O clima estava ficando perigoso demais para Isabella. A cada risada de Beatriz e a cada olhar malicioso de Giulia, ela sentia o rubor subir pelas bochechas, denunciando seus pensamentos. Giulia, percebendo a tensão no ar e desejando poupar a cunhada de desmaiar de vergonha, decidiu mudar de assunto de repente.
Ela pigarreou, ajeitou uma mecha rebelde atrás da orelha e lançou um sorriso doce, como quem anuncia uma virada inesperada de conversa:
— Mas olha… falando sério agora — começou, com uma voz mais serena. — Vocês já pensaram no batizado do Benjamin? Eu estava aqui imaginando… acho que seria lindo se fosse aqui na fazenda, na igrejinha da família.
As palavras dela soaram como música para os ouvidos de Isabella. O coração da jovem mãe se aquietou de imediato. Só a imagem mental da igrejinha, com seus bancos de madeira polida e vitrais coloridos refletindo a luz da manhã, já lhe trazia uma paz suave.
Beatriz, que ainda lambia os dedos melados de bolo de fubá, arregalou os olhos, animada como sempre.
— Ai, pelo amor de Deus, sim! — exclamou, batendo palmas tão forte que Aurora, à distância, virou a cabeça para ver o que era. — Deixa que eu organizo tudo! Eu já tô até vendo: flores brancas, fitas azuis, vestidos claros, todo mundo de roupa leve… Vai ser um espetáculo!
Isabella não resistiu e sorriu. A ideia de ver Benjamin com uma roupinha clara, Aurora correndo pelo jardim de mãos dadas com as crianças da vizinhança, a família reunida em torno deles… Aquilo a emocionava de tal forma que seus olhos chegaram a brilhar.
Enquanto sonhava acordada, uma correria alegre se aproximou. Aurora surgiu de repente, completamente molhada, o chapéu pendendo de lado na cabeça pequena e os cabelos grudados na testa. Correu até a mãe e praticamente se atirou em seus braços, como se não houvesse força no mundo capaz de segurá-la.
— Mamãe! — gritou, com a voz cheia de empolgação, enquanto sua risada cristalina enchia o ar. — O Benjamin é um peixinho igual a mim! Ele não parava de bater as perninhas dentro da água!
O coração de Isabella se derreteu no mesmo instante. Um sorriso doce surgiu em seus lábios enquanto abraçava a filha com força, enchendo-lhe o rosto de beijos barulhentos até Aurora se contorcer em meio a gargalhadas gostosas.
Com um gesto cheio de carinho, Isabella pegou uma toalha macia que estava dobrada ao lado e envolveu o corpinho molhado da menina. Começou a enxugá-la com cuidado, passando o tecido delicadamente pelos ombros, braços e pernas da filha, enquanto Aurora ainda ria entre um beijo e outro.
— Pronto, meu amor… não podemos deixar essa sereinha pegar frio, não é? — murmurou, depositando mais um beijo estalado na bochecha rosada da pequena.
Aurora, ainda animada, apoiou o rosto no ombro da mãe, com os olhinhos brilhando de felicidade, enquanto Isabella continuava a secá-la com todo o cuidado do mundo, como se aquele momento fosse um pequeno tesouro que ela queria guardar para sempre.
— Pronto tá sequinha, agora vai comer um pedaço de bolo com a tia Bia.
A garotinha sentou-se ao lado da tia, com os olhos brilhando de alegria, e devorou o doce com as mãozinhas cheias de farelo.
Enquanto isso, Isabella levantou o olhar. Do outro lado, junto ao riacho, Stephano segurava Benjamin com um cuidado comovente. O médico parecia ter nascido para embalar crianças: sustentava o bebê como se fosse um cristal, mostrando-lhe a água clara que escorria entre seus dedos. Benjamin esticava as mãozinhas gorduchas, encantado, balbuciando sons que se perdiam no som da correnteza.
Era uma cena de paz. Mas bastou Isabella desviar um pouco o olhar… e sua tranquilidade se dissolveu.
Lorenzo emergia da água.
Ele caminhava devagar, cada passo revelando o corpo forte que a água moldava com precisão. As gotas escorriam por seus ombros largos, descendo pelo abdômen firme até desaparecerem no calção de banho escuro. O sol do entardecer dourava cada linha, cada contorno. Quando ele passou a mão pelos cabelos molhados, jogando-os para trás, Isabella sentiu como se o tempo tivesse parado.
O ar pareceu rarefeito. Um suspiro escapou-lhe dos lábios sem que ela se desse conta.
Aurora, feliz demais com o bolo, nem percebeu. Mas Giulia notou cada detalhe. Notou o olhar vidrado da cunhada, notou o rubor que tingia-lhe o rosto, notou o suspiro disfarçado. E, claro, não perderia a chance de cutucá-la. Aproximou-se, inclinou-se bem perto de Isabella e murmurou, em tom conspiratório:
— Pelo visto… logo, logo, o Benjamin e a Aurora vão ganhar outro irmãozinho, hein?
Isabella arregalou os olhos e sentiu o calor lhe subir ate as orelhas.
— Giulia! — murmurou em protesto, quase engasgando com o próprio ar.
Mas a cunhada não resistiu e explodiu em gargalhada, tão alta que até Beatriz, do outro lado, começou a rir sem nem saber o motivo. Isabella tentou disfarçar abanando o rosto, mas era inútil: o rubor era evidente demais.

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