, o braço imobilizado na tipoia, e a cada dia, a sensação de inutilidade se tornava mais insuportável.
Antes, eu teria feito algo. Antes…
Mas o que era esse antes?
Essa era a pergunta que me atormentava. Eu via fragmentos de um passado que não conseguia acessar por completo. Via Amber e Leonardo como parte dele. Mas Gabriela…
Ela era um buraco dentro de mim. Algo que eu sabia que deveria lembrar, algo que meu corpo ansiava, mas que minha mente se recusava a recuperar.
E agora, a voz de Amber carregada de dor me trouxe de volta à realidade.
Eu não podia mais ficar parado.
Peguei o celular e disquei o número dela.
Gabriela atendeu no terceiro toque. Sua voz veio tensa, hesitante.
"Magnus?"
Um arrepio percorreu minha pele. Algo tão simples, meu nome na boca dela, e ainda assim me atingia de um jeito que eu não sabia explicar.
"Oi, Gabi." Minha voz saiu baixa e tensa.
Ela ficou em silêncio por um instante.
"Aconteceu alguma coisa para você me ligar?"
Passei a língua pelos lábios, respirando fundo antes de responder.
"Não posso simplesmente querer ouvir sua voz?" O arrependimento veio no mesmo instante.
Gabriela soltou um suspiro do outro lado da linha.
"Magnus… você nunca foi alguém que age por impulso. Se me ligou agora, é porque precisa de algo. Sentimentos não estão em pauta se você ainda não se lembrou de nós."
Fechei os olhos, pressionando a ponte do nariz.
"Você tem um ponto. Não sei como chamar isso que sinto." Olhei irritado para meu braço enfaixado, jogando minha cabeça para trás.
"Então me diz o que te fez ligar." O tom dela ficou mais contido, mas havia um resquício de melancolia ali.
"Amber e Leonardo. Eles estão se destruindo lá embaixo."
Gabriela suspirou pesadamente.
"Isso já era esperado." Sua voz tinha um tom de compreensão. "Amber está tentando lidar com algo muito maior do que ela consegue processar. E Leonardo… bem, Leonardo nunca soube lidar com as emoções da forma correta. Era uma ferida fechada e agora… foi rasgada novamente."
Eu apertei o celular com mais força.
"Ele quer protegê-la, mas ela acha que ele está tentando controlá-la." Resumi.
"E não é isso?" Gabriela rebateu, sua voz sem rodeios.
Meu maxilar trincou.
"Ele só quer garantir que ela não seja enganada."
"E como você garantiria isso, Magnus?" Ela continuou, seu tom neutro, mas afiado. "Se fosse com você, como lidaria com isso?"
Essa era a questão. Eu não sabia.
Antes, eu teria respondido sem hesitar. Mas agora? Meu próprio instinto não era confiável.
"Eu só…" Fechei os olhos, sentindo a dor latejante na perna. "Eu só queria poder fazer alguma coisa."
O silêncio dela foi longo dessa vez.
"Às vezes, a melhor coisa que podemos fazer é apenas estar lá." Sua voz veio mais suave. "Sem controlar, sem impor, sem buscar soluções. Só estar ali, Magnus. Amber só precisa saber que tem um apoio ao lado dela. Ela quer ser amada pela mãe. A rejeição está latejando em suas veias. E a atitude de Leonardo está reforçando isso ainda mais."
Algo dentro de mim reagiu àquelas palavras.
Gabriela sempre soube exatamente como colocar tudo em perspectiva. Mesmo que doesse.
E doía.
Minha mão apertou o celular, a ansiedade crescendo no meu peito.
"Você podia estar aqui." Soltei, sem pensar.
O silêncio dela foi imediato.

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