Quatro anos haviam se passado desde o casamento na fazenda de Dona Flora, mas para Isabella e Lorenzo, o tempo parecia não ter apagado nada. Ao contrário: os sentimentos estavam mais profundos, mais maduros, mais intensos. O que um dia foi desejo e descoberta, hoje era raiz, casa e porto seguro.
Era fim de tarde, e o céu estava pintado em tons de dourado, carmim e lilás e servia como moldura para a cena que se desenrolava nos vastos jardins da nova fazenda, aquela que Lorenzo havia comprado logo após o batizado de Benjamin. Ali, cada canto havia sido pensado para ser um lar, um refúgio para manter todos por perto, onde os risos das crianças se misturavam ao canto dos pássaros e à brisa suave que atravessava os campos.
Aurora, agora com onze anos, corria descalça pelo gramado. Seus cabelos loiros esvoaçavam ao vento enquanto gargalhava com alegria. Logo atrás, o pequeno Benjamin, com agora quatro anos, fazia o máximo para alcançar a irmã, mas suas perninhas curtas e desengonçadas o traíam. Seus cabelos loiros ondulados, iguais aos do pai, balançavam com cada passo, e seus olhinhos verdes, espelhos perfeitos dos de Isabella, brilhavam de diversão. Ao lado deles, Biscoito, o cachorro da família, latia animado, acompanhando a brincadeira.
No alpendre, Giulia, com a barriga já saliente, caminhava devagar, de mãos dadas com Theo. O casal esperava o primeiro filho, que se chamaria Vincenzo, em homenagem ao pai de Giulia. A casa deles ficava a poucos minutos dali, o que tornava a rotina mais leve e cheia de encontros espontâneos. Desde que Lorenzo se afastou da gestão direta da empresa, Theo e Marco assumiram a administração, permitindo que o CEO desfrutasse da vida que sempre sonhou: tempo com a família.
Beatriz estava sentada na varanda ao lado de Antonella e conversava animadamente enquanto acariciava a mão do marido. Stefano e ela, haviam se casado pouco depois que Lorenzo tinha comprado a fazenda, e Lorenzo ajudou o amigo a abrir o consultório comunitário para a alegria de todos que moravam pelas redondezas Beatriz estava animada e planejava até o final do ano, aumentar a família, para alegria de Dona Flora que não via a hora de bordar mais um enxoval para um bisneto. Os olhos de Bia brilhavam quando falava de filhos, e seu riso leve denunciava o quanto estava feliz.
Mais adiante, Dona Flora e Maria trocavam risadas cúmplices. As duas, junto de Antonella, haviam se tornado inseparáveis: dividiam receitas, histórias e até disputavam quem ganhava mais rodadas de bingo aos domingos. Como sempre, Dona Flora estava por dentro de tudo. Naquela semana, havia confidenciado a Isabella que um fazendeiro local estava interessado em Antonella. Quando Lorenzo soube, quase teve um colapso. Só não atravessou os campos para tirar satisfações porque Isabella o convenceu de que a mãe tinha direito de ser feliz, embora ele tivesse deixado claro que queria “conhecer o sujeito” pessoalmente antes de qualquer passo.
O sol se escondia devagar atrás das colinas, espalhando uma luz quente e dourada pelo campo. No alpendre, a família se reunia. Crianças corriam pelo jardim, o cheiro de pão de queijo fresco escapava da cozinha, e conversas se misturavam em meio a risadas.
Lorenzo, sentado na poltrona de madeira com um copo de vinho, observava tudo. O peito se enchia ao ver cada detalhe daquela vida. Isabella aproximou-se com uma taça de suco, com os cabelos soltos refletindo os últimos raios do sol, e encostou-se na varanda, com o olhar perdido no horizonte.
Ele envolveu a cintura dela com o braço, trazendo-a para perto. O toque era simples, mas cheio de significados. Isabella fechou os olhos por um instante e as memórias a alcançaram. Lembrou-se do dia em que entrou pela primeira vez na mansão dele, de paredes frias, silenciosas e um homem marcado pela dor e solidão. Agora, olhava para aquele mesmo homem e o via pleno, rodeado de amor, risos e vida.
— Quando lembro das coisas que falei… e das que fiz naquela época… — murmurou Lorenzo, com um sorriso arrependido. — Tenho vontade de bater em mim mesmo.
Isabella riu baixinho e virou-se para olhá-lo.
— Eu sabia que conseguiria entrar no seu coração… — disse, com suavidade. — Desde o primeiro instante, eu sentia isso.
Lorenzo apertou-a mais contra o peito.
— Quando te vi pela primeira vez… — confessou, com a voz rouca — soube que estava prestes a quebrar minha promessa.
— Que promessa? — perguntou ela, com um sorriso curioso.
— A promessa de nunca mais amar. — ele respirou fundo, fitando o entardecer. — Mas você… você era meu destino, Isa. Sempre foi.
Os olhos de Isabella marejaram. Ela tocou o rosto dele com carinho, os dedos deslizando suavemente pela barba cerrada.
— Eu sei… — murmurou. — E tenho certeza que a Letícia sempre torceu por nós dois.
O nome da ex -mulher trouxe um silêncio cheio de saudade. Isabella lembrou-se do sonho que tivera com Letícia anos antes, o sorriso doce e sereno dela, e sentiu o coração aquecer.
Mas, dessa vez, Isabella segurava outro segredo. Um que não poderia mais guardar. Ela respirou fundo, passou a mão pela barriga de forma quase inconsciente e disse com a voz trêmula, mas carregada de emoção:
— Lorenzo… preciso te contar uma coisa.
Ele virou o rosto imediatamente, a encarando com os olhos azuis.
— O que foi, principessa? — perguntou, com um leve franzir de sobrancelhas.

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