Lorenzo Bianchi
O céu de Nova Iorque parecia mais cinza do que eu lembrava. Ou talvez fosse só reflexo do que eu sentia por dentro. O vento cortava mais do que o necessário, e as luzes da cidade, que antes me encantavam, agora pareciam distantes. Frias.
Arrastei a mala pelo saguão do aeroporto com um peso que não vinha só das roupas ou livros que carregava. Era o peso das escolhas, das rupturas, dos recomeços.
Peguei um táxi para o apartamento, mesmo sabendo que não queria estar ali. Cada quarteirão que passava era uma lembrança do que fui. Do que tolerei. Do que deixei escapar por medo de mudar.
Subi os degraus do prédio antigo, tentando controlar a ansiedade que se agitava em mim. Eu sabia que aquele encontro seria inevitável. Mesmo assim, uma parte de mim torcia para que ela não estivesse. Que já tivesse ido. Que tivesse entendido, finalmente, que acabou.
Mas não.
Assim que a porta se abriu, Camille estava lá. Sentada no sofá, as pernas cruzadas com o mesmo cuidado ensaiado de sempre, como se fosse uma daquelas modelos parisienses que ela tanto admirava. Um copo de vinho tinto nas mãos, a música instrumental baixa preenchendo o ambiente, fingindo uma paz que não tem entre nós.
Ela me olhou com a mesma calma ensaiada que sempre usou para controlar o caos ao redor. Como se estivesse me esperando.
— Por que você ainda está aqui? — perguntei, deixando a chave cair na bancada da cozinha. A mala ficou onde parou, perto da porta. — Achei que já tivesse ido. Que já tivesse fechado o contrato e entregado a chave para o proprietário.
Ela sorriu, e aquele sorriso… sempre me incomodou. Bonito demais. Calculado demais.
— Não fechei o contrato porque sei que você vai mudar de ideia e voltar para mim. Sei que aquele termino na Toscana foi apenas você confuso, por reencontrar a garota que cresceu com você.
Senti uma onda quente subir pelas costas. Raiva? Frustração? Pena?
— Você está errada. — respondi, com a voz baixa, firme. — O que aconteceu entre nós, foi apenas uma aventura neste ultimo ano.
Ela deu um gole no vinho, cruzou os braços como se estivéssemos num jogo que ela ainda acreditava estar vencendo.
— Lorenzo… você está encantado. Essa garota, Aurora… é só uma fantasia que nasceu em meio ao caos da sua crise existencial. E agora você está aqui novamente, para mim.
— Não fale dela. — interrompi, mais alto do que queria. Meu peito ardia. — Você não tem ideia do que a Aurora é. E o que a gente viveu nunca foi uma fantasia. Com ela, eu fui real. Com você… — respirei fundo, procurando palavras — Com você, eu estava adormecido. Só percebi isso quando a reencontrei e ela me fez acordar. E vê nossa realidade.
Ela franziu o cenho, e pela primeira vez, vi uma rachadura. Um sinal de que não era invencível.
— Então é isso? Vai jogar fora tudo que construímos? — ela se levantou. Os saltos ecoaram pelo piso de madeira.
— Construímos? Camille, você sabe que isso aqui era uma fachada. Um teatro elegante, onde cada um representava o papel que esperavam de nós. Você queria um parceiro que fizesse sentido nas fotos de gala e nas campanhas sociais. Eu fui isso por um tempo. Até me lembrar que mereço algo verdadeiro.
Ela se aproximou. Os olhos mais escuros do que eu lembrava, agora cheios de algo que eu não sabia nomear.
— Você acha mesmo que vai encontrar algo mais verdadeiro do que isso no meio de cafés italianos e desenhos florais? Acorda Lorenzo, você é tão ganancioso quanto eu. Você gosta quando nossos corpos se conectam em uma noite fria, para esquentar nossa cama.
Sorri. Um sorriso cansado. Mas verdadeiro.
— Eu já encontrei. E mesmo que demore um ano, dois, ou mais… é por ela que eu quero lutar. E nós... Nós, fomos bons até certo tempo, mas eramos apenas isso, corpos vazios em busca de sexo.
O silêncio caiu entre nós como um peso. Ela desviou o olhar, e por um breve instante, foi como se algo dentro dela tivesse finalmente entendido. Ou desistido.
— Vai dormir aqui hoje? — perguntou, num último esforço para manter alguma conexão.
— Não. Só vim pegar minhas coisas. Amanhã, entrego as chaves.
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