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Proibida para Mim: Apaixonado pela filha do meu amigo romance Capítulo 123

Aurora Rossi

O intervalo finalmente chegou.

A aula de História da Arte tinha sido mais longa do que o habitual — ou talvez fosse só minha ansiedade que deixava tudo mais lento. Entre uma explicação sobre Caravaggio e uma análise de sombras barrocas, minha mente vagava. Lorenzo. Sempre ele. Depois daquela noite em que tudo ficou em silêncio, eu não conseguia mais fingir que estava tudo bem. E agora, eu ia escrever. Só uma mensagem. Um oi. Um "como você está?", talvez.

Peguei o celular, sentada no pátio de pedra, com o sol filtrado pelas árvores, os colegas rindo ao longe. Tudo parecia leve ao redor. Menos dentro de mim. Havia saudades da semana passada, dos meus pais e dele. Lorenzo.

Mas bastou desbloquear a tela para a realidade me engolir.

Notificações.

Muitas.

I*******m, T*****r, até o W******p parecia ter explodido. Meus dedos deslizaram sozinhos, e então eu vi.

A foto.

Lorenzo. Camille.

Os dois no sofá dele, abraçados, como se o tempo nunca tivesse passado. Como se não houvesse ferida, distância, promessas quebradas. Como se fossem um casal em paz.

E a legenda, cravada como uma faca com veneno:

“Alguns retornos não precisam ser explicados.”

Meu corpo congelou. A boca secou. O celular escorregou um pouco entre meus dedos. Tentei piscar, afastar a imagem, convencer meu cérebro de que era montagem, engano, passado. Mas não havia dúvida. A imagem era clara. As poses. A intimidade. A iluminação. Nenhuma margem para interpretação.

As lágrimas começaram antes que eu pudesse me dar conta.

Não as chorei. Elas apenas… caíram. Sem som. Sem grito. Só dor.

— Aurora? — ouvi uma voz próxima, confusa, preocupada.

Era Pietro. Atrás dele, Susana já se aproximava, também preocupada.

— O que foi, está tudo bem? — ela perguntou, se ajoelhando ao meu lado. — Você tá branca…

Eu não consegui responder. Só mostrei o celular.

Eles viram. Susana praguejou baixinho. Pietro desviou o olhar.

— Eu mato esse desgraçado! — Pietro falou e Suzana olhou para ele seria.

— Vem — ela disse, pegando minha mochila, puxando meu braço com delicadeza. — Vamos sair daqui. Vem pra casa.

Nem tive forças pra argumentar. Deixei que me levassem. Passamos pelos corredores da faculdade como quem foge de um incêndio invisível. A dor era quente, viva, mas ninguém além deles podia ver.

Chegando no meu apartamento, larguei tudo no chão e me joguei no sofá como se o mundo tivesse desabado sobre minhas costas. As lágrimas agora vinham em ondas, pesadas, com soluços sufocados.

— Isso não faz sentido — murmurei, entre respirações falhas. — Ele não faria isso. Não assim… não depois de tudo. Depois... de ter falado com meus pais.

Susana sentou ao meu lado, me abraçando firme.

— Eu não sei o que aconteceu, Aurora. Mas seja o que for… você não precisa ver isso agora. Nem lhe dar com isso agora.

Ela pegou meu celular das minhas mãos, hesitou por um segundo.

— Eu acho melhor desligar isso. Pelo menos por hoje. Não adianta se machucar mais.

— Mas… — comecei, fraca.

— Não é desistir — ela me interrompeu, firme. — É se proteger. Você precisa respirar. Pensar com clareza. Você não é isso que tão tentando fazer parecer. E ele… — suspirou. — Ele vai ter que explicar. De um jeito ou de outro.

Fechei os olhos. O silêncio depois do choro era sempre estranho. Um eco de dor flutuando no vazio.

Lorenzo. A foto. Camille.

Como se eu nunca tivesse existido.

Mas eu existia.

E se ele achava que podia apagar isso com uma legenda ensaiada, então… talvez ele nunca tivesse me conhecido de verdade.

De pé na minha sala, com a mesma roupa amarrotada de alguém que não dorme há dias. Olhos fundos, o rosto abatido, a barba por fazer. Mas era ele. De verdade. Em carne, osso e seus olhos não traziam culpa, era como se ele realmente quisesse mostrar a verdade.

Pietro ainda o encarava como se estivesse a segundos de socar o rosto dele.

Lorenzo me viu e calou.

O tempo pareceu prender a respiração.

— O que você tá fazendo aqui? — perguntei, a voz mais firme do que imaginei ser capaz.

Ele respirou fundo. Avançou um passo, mas parou quando Pietro se moveu sutilmente.

— Eu vim te explicar. Pessoalmente. Porque nada do que aconteceu pode ser dito por mensagem. Porque aquela foto… não é o que parece.

Meus braços cruzaram-se sozinhos. Um mecanismo de defesa. Um escudo frágil.

— Então você atravessou o oceano pra me dizer que aquilo foi um mal-entendido?

— Não foi só isso, Aurora. Foi uma armação. Eu fui drogado. Manipulado. Aquela noite… eu não escolhi.

Um silêncio carregado caiu sobre a sala. Até Pietro pareceu perder as palavras. Pois havia verdade ali, mesmo assim ainda estava insegura.

— Você espera que eu acredite nisso? — perguntei, a voz falhando entre incredulidade e um resquício de esperança que me odiava por ainda existir.

— Eu não espero nada — ele disse, se aproximando mais um passo. — Só que me escute. Cinco minutos. Depois disso, eu vou embora.

Olhei para Susana, que me observava em silêncio, os olhos cheios de cuidado. Pietro se afastou, contrariado, mas não disse mais nada.

Cinco minutos.

Talvez fosse tudo o que eu precisava.

Ou tudo o que bastaria para me destruir de vez.

— Tudo bem, cinco minutos...

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