Heitor se levantou de sua cadeira como um furacão pegou o celular e a carteira e saiu da sala sem dizer mais uma palavra. O segurança da portaria mal conseguiu acompanhar sua pressa enquanto ele descia para o estacionamento.
Mas já era tarde.
Ao chegar na casa, soube pela empregada que as duas haviam saído às pressas. Laura havia passado mal, sofrido um sangramento, e Bianca a levara imediatamente para o hospital.
O chão pareceu sumir sob seus pés.
— Sangramento? — repetiu ele, atônito. — Ela... ela tá bem?
— Bianca disse que ligaria assim que tivesse notícias — respondeu a funcionária, tensa.
Mas isso não era suficiente para Heitor. Não podia esperar. Não depois do que tinha ouvido. Não com o medo e a culpa crescendo como um monstro em seu peito.
Entrou no carro como um louco e foi até o hospital mais próximo — o mesmo onde Laura havia feito o último ultrassom. Chegando lá, correu até a recepção, com o coração aos pulos.
— Laura... Laura Arantes ... grávida de quatro meses — disse ofegante.
— Ela deu entrada aqui hoje?
A recepcionista confirmou. Estava no setor de emergência obstétrica, em observação.
Heitor subiu as escadas quase tropeçando nos próprios pés, com o buquê de flores ainda intacto em uma das mãos — lírios e rosas brancas, as preferidas dela. Ele queria se redimir, queria pedir perdão, mesmo que não soubesse por onde começar.
Mas ao abrir a porta do quarto, a cena que viu o paralisou.
Fernando estava ali.
Sentado na beira da cama, inclinava-se sobre Laura com um olhar preocupado. Acariciava seus cabelos devagar, murmurando algo que Heitor não conseguiu ouvir. Laura estava de olhos fechados, com o semblante pálido, mas visivelmente mais tranquila sob o toque do outro homem.
Aquilo foi como um soco. Um tiro. Um pesadelo.
Heitor sentiu o ar escapar de seus pulmões, como se tivessem tirado dele o direito de respirar. Ele não soube dizer se foi o ciúmes, a culpa ou o orgulho ferido que o dominou naquele momento — talvez os três.
"Como Bianca consegue perdoar isso?", pensou amargamente. "Como pode olhar para esse homem depois do que ele fez?"Como pode olhar para Laura grávida do filho dele e aceitar toda aquela situação tão sordida.
Mas ele não. Ele não tinha sangue de barata. Não conseguiria fingir que nada daquilo o dilacerava por dentro.
Olhou para o buquê em suas mãos, tão bonito, tão delicado — assim como ela era, como deveria ter sido tratada o tempo todo — e sentiu nojo de si mesmo.
Sem dizer uma palavra, deu meia-volta, saiu do quarto e caminhou com passos firmes até o primeiro cesto de lixo no corredor. Parou por um instante. Olhou mais uma vez para as flores, como se pudesse se ver refletido nelas — um homem que quase se deixou enganar por uma mulher novamente.
E então, sem hesitar, jogou o buquê no lixo.
O barulho das flores caindo dentro da lixeira foi baixo. Mas dentro dele, soou como o fim.
Desceu as escadas com o peito em chamas e o coração esmagado, sem saber o que fazer, para onde ir, ou se ainda havia algo a ser salvo naquela história.
Uma coisa ele sabia ,nunca conseguiria viver com Laura , com uma criança , fruto de uma traição entre eles.
A porta da mansão se escancarou com violência. Heitor entrou feito um furacão, os olhos em chamas, o coração em frangalhos. Atirou as chaves sobre a mesa do hall com tanta força que um porta-retratos caiu e se espatifou no chão. Mas ele nem percebeu. Tudo o que sentia era raiva. Dor. E um gosto amargo de abandono.
Foi direto ao bar, como um condenado sedento. Serviu-se de um copo generoso de uísque e o virou em um único gole, como se esperasse que a bebida queimasse, junto com a garganta, o buraco aberto dentro do peito.
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