Bianca entrou no quarto com passos firmes e o coração latejando de frustração. Atirou as sacolas sobre a poltrona e sentou-se à beira da cama, tentando processar tudo o que acabara de ouvir.
“Será que Alice tinha razão?” — pensou, sentindo um nó apertar sua garganta. Por mais que soubesse que Fernando a amava, era impossível ignorar que ele ainda era um mistério em tantos aspectos. Havia buracos enormes na história dele, no passado que ele evitava tocar — e isso a corroía por dentro.
Lembrou-se de quando dona Célia comentou, com certo pesar, que Fernando tinha um irmão gêmeo — algo que ele nunca sequer mencionou. Um irmão que morreu em um acidente… e ele estava ao volante. Aquilo foi o estopim para o afastamento dele com o pai. Bianca engoliu em seco, sentindo-se novamente excluída da vida do homem com quem dividia a cama e o coração.
“Como posso confiar plenamente se ele não se abre comigo? Se nem sei quem ele foi antes de mim?”
Para afastar aqueles pensamentos sufocantes, levantou-se e começou a guardar os presentes que dona Célia insistira em lhe dar. Roupinhas lindas para Valentina, sapatinhos minúsculos, laços delicados. Só de tocar naquela pequena lembrança da filha, seu coração amoleceu.
Precisando de ar, foi até o quarto da bebê. Encontrou a babá ninando Valentina na poltrona de amamentação. Sorriu com ternura, pedindo para pegá-la no colo.
— Dá ela aqui pra mamãe um pouco — murmurou, com um sorriso cansado.
Valentina se aninhou em seus braços com um suspiro preguiçoso, e Bianca a apertou contra o peito, buscando no calor da filha uma âncora que a impedisse de afundar nas inseguranças. “Você é o meu maior motivo para continuar forte.”
Depois de dar a mamadeira, voltou ao quarto e passou o resto da tarde ali, evitando o almoço, assistindo qualquer coisa na TV, sem realmente prestar atenção. O tempo arrastou-se até a noite cair e o relógio marcar bem mais do que o razoável para alguém que prometeu voltar logo.
Quando Fernando chegou, passava das onze. Ela ouviu a porta se abrir no andar de baixo e o som de seus passos pela escada. Ele entrou no quarto, o olhar imediatamente indo para ela, que estava sentada com Valentina nos braços, agora já quase dormindo.
— Oi, amor… — disse ele, num tom de voz calmo demais.
— Me desculpa por chegar tão tarde. O dia foi mais cheio do que imaginei. Encontrei alguns amigos meus lá no estaleiro, acabamos saindo pra tomar um drink e… sabe como é, relembramos os velhos tempos e acabei perdendo a hora.
Bianca não respondeu. Apenas se levantou com a filha e a entregou à babá, que a levou de volta ao quarto infantil. Quando retornou, encontrou Fernando tirando o paletó e afrouxando a gravata. Ela foi até as portas de vidro que davam para a varanda e ficou ali, olhando a escuridão lá fora, tentando controlar a enxurrada de pensamentos.
Fernando se aproximou por trás, encostando a mão em sua cintura para tentar puxá-la para si.
Ela se afastou com um gesto seco.
— A quais "velhos tempos" você está se referindo, Fernando? Aos tempos em que você era conhecido como o playboy mais mulherengo do Rio?
Ele fechou os olhos por um segundo, respirando fundo.
— Claro… já entendi tudo , você e a Alice se encontraram e ela já começou a destilar seu veneno e você está dando ouvidos a ela.
— Não estou dando ouvidos a ninguém. Sua mãe confirmou, Fernando. Tentou amenizar a situação, mas acabou confirmando o que aquela oferecida falou.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Prazer sem limites: Sob o domínio do meu chefe.