Enquanto todos ainda tomavam café ,Alice estava deitada, agarrada ao travesseiro, os olhos inchados, recusando-se a abrir a porta para a mãe. Os chamados ficavam presos do lado de fora, junto com a culpa e o orgulho.
Bianca passou pelo corredor depois de deixar Valentina com a babá. Parou. Bateu de leve.
— Alice… posso entrar?
Bianca passou pelo corredor depois de deixar Valentina com a babá. Parou. Bateu de leve.
— Alice… posso entrar?
A porta abriu numa fresta. Por pura curiosidade — e para saber o que a esposa do seu primo, com quem ela dormira, queria dizer — Alice a deixou entrar. Bianca manteve distância respeitosa, o olhar firme.
— Eu tenho todos os motivos do mundo para te odiar — disse Bianca, sem rodeios.
— Você dormiu com o meu marido, o Fernando. Qualquer mulher no meu lugar te odiaria.
O queixo de Alice endureceu.
—Porque veio aqui me dizer algo que eu já sei ?Essa é a maneira que achou para bisbilhotar porque eu estava chorando ?Se fazer de minha amiga? Se acha que isso vai me fazer gostar de você ou pedir desculpas por ter ido pra cama com o seu marido, está enganada.
— Não quero que você goste de mim. E mesmo que pedisse desculpas, não apagam o que você fez. Quer dizer o que você e o Fernando fizeram .— Bianca manteve a voz serena.
— Mas eu também sei que a culpa não foi só sua. Se o Fernando tivesse respeitado o nosso casamento, nada disso teria acontecido.
Alice piscou, surpresa com a honestidade — ainda assim, o orgulho se mantinha.
— Acha mesmo que vou me abrir com você? Uma completa estranha?Só porque veio aqui dar uma de boa samaritana?
— No fundo, acho que sim , e não quero dar uma de boa Samaritana ..é que eu pude ver o seu olhar que esse tal Alex foi alguém importante na sua vida ...e que te magoou no passado ,eu já passei por isso e como mulher eu sei o quanto isso é ruim ,já passei pelo mesmo em minha vida .— respondeu Bianca, sem agressividade.
— Pelo tempo que convivo aqui ,sei que não tem amigas. E com a sua mãe, tenho certeza que não vão se sentir a vontade para conversar.
Alice respirou fundo, a armadura rachando.
— Odeio admitir… mas é verdade. Ela me chamaria de burra por ter dado minha virgindade a um canalha.
Bianca assentiu, suave.
— Percebi que bastou o Fernando falar falar do tal Alex pra você desmoronar. Isso não foi capricho. Ele foi mais que isso, não foi?
Alice mordeu o lábio, cedeu.
— Foi. O Alex é um homem lindo ,oito anos mais velho, sedutor. Na época, eu tinha um namorico com o Fernando, coisa de primos.
— Claro ,tudo que me disse ficará entre nós — garantiu Bianca.
— De agora em diante não seremos “melhores amigas”, mas podemos ter uma convivência respeitosa. Se precisar desabafar, eu estou aqui.
Alice esboçou um sorriso tímido, estendeu a mão.
— Obrigada.Você até que é muito legal ,agora entendo porque o Fernando te ama tanto.
Bianca apertou de leve, já a caminho da porta.
Quando já estava no quarto com a filha, Banca respirou fundo, ajeitando Valentina melhor nos braços. Era quase engraçado, se não fosse um tanto irônico . Ela, Bianca, que detestava Alice por ter ido para cama com Fernando , agora se via tomada por uma compaixão que jamais teria imaginado sentir. Talvez porque, no fundo, ela soubesse o que era ter o coração quebrado e agora ela achava que Alice era apenas uma jovem que aparentava ter apenas uns 22 anos , muito imatura e com uma mãe muito manipuladora que com certeza queria que ela casasse com Fernando por causa da fortuna da sua família .
Um sorriso breve e triste escapou de seus lábios.
— A vida é mesmo irônica, meu amor… — murmurou para Valentina, que mamava tranquila.
— Quem diria que um dia eu iria consolar justamente a mulher que esteve entre eu e seu papai .
Valentina, alheia ao peso das palavras da mãe, moveu as mãozinhas pequenas no ar, como se quisesse alcançar o rosto dela. Bianca beijou os dedinhos delicados e decidiu deixar aquele pensamento para depois. Era hora de aproveitar a filha, a única certeza boa que tinha em meio a tantas incertezas.

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