Aurora Rossi
O intervalo finalmente chegou.
A aula de História da Arte tinha sido mais longa do que o habitual — ou talvez fosse só minha ansiedade que deixava tudo mais lento. Entre uma explicação sobre Caravaggio e uma análise de sombras barrocas, minha mente vagava. Lorenzo. Sempre ele. Depois daquela noite em que tudo ficou em silêncio, eu não conseguia mais fingir que estava tudo bem. E agora, eu ia escrever. Só uma mensagem. Um oi. Um "como você está?", talvez.
Peguei o celular, sentada no pátio de pedra, com o sol filtrado pelas árvores, os colegas rindo ao longe. Tudo parecia leve ao redor. Menos dentro de mim. Havia saudades da semana passada, dos meus pais e dele. Lorenzo.
Mas bastou desbloquear a tela para a realidade me engolir.
Notificações.
Muitas.
I*******m, T*****r, até o W******p parecia ter explodido. Meus dedos deslizaram sozinhos, e então eu vi.
A foto.
Lorenzo. Camille.
Os dois no sofá dele, abraçados, como se o tempo nunca tivesse passado. Como se não houvesse ferida, distância, promessas quebradas. Como se fossem um casal em paz.
E a legenda, cravada como uma faca com veneno:
“Alguns retornos não precisam ser explicados.”
Meu corpo congelou. A boca secou. O celular escorregou um pouco entre meus dedos. Tentei piscar, afastar a imagem, convencer meu cérebro de que era montagem, engano, passado. Mas não havia dúvida. A imagem era clara. As poses. A intimidade. A iluminação. Nenhuma margem para interpretação.
As lágrimas começaram antes que eu pudesse me dar conta.
Não as chorei. Elas apenas… caíram. Sem som. Sem grito. Só dor.
— Aurora? — ouvi uma voz próxima, confusa, preocupada.
Era Pietro. Atrás dele, Susana já se aproximava, também preocupada.
— O que foi, está tudo bem? — ela perguntou, se ajoelhando ao meu lado. — Você tá branca…
Eu não consegui responder. Só mostrei o celular.
Eles viram. Susana praguejou baixinho. Pietro desviou o olhar.
— Eu mato esse desgraçado! — Pietro falou e Suzana olhou para ele seria.
— Vem — ela disse, pegando minha mochila, puxando meu braço com delicadeza. — Vamos sair daqui. Vem pra casa.
Nem tive forças pra argumentar. Deixei que me levassem. Passamos pelos corredores da faculdade como quem foge de um incêndio invisível. A dor era quente, viva, mas ninguém além deles podia ver.
Chegando no meu apartamento, larguei tudo no chão e me joguei no sofá como se o mundo tivesse desabado sobre minhas costas. As lágrimas agora vinham em ondas, pesadas, com soluços sufocados.
— Isso não faz sentido — murmurei, entre respirações falhas. — Ele não faria isso. Não assim… não depois de tudo. Depois... de ter falado com meus pais.
Susana sentou ao meu lado, me abraçando firme.
— Eu não sei o que aconteceu, Aurora. Mas seja o que for… você não precisa ver isso agora. Nem lhe dar com isso agora.
Ela pegou meu celular das minhas mãos, hesitou por um segundo.
— Eu acho melhor desligar isso. Pelo menos por hoje. Não adianta se machucar mais.
— Mas… — comecei, fraca.
— Não é desistir — ela me interrompeu, firme. — É se proteger. Você precisa respirar. Pensar com clareza. Você não é isso que tão tentando fazer parecer. E ele… — suspirou. — Ele vai ter que explicar. De um jeito ou de outro.
Fechei os olhos. O silêncio depois do choro era sempre estranho. Um eco de dor flutuando no vazio.
Lorenzo. A foto. Camille.
Como se eu nunca tivesse existido.
Mas eu existia.
E se ele achava que podia apagar isso com uma legenda ensaiada, então… talvez ele nunca tivesse me conhecido de verdade.
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