Amber
A consciência veio devagar, como se eu estivesse emergindo de um mar profundo e escuro. A dor em meu corpo era o primeiro sinal de que eu estava acordando, uma pressão incômoda em cada músculo, como se tivesse sido atropelada por um furacão. Minha cabeça latejava, minha boca estava seca e pesada, e um zumbido irritante preenchia meus ouvidos.
Pisquei algumas vezes, tentando focar minha visão. A claridade me incomodava, mas, aos poucos, as formas começaram a se definir. Linhas brancas no teto. O cheiro forte de hospital. O som suave e constante de máquinas.
Onde eu estava?
Minha respiração ficou irregular quando tentei me lembrar do que aconteceu. Minha mente era um borrão confuso, como se pedaços de memória estivessem tentando se encaixar.
Aos poucos, comecei a distinguir rostos ao meu redor. Pessoas em branco, vozes murmuradas, equipamentos piscando. Mas foi ele que prendeu minha atenção.
Leonardo.
Ele estava sentado ao meu lado, seu corpo caído levemente para frente, como se a exaustão o estivesse consumindo. Sua barba estava crescida, o rosto abatido, as olheiras profundas como sombras permanentes sob seus olhos. Ele parecia… quebrado. Como se tivesse sido destroçado e colado de volta, mas ainda estivesse rachado.
Apertei os olhos, tentando juntar forças para falar, mas minha garganta estava arranhada, seca. Então, fiz o que pude.
Movi minha mão trêmula até encontrar a dele.
Leonardo congelou no mesmo instante. Seus olhos, que estavam baixos e sem vida, subiram lentamente até os meus. Por um segundo, ele pareceu não acreditar no que estava vendo. Mas então, seus dedos apertaram os meus com força, como se tivesse medo de que eu desaparecesse novamente.
"Amber," ele sussurrou, sua voz falhando completamente.
Seus olhos brilharam, e, sem hesitar, ele puxou minha mão até os lábios, beijando meus dedos com reverência, como se estivesse agradecendo aos céus por eu estar ali.
"Você voltou," sua voz estava embargada. "Você voltou pra mim."
Uma onda de alívio me atravessou, misturada com um amor intenso. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um instinto tomou conta de mim.
Minha outra mão deslizou automaticamente para minha barriga.
O toque em meu ventre vazio me fez congelar.
A dor da ausência se espalhou pelo meu corpo como fogo, queimando cada centímetro de mim.
Meu peito subiu e desceu rapidamente, minha respiração falhando. O pânico tomou conta do meu coração, e minha voz saiu num sussurro desesperado.
"As meninas…?"
Leonardo arregalou os olhos e, no mesmo instante, os monitores começaram a apitar, captando minha crescente agitação.
"Amber, calma!" Ele segurou meus ombros, seus olhos cheios de urgência. "Elas estão bem! Elas estão bem!"
Mas eu não conseguia respirar.
Eu me lembrava de tudo. Do veneno. Da luta. De Uria. De Martina. Da faca. Do líquido que queimou minha garganta. Do medo de não conseguir proteger minhas filhas.
"Onde elas estão?" Minha voz saiu rouca, assustada.
Enfermeiras agiram rapidamente, uma delas pegando minha mão enquanto outra verificava os equipamentos.
"Senhora Martinucci, você precisa se acalmar," uma delas disse suavemente. "Você acabou de sair da sedação. Seu corpo ainda está se ajustando."
Mas eu não conseguia me acalmar.
Leonardo segurou meu rosto com ambas as mãos, forçando-me a focar nele.
"Olha pra mim, amor." Sua voz era firme, mas cheia de ternura. "As meninas estão na UTI neonatal. Elas nasceram antes da hora, mas estão vivas. Estão lutando, igual você."
Minhas lágrimas caíram, quentes, escorrendo pelo meu rosto sem controle.
"Eu… eu quero ver…"
"Você vai vê-las," ele prometeu. "Mas agora você precisa descansar."

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