Walter observou por alguns instantes, como um predador paciente, antes de sair da sala, deixando-a finalmente sozinha.
Assim que a porta se fechou, Bianca soltou o ar que nem percebera estar prendendo. Passou a mão pelos cabelos, tentando organizar os próprios pensamentos.
“Ele pensa que vai me abalar. Pensa que vai me usar para atingir Fernando . Mas está enganado.”
Sentou-se na poltrona giratória e encarou a cidade pela janela. Apesar da ansiedade, sentiu uma onda de determinação tomar conta de si. Estaria atenta, cada minuto, cada palavra, cada gesto. Se Walter tentasse qualquer coisa contra Fernando, ela seria a primeira a impedir.
O barulho metálico dos guindastes no estaleiro ecoava pela manhã, misturado ao ronco dos motores e ao som seco de marteladas. O ambiente carregava consigo uma energia pesada, um reflexo fiel do humor de Fernando naquela terça-feira.
Desde cedo, ele já sentia o peso da irritação corroer cada nervo do corpo. Bianca. O nome dela martelava na sua mente como um prego sendo cravado. Ela tinha se decidido a ir contra sua vontade. Pior: estava agora, exatamente naquele momento, trabalhando para Walter Mendes, o homem que ele menos confiava na face da terra. A ideia de que Bianca poderia estar ao lado de um inimigo declarado feria mais do que qualquer golpe físico.
Fernando tentava se concentrar nos relatórios, mas a raiva lhe turvava a visão. As letras dançavam no papel, e a imagem de Bianca, desafiadora, invadia sua cabeça. "Teimosa… sempre teimosa", resmungou entre dentes, batendo a caneta contra a mesa com força.
E como se o dia já não estivesse ruim o suficiente, a porta do escritório foi aberta sem aviso. Paola entrou, o salto marcando o piso de madeira com uma cadência precisa, estudada. Ela trazia um sorriso enigmático nos lábios — daqueles que avisavam que notícia boa não vinha.
— Com licença, Fernando ... — anunciou, a voz melosa demais para sua função de simples secretária.
__ ....mas está aí um tal Rodrigo Santos e disse que quer falar com você.
Fernando levantou os olhos lentamente, e a expressão que tomou conta de seu rosto foi de puro desgosto. Rodrigo. O nome em si já era suficiente para fazer o sangue ferver.
— Só faltava isso para acabar de estragar meu dia . — respondeu, seco.
— Eu não tenho nada para falar com esse cara ,então deixa claro para ele que não tenho a menor intenção de recebe -lo.
Paola arqueou a sobrancelha, sustentando o olhar. Mas no fundo de seus olhos havia um brilho cúmplice, quase imperceptível, que denunciava a armação.
— Ele disse que é urgente. Que o assunto é… pessoal.
A curiosidade, por mais que não quisesse admitir, bateu forte. Fernando respirou fundo, coçou o maxilar e assentiu com a cabeça.
— Mande entrar. Mas que seja rápido.
Quando Rodrigo adentrou a sala, o clima mudou. Era como se uma sombra tivesse atravessado a porta junto com ele. Aquele ar pretensioso, o sorriso deslocado que não encontrava correspondência… tudo nele incomodava Fernando, desde a primeira vez que o viu.
— Fernando — cumprimentou, estendendo a mão.
Fernando a apertou com força, firme demais, deixando claro que cordialidade não existiria entre eles. Não retribuiu o sorriso.
— Sente-se. Seja breve. Tenho muito trabalho.
Rodrigo acomodou-se na cadeira diante da mesa. Respirou fundo, como quem se preparava para soltar uma bomba.
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